quarta-feira, 30 de junho de 2010

UMA QUESTÃO ECOLÓGICA E HUMANA...

Em qualquer cantinho de jornais, revistas, panfletos, pacotes de salsichas, pacotinhos de preservativos e outras refinadas embalagens, encontramos um alerta: "este produto preserva o meio-ambiente. Ajude-nos a conservá-lo!" Mas parece que virou coisa de cinema, quero dizer, a gente vê, talvez alguns se divirtam e outros fiquem sérios, e outros ainda, nem se dão ao trabalho de ler, ou melhor de ver...
E o planetinha vai girando, girando, girando... Até quando? Não sei... resta saber quantos de nós, humanos, sobraremos para contar o que aconteceu. Mas todos nós somos a favor de uma economia "limpa". Discursamos, gritamos, tomamos partido, mas continuamos a nossa vidinha de barata, confiantes de que também seremos os remanescentes de um mundo em chamas, sim, porque pouco ou nada fazemos: continuamos a consumir plásticos, combustíveis poluentes, destruindo o meio-ambiente, mas vejam bem: tudo com muito elegância, com muita discrição.

Dizem, ainda não me interei dos fatos, que as baratas, elegantemente chamadas de 'periplanetas', são os mais antigos habitantes do nosso planetinha. Ela e os abestos.
Não vou garantir que seja verdade, embora as baratinhas tenham a maior intimidade com a gente, e vivam buscando sempre o nosso lar, como velhas amigas. Quando encontramos uma, podemos perceber que elas ficam nos olhando, balaçando aquelas anteninhas de rádio, como se estivessem nos cumprimentando: bom dia! Volta e meia, apesar do tóxico que inalamos junto com elas, quando dedetizamos nosso sacrossanto lar, nos deparamos ainda com elas, e cada dia surgem mais resistentes, e até vejo alguma felicidade nos seus olhinhos...
Como os escorpiões, somos os seus maiores inimigos, embora elas continuem pensando o contrário. Enfim, como as periplanetas, também cometemos os nossos equívocos... Ah! Sim! Quantos de nós sobraremos? Nós e as baratinhas? Creio, pela lei das conseqüências, que os que por aqui restarem, sequer terão a memória do acontecido. É bom, porque não escreverão uma história, contando que os responsáveis foram os extraterrestres...

M. AMERICO

COPA 2010 AFRICA DO SUL

Perdoem o mau gosto, mas não posso deixar calar o grito que urra no meu peito. Tempos de Copa! Tempos de África e de seus estádios magníficos! Quantos milhões de dólares? Não faço a menor idéia! A bola rola nos gramados verdes; as vuvuzelas gritam, as torcidas berram, as imagens coloridas e carnavalescas enfeitam as arquibancadas. O mundo ficou menor, encolheu, ficou do tamanho de um estádio de futebol.
No momento em que assisto aos jogos, penso na miséria dos desvalidos, morrendo de fome: homens, mulheres, jovens, crianças... Esqueléticos em que a pele mal cobre os ossos. Olhos enormes na face que desenha o contorno do crânio, a cavidade ocular, o malar... Olhoa enormes e assustados.
A jabulani bate dum lado e do outro. Mas um lado sombrio está imóvel, magro, sem cores, quase morto, não fosse um leve sopro de vida.

A bola rola, mas há um lado, que fica fora dos verdes gramados, que está imóvel.

A jabulani, que em IsiZulu significa celebrar, celebração, voa sobre os verdes gramados, mas não há celebração na aridez de uma terra ressequida. Há fome, há miséria, há sofrimento. Na verdade, há tortura.

Mas o que se pode fazer com esses Países, que promovem um verdadeiro e gigantesco espetáculo, onde a fartura e a abundância de recursos não faltam para que o show continue, anunciando - será ironia? "África hope".

Eles não querem comprar uma "consciência", eles não aceitam servir-se de um pouco de "humanidade", no grandioso banquete em que celebram a riqueza!

O mundo real não cabe no espetáculo circense!
O mundo circense é um mundo de festas, um mundo multicolorido, um mundo de trombetas! A zoeira e a fantasia compõe a multidão. Lá fora, o silêncio da fome, da peste, da morte, do agouro. Na arquibancada as bandeiras nacionais se agitam, irmanadas na conquista de um troféu.

Da minha janela, assisto o desfile de automóveis, movendo-se no trânsito, carregando, todos eles a bandeira do Brasil. A "pátria de chuteiras" esqueceu as enchentes do Nordeste, esparramando a miséria. As vuvuzelas falaram mais alto, e sufocaram a dor e o desamparo de milhares de pessoas desabrigadas e mais pobres. Nesse momento, a pátria está unida em torno da Copa. Viva a Copa 2010!!!

Viva a "pátria de chuteiras"!!! Viva eu, viva tu, viva o rabo do tatu!!!
Depois da Copa... Bem, depois a mesmice e novas ilusões... Vamos discutir o desempenho da seleção, os jogos, os gols, o mal-humor do Dunga... Vamos traçar teorias, afinal o Brasil tem milhões de técnicos, vamos nos preparar para os próximos 4 anos. Mas tudo numa boa, com uma cerveja gelada, tira-gostos... E começamos uma nova vida, e como não temos a Copa, voltados para o Brasileirão, para as eleições, para as enchentes, para o novo modelo de automóvel etc... Envolvidos que estamos com as nossas próprias misérias.

M. AMERICO

domingo, 27 de junho de 2010

JOSÉ SARAMAGO

NA ILHA POR VEZES HABITADA

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,

 manhãs e madrugadas em que não precisamos de


morrer.


Então sabemos tudo do que foi e será.


O mundo aparece explicado definitivamente e entra


em nós uma grande serenidade, e dizem-se as


palavras que a significam.


Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas


mãos.


Com doçura.


Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a


vontade e os limites.


Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o


sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do


mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos


ossos dela.


Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres


como a água, a pedra e a raiz.


Cada um de nós é por enquanto a vida.


Isso nos baste.


Não me Peçam Razões...
Não me peçam razões, que não as tenho,

Ou darei quantas queiram: bem sabemos

Que razões são palavras, todas nascem

Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda

A força de maré que me enche o peito,

Este estar mal no mundo e nesta lei:

Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,

Deste modo de amar e destruir:

Quando a noite é de mais é que amanhece

A cor de primavera que há-de vir.

postado por m. americo

A MAIORIDADE PENAL E A VIOLÊNCIA DO MENOR


É voz corrente a discussão sobre o problema da redução da maioridade penal. Projetos no Congresso, polêmica nos transportes coletivos, nos bares e botecos da vida. Alarmados com a violência e a criminalidade de menores, a sociedade recorre ao que lhe parece mais coerente: a punição do menor.

Mas quem é o menor no mundo do crime?

Ando por uma Avenida do Rio de Janeiro. Sábado, quase 5 horas da tarde. Ainda faz um calor já quase suportável. Sob uma marquise, em frente a calçada de uma loja comercial, uma criança, idade por volta de 13 ou 14 anos, deitada em cima de uma folha de papelão. Sujo, maltrapilho, solitário no seu sono público, nada o incomoda. Mas o que mais poderia incomodá-lo? As pessoas passam, ignorando aquela criança jogada na calçada. Alguns reclamam de atrapalhar o trânsito dos pedestres; outros olham com certo receio. Ouço alguém comentar: deve estar drogado... A maioria ignora. Paro e observo a reação dos passantes. Uma senhora de idade avançada, tem o olhar de compaixão. Para diante dele por momentos. Deixa passar um sentimento de tristeza, nos seus olhos cansados. Retoma o seu caminho. Sigo-a com o olhar, enquanto se move lentamente, até perder-se na multidão.

Mas quem é o menor no mundo do crime?

Restaurante universitário. Colegas de turma conversando. Um deles diz, referindo-se a algum crime recente: “não importa quantos anos tenha! É criminoso e como tal, deve ser punido!”. "Puni-lo? Isso significa jogá-lo numa cela, onde irá aperfeiçoar-se e associar-se a quadrilhas? Esse negócio  é que significa “punição legal”? Alguém do grupo replica: “Se o sistema penitenciário não oferece as condições ideais para o menor criminoso, já estamos em outra esfera...” Da ponta da mesa, uma acadêmica fala: “E a escola não seria uma forma melhor de recuperá-lo, se o Estado e a Sociedade tivessem verdadeira intenção de discutir melhor o assunto? Investir em educação, não seria um caminho melhor e mais condizente com os direitos humanos da criança, do que discutir projetos de redução da maioridade penal?” Sigo em frente, imaginando como é grande a sensibilidade de um coração feminino.

Da janela do carro, somente consigo enxergar as pequeninas mãos, segurando uma caixa de balas, no meio do trânsito. Miúda, seu rosto não alcança o vidro do carro. Não vejo suas feições, não posso adivinhar sua idade, mas imagino que sua pequena e incipiente vida tem a dramática e gigantesca dimensão da miséria. Abre o sinal. Sigo em frente e olho pelo retrovisor. Lá está ela driblando os carros que ignoram aquela pequena vendedora ambulante, quase perdida no asfalto.

Mas quem é o menor no mundo do crime?

Há milhões de jovens sem trabalho, sem vida social decente, sem escola. Nessa multidão, milhares de crianças de rua abandonadas, e outras tantas viciadas, prostituídas, envolvidas com o tráfico, com a contravenção, com o crime. Como responder a uma urgência dessa ordem? Como recolocar a criança como uma esperança de futuro e não um problema criminal? Por que não discutir projetos educacionais includentes da infância marginalizada, maiores investimentos em escolas, em oficinas pedagógicas? Por que não discutir projetos para a maioridade educacional, com formação geral e profissional, projetos de vida e ambientação cultural, música, esportes e tantas outras possibilidades educacionais, através de aldeias pedagógicas? É preciso olhar cada criança como a responsabilidade de cada cidadão que vira o rosto, e apenas procura proteger-se atrás de projetos estúpidos, quando deveriam propor modelos de proteção às crianças abandonadas.

Mas quem é o menor no mundo do crime?

Hoje a maioridade penal se dá quando a pessoa completa 18 anos, já que o critério adotado foi o critério etário, que estabelece uma idade definida como a fronteira que divide a compreensão dos atos e fatos sociais, podendo ser responsabilizado por eles. Antes desse marco, não é capaz de entender a sua conduta, para assumir a responsabilidade dos seus atos.

Na verdade, trata-se de uma ficção. Convencionou-se que exatamente à zero hora do dia anterior ao seu aniversário, quando a pessoa completa 18 anos, magicamente aquele indivíduo passa a compreender tudo o que faz, ao contrário do minuto anterior, quando ainda não havia completado a maioridade, não compreendendo os fatos de uma realidade social. Uma ficção jurídica, que já não atende a modernidade.

Suponhamos que a maioridade penal fosse rebaixada para 16 anos, asseverando-se que um jovem de 16 anos e um dia, que mata, deveria ser tratado como se adulto fosse, isto é, tratando-o como maior para efeitos penais, e tal se daria com o rebaixamento da maioridade penal brasileira.

Esse raciocínio releva o mesmo equívoco anterior, pois magicamente o jovem com 15 anos e a um dia de completar 16, não entenderia sua conduta; mas um dia depois, ao completar 16 anos, passaria a compreender o caráter criminoso de sua ação.

Alguns países encontraram um critério talvez mais justo e adequado, ao propor a verificação, caso a caso. Ao apurar se a criatura, ao cometer um delito, poderia entender o caráter criminoso do ato praticado, através da aplicação de critérios metodológicos interdisciplinares, envolvendo exames psicológicos, psiquiátricos, sociológicos e jurídicos. Tais países determinaram uma idade mínima, bastante baixa, por exemplo, 12 anos e a partir desse patamar, atribuir-se-ia responsabilidade penal, desde que o indivíduo entendesse o feito, submetido que seria a verificação realizada naquele exame. Trata-se do critério bio-etário ou bio-psicológico.

Um país continental como o nosso, não poderá fixar uma idade cronológica para todas as suas Regiões, considerando-se as diferenças sócio-econômicas reinantes. Um jovem de 15 anos de idade, de um grande centro urbano, sujeito a todos os apelos de escolarização, informação e tecnologia, não pode ser comparado a outro de 15 anos, nascido e criado em ambientes desprovidos de qualquer recurso cultural, que não tem acesso a qualquer meio de escolarização e informação; digamos para exemplificar, plantando milho e capinando do nascer ao por do sol. Qualquer legislação que os iguale pelo critério de maioridade cronológica, seria absurda e injusta, além de ignorar as discrepâncias culturais.

Assim, retomo o critério de que se discutam projetos de natureza cultural e educacional; que se discutam projetos econômicos voltados para a educação e a todos os aspectos que gravitam em torno da pobreza. Que se tenha mais respeito pela cidadania da criança e do jovem.

M. AMERICO

quinta-feira, 24 de junho de 2010

COPA 2010 BRASIUUUUUUUUUUUUULLLL...

O mundo parou. Uma bola imobilizou pessoas, paralisou todas as ações que não sejam aquelas que fazem rolar uma bola. A Jabulani ganhou a coroa de Miss Universo. E gerou polêmica: por que a Adidas e não a Nike? Sob forte crítica dos jogadores da seleção brasileira, que qualificaram a Jabulani como muito ruim, como “bola de mercado”, ainda mal rolada nos gramados dos estádios. E veio a desconfiança de que as críticas, originavam-se dos patrocinados pela Nike. Mas tudo bem... Os jogos sucedem-se com vitórias e derrotas. Os hinos nacionais enchem os estádios da África do Sul e a ovação das torcidas do mundo inteiro, casadas com a novidade das vuvuzelas lotando as arquibancadas dos estádios, lembra a arena romana, onde vida e morte ficam suspensas nos fios do destino. É o futebol arrebatando as almas e transformando-se na própria pátria, como se fosse uma guerra, onde o gol elege o herói do momento, o conquistador, o grande centurião. Lembro-me da famosa frase de Nelson Rodrigues, quando disse que “o futebol é a pátria de chuteiras”. Mas os tempos são outros. O futebol, quando ainda era apenas um esporte a mais entre os esportes,e engatinhava nos corações dos torcedores, guardava uma aura de paixão. Mas uma paixão romântica, não a paixão das violentas torcidas organizadas, em que pesa menos o orgulho da conquista de um título, do que a intolerância com a vitória do clube adversário.

Nos tempos ditos modernos, o futebol ganhou o ‘status’ de empresa. Hoje é o futebol-empresa. Há toda uma mídia a serviço da criação de mitos. Dela depende a ascensão ou a queda de um jogador, de um técnico, de um preparador físico; fabricam-se ídolos e preços; valoriza-se a venda de alguns jogadores, valores astronômicos que os Clubes embolsam, repassando parte da fortuna aos heróis do momento. Mitos forjados, muitas vezes de modo artificial, uma espécie de bolsa de valores, que beneficia os chamados Cartolas. Alguns escândalos já ganharam as páginas esportivas de jornais.

Hoje há uma verdadeira diáspora de jogadores. Quando vemos a formação de uma Seleção, poucos são os jogadores que atuam no Brasil: fulano, no Barcelona, beltrano no Manchester, sicrano sei lá onde... Muitos senão quase todos, talvez discordem do que escrevo. Mas o endeusamento excessivo que assisto no meu país, o estrelismo dos ‘craques’, faz com que enxergue o futebol como um grande negócio, não mais como uma apaixonante disputa, em que o esforço sobre-humano, a habilidade, a destreza e o controle de uma bola, servem a glória de um Clube ou de um país. Essa dança ‘garrinchiana’ que projeta o corpo do atleta num verdadeiro balé mágico, um fantástico movimento operístico de onze atores brincando no gramado verde de um estádio, pelo simples prazer de fazer rolar a ‘criança’, já desapareceu. Coisas de antanho.

O que lamento, é que o encantamento e a magia, tenham se transformado numa grande feira em que se negocia e se descaracteriza o amor a uma camisa, seja de um time, seja de uma seleção. O desempenho fica a reboque de que os olheiros internacionais possam fazer ofertas mirabolantes ao Clube, pelo passe de um jogador. O que se fala ao pé do ouvido, no processo seletivo daqueles que vão compor a gloriosa seleção, é que há toda uma negociação atrás dos palcos, para que tal jogador participe e possa, a partir do momento em que integrou a seleção, ganhar imediatamente um valor muito acima do que realmente receberia, integrando um Clube. Evidente que não se aplica a todos os jogadores, o que seria absurdo. Mas se inclui um ou outro, parte de uma negociação em que todos ganham... Perde apenas o futebol. Ganham os Cartolas.

M. AMERICO

sábado, 5 de junho de 2010

A IGREJA MARADONIANA

Não se tem o direito de ignorar o quanto vale a cidadania em países latino-americanos. Também não podemos ignorar a necessidade catártica de um povo oprimido. E a opressão pode vir de diferentes modos, como a fome, por exemplo, ou a doença, o desemprego, a miserabilidade de comunidades abandonadas à própria sorte... A opressão pode chegar da brutalidade de regimes autoritários, de que a nossa história tem um farto repertório. Não saberia escolher que modelo opressivo seria pior. Ditaduras? Fome? Miséria absoluta? Confesso que é muito difícil, para mim, apontar qual dos males seria o pior. Cada um traz a morte anunciada, a violação dos direitos humanos, a castração da palavra política, o assassinato da cidadania.
Nesses momentos de dor e violação, o povo sempre encontra a porta de emergência, por onde escapar, tanto quanto possível, ileso, buscando subtrair-se da dor.
O que teria começado como uma brincadeira despretensiosa, acabou por tornar-se uma coisa séria.
Em 1998, fundou-se a IGREJA dedicada aos deus, com o número 10 no meio, MARADONA. A paixão pelo jogador argentino transformou-se em RELIGIÃO com mais de 100 mil adeptos em todo o mundo.
Poderá parecer estranho a muitos, ou exótico, uma iniciativa tão estrambótica. Mas há uma explicação, diria mesmo histórica, para esse acontecimento.
Maradona está no centro de um momento emocional do argentino, a um período de felicidade, depois de um sofrimento brutal causado pela crueldade de uma Ditadura, que assassinou a cidadania, que violou de todas as formas os direitos humanos, que esmagou a voz de um povo com a tortura e o sequestro.
Maradona transformou o futebol, que é um esporte coletivo, além de uma paixão nacional, em um ato individual, um ato 'salvacionista'. Como fênix, ele fez renascer no povo um estado de graça, "fez ressurgir a esperança nos corações argentinos, com o seu brilhante gol de mão (La mano de Dios ou D 10 S) diante da Inglaterra, na Copa do Mundo de 1986" - disse Herman Amez, um dos fundadores da Igreja Maradoniana.
Os seguidores dessa igreja, dessa nova religião, encontram-se duas vezes por ano em Buenos Aires.
A primeira reunião é na Páscoa, festejada em 22 de junho, dia da vitória de 2 a 1  contra os ingleses, na Copa de 86. O segundo encontro é no dia do aniversário de Dios, quero dizer de Diego Maradona. em 30 de outubro, quando celebram o NATAL.
Seria um fato bizarro, e verdadeiramente não deixa de sê-lo, uma igreja fundada para a deificação de um jogador de futebol. Mas colocadas as coisas numa perspectiva meramente humana, percebemos que há algo mais sério, além de uma simples bizarrice: a catarse de um povo, para calar o sofrimento padecido na cruz de uma ditadura.
Como dizia o poeta, e sempre que me defronto com acontecimentos que escapam ao senso comum, "há mais coisas entre o céu e a terra, do que sonha a nossa vã filosofia."

M. AMERICO

quarta-feira, 12 de maio de 2010

NO TEMPO DOS ALMANAQUES...

Barão de Itararé, de batismo Fernando Apparicio Brinkerhoff Torelly, nascido em 1895 numa carroça com a roda quebrada, numa viagem entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai. Com apenas dois anos, perdeu a mãe. O pai, sem condições para cuidar do filho, mandou-o para a fazenda do avô, de onde saiu já com sete anos, para morar com o pai, "mais louco do que eu", costumava afirmar. Um tio o internou num colégio de jesuítas alemães, em São Leopoldo, isso nos idos de 1905. Saiu em 1911.
Lá fez o seu primeiro jornal escrito a mão, que denominou O Capim Seco. Escrito à mão. Tiragem: um exemplar. Rapidamente saiu de circulação, por 'gozar' o padre reitor numa charge.
Sua verve era o humor, e dali para a frente, cresceu o seu espírito crítico e gozador.
Estudou Medicina, desistindo do Direito, aconselhado pelo pai: "Meu filho, para que um advogado tenha clientela, é preciso muito talento. A um médico, basta assinar receitas e atestados de óbitos."
Estudar Medicina, acho que era forte demais, pois raramente assistia a uma aula, preferindo freqüentar cabarés. Contavam-se muitas histórias de suas trapalhadas, que ele transformava em gozação.
Colaborou no jornal Última Hora, de Porto Alegre, e em várias revistas inexpressivas.
Pelos idos de 1961 publicou um livro de poemas chamado Pontas de Cigarro em que gozava os imortais da Academia Brasileira de Letras. Aliás, fez da ABL um dos seus alvos preferidos. Debochava do fato da ABL ter apenas quarenta cadeiras. Dizia que podia imitar os ônibus, por exemplo: quarenta sentados e sessenta em pé. Quando um imortal sentado esticasse a canela o outro sentava.
Fundou vários jornais no interior gaúcho, até decidir vir para o Rio de Janeiro, então Capital Federal.
Ainda no Sul, Aporelly sofreu várias crises de hemiplegia. Foi aconselhado a procurar um clima mais quente. Separado da mulher, mudou-se. Bateu na porta do jornal O Globo. "O que você sabe fazer numa redação?"
perguntou o diretor Irineu Marinho. Ele respondeu: "Tudo. Desde de varredor até Diretor. Aliás, acho que não há muita diferença." Ganhou o emprego, e com ele a profissão de jornalista. Escreveu uma peça teatral de humor, chamada A facada.
Nesse ano de 1925, foi trabalhar no jornal A Manhã, fundado por Mário Rodrigues, irmão de Nelson Rodrigues, onde escrevia a coluna Amanhã tem mais. No ano seguinte fundou o seu próprio jornal, A manha, que trazia abaixo do titulo, o dístico "quem não chora não mama".
No seu próprio jornal, ele radicalizou o humor ferino, atingindo as principais autoridades do país. Criticava sempre as ditaduras de Salazar em Portugal, e de Franco, na Espanha. Suas críticas e artigos valeram algumas prisões e agressões, não contando as ameaças.
Escrevia matérias com sotaque alemão, italiano e português. No sotaque italiano, criticava a dureza das leis que atrapalhavam a vida dos imigrantes. Escrevia: "Essa hisdória de lêge, isso é bobágio". As com sotaque português, frases como: "quaim naum taim cumputência naum se stabulece" e pensamentos como "U açucare é uma matéria que dá muito mau gosto ao café, nãon se lho butando."
Chateaubriand convidou Aporelly para transformar A Manha, num encarte do Diário da Noite, resistiu mas acabou aceitando. Encartada no jornal, A Manha dobrou de tiragem, vendendo cerca de 15000 jornais, o que era muito para a época. Chegou a 21000 e aumentando sempre. Em 1930, Aporelly saiu do Jornal de Chateaubriand, voltou a publicar A Manha, independentemente.
Viveu o período conturbado do Estado Novo. Fraudes nas eleições, Revolução de 1930, deposição de Washington Luís, surgimento do integralismo, com Plínio Salgado. A partir de 1933, Aporelly tornou-se um ferrenho opositor ao integralismo. Era o humor satírico a favor da inteligência. Getúlio reprimia os comunistas, mas dava alguma liberdade aos integralistas. Nesse clima surgiu com toda a corda o Jornal do Povo, dirigido pelo Barão de Itararé. O jornal havia anunciado a história em dez capítulos da Revolta da Chibata, liderada pelo marinheiro João Cândido. A Marinha considerou uma ofensa e fechou o jornal, e influenciada pelos integralistas, seqüestrou o Barão, levaram-no para a estrada da Gávea, onde o espancaram, rasparam seu cabelo e o deixaram nu.
Retornando a Redação, colocou a plaquinha: "Entre sem bater". Mas o jornal não sobreviveu. Do rigoroso inquérito para apurar o espancamento, ficou como sempre ficam os 'rigorosos inquéritos': nada se apurou.
Fechado o Jornal do Povo, o Barão de Itararé retorna com A Manha. Quanto a plaquinha, para bom entendedor meia palavra basta...Depois de longa temporada no presídio da Frei Caneca, no Rio de Janeiro, onde dividiu uma cela com o escritor Graciliano Ramos, ganhou a liberdade e relançou A Manha.
Dedicava-se agora, menos aos facistas nacionais, e voltava-se para as ameaças do facismo internacional: Mussolini, Franco, Salazar, Hitler...
Era curto ou quase não havia dinheiro no bolso do Barão. Para relançar A Manha, associou-se a Arnon de Mello, o pai de Fernando Collor de Mello. Agora surgiam n'A Manha, nomes como José Lins do Rego, Carlos Lacerda, Rubem Braga, Aurélio Buarque de Hollanda. A nova fase durou até 1948. Usou nesse período, vários pseudônimos, como Paty Farias, Pntey Osette e Zhero Aiskerda.
Prosseguia o deboche de políticos e intelectuais conservadores. Quando o Barão sentiu que a Ditadura balançava, cunhou uma frase que se tornaria célebre e repetida por muito tempo, por comentaristas políticos: "Há algo no ar, além dos aviões de carreira."
Com 76 anos, deu uma grande e última entrevista em 1971, ao chargista Fortuna, da revista Realidade. Demonstra o vigor de uma inteligência crítica, bem humorada, expansivo e risonho. Era um grande contador de 'causos'.
Vivia sozinho. Passou mal na noite de 26 para 27 de novembro. Não aceitou ir para a casa de um dos seus filhos. Morreu sozinho, no sábado.
O Barão de Itararé foi o Dom Quixote brasileiro. Vivo e atuante, investiu contra as mazelas políticas do seu tempo, com a lança do humor e da sátira. Libertário, como todo bom humorista, foi o predecessor de uma geração de humoristas sarcásticos, como Jaguar, Millôr Fernandes, Ziraldo e outros que combateram a ditadura de 64, como Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) o criador do FEBEAPÁ - Festival de Besteira que Assola o País.

M. AMERICO

quarta-feira, 5 de maio de 2010

ARCEBISPO AFIRMA: 'A SOCIEDADE ATUAL É PEDÓFILA.'

Dom Grings afirma: 'A sociedade atual é pedófila'.

Publicada em 04/05/2010 às 22h25m
Demétrio Weber (Fonte: O Globo)

BRASÍLIA - No primeiro dia da 48ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, instaurou uma grande polêmica ao falar sobre as denúncias de pedofilia contra padres. Presidente da comissão responsável pelo tema principal da reunião -- a missão da Igreja no mundo -, Dom Dadeus disse que "a sociedade é pedófila". Para ele, o abuso sexual de crianças e adolescentes é mais frequente entre médicos, professores e empresários do que entre sacerdotes.

- A sociedade atual é pedófila, esse é o problema. Então, facilmente as pessoas caem nisso. E o fato de denunciar isso é um bom sinal - disse.

Dom Dadeus, de 73 anos, criticou a liberalização da sexualidade por "gerar desvios de comportamento", entre os quais a pedofilia. Para ele, assim como homossexuais conquistaram mais espaço e direitos, o mesmo poderá ocorrer com pedófilos.

- Quando a sexualidade é banalizada, é claro que isso vai atingir todos os casos. O homossexualismo é um caso. Antigamente não se falava em homossexual. E era discriminado. Quando começa a (dizer) que eles têm direitos, direitos de se manifestar publicamente, daqui a pouco vão achar os direitos dos pedófilos - disse.

O arcebispo foi escalado pela CNBB para conceder a primeira entrevista coletiva da conferência, com outros três bispos. Dom Dadeus deixou claro que o abuso sexual de crianças e adolescentes é crime e deve ser punido. Mas admitiu que a Igreja tem dificuldade de cortar a própria carne, ao lidar com denúncias contra religiosos. Segundo ele, punições internas são adotadas, mas denunciar os casos à polícia é mais complicado:

- A Igreja ir lá acusar seus próprios filhos seria um pouco estranho.

Dom Dadeus disse que, na Alemanha, apenas 0,2% dos abusos sexuais contra crianças foram praticados por sacerdotes. Ele crê que os casos de pedofilia viraram um calcanhar de Aquiles e estão servindo para quem quer atacar a Igreja e valores como a castidade:

- Há uma anomalia na sociedade humana e que deve ser corrigida. Agora, não é justo dizer que só a Igreja que tem. Não é exclusividade da Igreja. A Igreja é 0,2%.

Conhecido por suas posições conservadoras, o arcebispo afirmou que a homossexualidade é inata apenas em pequena parte dos gays. Na outra parte, segundo ele, a opção sexual é resultado da educação recebida:

- Nós sabemos que o adolescente é espontaneamente homossexual. Menino brinca com menino, menina brinca com menina. Só depois, se não houve uma boa orientação, isso se fixa. Então, a questão é: como vamos educar nossas crianças para o uso da sexualidade que seja humano e condizente?

Indagado sobre a afirmação de dom Dadeus de que a sociedade é pedófila, o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, porta-voz da 48ª Assembleia, reagiu:

- É uma afirmação complicada, tem que ter dados para verificar isso.

Para dom Orani e o bispo de Araçuaí (MG), dom Severino Clasen, os abusos envolvendo padres são parte de problema que atinge diversos segmentos.

- Isso nos frustra e machuca muito - afirmou dom Severino. - O que nos envergonha é também o que nos leva a ter esperança de novos tempos.

  (in Brasil Um país de tolos)
 

COMENTÁRIO

Se vários sacerdotes introduziram o vírus do 'abuso' dentro da Igreja, Vossa Excelência Reverendíssima não pode transferir para a sociedade civil o ônus das denúncias de pedofilia que pesa sobre o corpo sacerdotal da instituição. Isentar tal crime da justiça do Estado, transferindo-o para a esfera de uma corregedoria interna do Vaticano, movida mais pelo espírito corporativista e pela preservação da imagem institucional, resulta e resultou na omissão que desencadeou o histórico e as denúncias que conspurcam a Igreja.
(m.americo)

domingo, 2 de maio de 2010

MEDALHAS E CONDECORAÇÕES...

Minha indignação é tanta, que não consegui escrever uma linha... Fiquei realmente fora de órbita.
Não é possível que se fira a Constituição de maneira tão afrontosa. Não é possível que a nação assista ao espetáculo circense montado no Planalto Central, e fique muda ou, quando muito, tartamuda...
Não bastasse os escândalos dos cartões corporativos, do enriquecimento do Lulinha, temos que engolir medalhas e condecorações.
Por que a sociedade assiste tão passivamente a essa esbórnia de poder?
Agora pesa a ameaça da censura dos BLOGS, com a OAB e o ex-Ministro Tarso Genro, na liderança. Como se já não bastasse o esforço para alterar a liberdade de imprensa, criando os censores de plantão.
Censurar os únicos meios de denúncia e de informação? Onde mais se pode buscar um jornalismo investigativo e atuante, sem compromissos, senão com a notícia e com a verdade?
Fico estarrecido. Não apenas pelas notícias veiculadas pelo Blog O TOMBO DO SACY. E não apenas essas... Fico estarrecido com a nulidade de um Congresso, que permite que se chegue a esse ponto! Fico estarrecido com a sociedade civil e suas instituições, que permitem tal abuso! Fico estarrecido, enfim, pela inequívoca ausência de seriedade e de respeito ao povo brasileiro.
Dói assistir a manipulação das consciências ingênuas do nosso povo, com o cartão corporativo-eleitoreiro do BOLSA FAMÍLIA. Incomoda como uma unha encravada em sapato apertado, ver o nosso povo mergulhado na pobreza, sem investimentos em saneamento básico, saúde, educação, moradias populares... Dói assistir às doações milionárias, para vender imagem na mídia internacional, retirando recursos tão imprescindíveis no atendimento das necessidades básicas dos nossos miseráveis bolsões de pobreza...
Dói demais ver o retrato do Brasil nos sorrisos largos da família Lula, que deveria poupar, pelo menos por constrangimento, o espetáculo da bonança desmedida e escancarada...
Então, não querendo estragar o seu domingo, mas já estragando, dou a notícia desse BLOG admirável, merecedor da medalha BRASILCOMVERGONHA...

MARISA É COMENDADORA
Marisa recebe comenda Ordem do Rio Branco!

Art. 1° A Ordem de Rio Branco, instituída pelo Decreto n° 51.697, de 05 de fevereiro de 1963, com o fim de galardoar as pessoas físicas, jurídicas, corporações militares ou instituições civis, nacionais ou estrangeiras que, pelos seus serviços ou méritos excepcionais, se tenham tornado merecedoras dessa distinção, é composta dos seguintes graus:

a) Grã-Cruz

b) Grande Oficial

c) Comendador

d) Oficial

e) Cavaleiro

§ 1° A Insígnia da Ordem conferida às corporações militares ou às instituições civis será aposta em suas bandeiras ou estandartes, sem atribuição de graus.

§ 2° Observado o disposto no parágrafo único do art. 18, uma medalha de prata, com a inscrição “Medalha do Mérito de Rio Branco”, poderá ser outorgada para premiar outros serviços relevantes prestados à Nação.

Condecoração por quê?
Quem é Marisa Letícia Lula da Silva?

Resposta: Até o DIA DO DIPLOMATA (20 de abril), nada além de mulher de presidente. Depois, a detentora da condecoração Ordem de Rio Branco, no grau de Grã-Cruz, o mais elevado distribuído pelo Ministério das Relações Exteriores. Recebem também tal honraria, juntamente com Marisa do Bolsa Netinho, Marisa Gomes da Silva, esposa do Vice-Presidente (de quem ninguém sabe, ouviu ou viu) e a esposa do chanceler, Ana Maria Amorim.

Condecoradas Marisa e "cumpanheras" de comenda.. U Pudê é baõ!

Para não dar na vista e causar protestos, a distinção, que normalmente é feita por Lula ou Celso Amorim- será entregue por substitutos, pois não pegaria bem receberem a homenagem dos “maridões” Lula e Celso viajaram para os EUA.

Celso Amorim- entusiasticamente - Justifica:

“VOCÊ NÃO PODE IMAGINAR UMA ATUAÇÃO COMO A DO PRESIDENTE LULA SEM O APOIO DE SUA MULHER”

“Também para Dona Marisa é reta final: ela vive os últimos meses dos oito anos como a primeira dama mais discreta do Brasil”. (Cristiana Lemos)

Realmente as esposas do Presidente e do seu Vice, quando o assunto é obra social, são muito, mais muito discretas, mesmo!
Traduzindo: Inexpressivas, adoradoras do próprio umbigo!

(Excertos do site O TOMBO DO SACY http://aguapotavel.wordpress.com/ )

M. AMERICO

sábado, 1 de maio de 2010

O QUE ACONTECEU COM A IGREJA?

Como dizia W.Churchill, "Pode-se enganar todo mundo um certo tempo, mas não se pode enganar todo mundo, todo o tempo..." Há um momento, tanto na vida de um homem, quanto na vida de uma instituição, que a invisibilidade da túnica termina, e o menino, daquele conto de Hans Christian Andersen grita: "o rei está nu!"
Os escândalos sexuais que desabam agora sobre as catedrais, é o resultado de uma política de tolerância com padres que destroçaram a credibilidade e mancharam a dignidade de uma instituição. Sabemos que a nódoa de uma túnica, e no caso de muitas túnicas, contaminam as demais, por imaculadas que sejam. E os escândalos denunciados em todo o mundo, agora mancham também a credibilidade do Vaticano, de sua imagem maior, o Papa, e pode marcar uma revolução na Igreja.
Quando em 1996 o padre americano Lawrence Murphy, acusado por colegas de hábito, de práticas sexuais com crianças, a Congregação para a Doutrina da Fé, uma espécie de corregedoria interna do Vaticano, que decide que punição adotar para o crime ou ato denunciado, o comando da Congregação optou pelo silêncio e pela omissão. Segundo o New York Times, o homem do comando era nada menos que Joseph Ratzinger, que nove anos depois, tornar-se-ia o Papa Bento XVI.
O desastre da pedofilia ganha uma proporção desmedida, porque atinge a maior religião do mundo, com cerca de um bilhão de fiéis e quatrocentos mil sacerdotes. E a imprensa internacional não cala. Vem de longa data as denúncias de pedofilia contra padres católicos. Em 2009 veio à tona na Irlanda um dossiê relatando o abuso de 15.000 crianças, em mais de 250 instituições da Igreja no país, entre 1930 e 1990. A maioria meninos...
Aí o circo pegou fogo: 350 denúncias na Holanda; 300 na Áustria e na Alemanha...
Um relatório encomendado pela Conferência de Bispos Católicos dos EUA, apurou que 4% dos padres foram denunciados por abuso sexual de menores no país, entre 1950 e 2002. No resto do mundo, ainda segundo o relatório, a média estaria entre 1,5% a 5%. Enfim, pelos índices apontados, parece que o Vaticano admite que a proporção de pedófilos entre padres é maior do que na sociedade leiga.

O ano de 1976 assinala, diante dos fatos, o início de uma mudança dentro da Igreja: ocorria a transferência da questão, da ordem espiritual para a científica, admitindo-se que tais comportamentos eram frutos de distúrbios psicossexuais, o que apontou para a necessidade de avaliações psicológicas dos candidatos ao celibato religioso.
Mas a principal mudança veio agora, em 12 de abril, quando o Vaticano instruiu os seus Bispos, a tratar a pedofilia como um caso de justiça comum.
Se realmente isso acontecer, será uma revolução, considerando que a Igreja sempre se manteve afastada do poder do Estado.
O silêncio sobre os crimes internos foi ratificado até o século XX, No documento Crimen Sollicitationes, 1962, o Papa João XXIII, determinou que os abusos de crianças deveriam ser tratados pela Igreja em segredo total, sob pena de excomunhão.
Preservava-se o espírito corporativo da Igreja, com a destruição de todos os documentos que apresentavam provas, caso a denúncia fosse considerada infundada.
Em 2001, o cardeal Joseph Ratzinger ratificava o poder da Congregação para a Doutrina da Fé que continuaria a ter competência exclusiva em relação aos crimes de pedofilia.
Não se ventilava em hipótese alguma, a intervenção do Estado laico nos assuntos internos da Igreja.

Agora, ao admitir a intervenção da Justiça do Estado no crime de pedofilia, Bento XVI deu um pequeno grande passo, ao tirá-lo do jugo da divina justiça e passá-lo a justiça dos homens.
Será que a Igreja saberá lidar com a justiça dos homens, depois de milênios, apenas respondendo diante das leis divinas?
Acredito que será feito um grande projeto de remodelação do cânone católico, para salvaguardar a própria sobrevivência da Igreja... Resta saber se o projeto dará certo...
Lembro-me de Voltaire: "écraser l'infâme!"
Alguma coisa muito próxima daquele senador romano, Catão, que em toda sessão do Senado bradava: "delenda Cartago! "
"Há mais coisas entre o céu e a terra, do que sonha a nossa vã filosofia..."

M. AMERICO

sexta-feira, 30 de abril de 2010

MURAL DE LYA LUFT

"Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe. É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher. Faço tudo de mulher, como mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isso de homens com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem."

A escritora é conhecida por sua luta contra os estereótipos sociais.

"Essas coisas que obrigam as pessoas a ser atletas. Hoje é quase uma imposição: a ordem é fazer sexo sem parar, o tempo todo. A ordem é não fumar, não beber. É essa loucura o dia inteiro na cabeça. Quem não for resistente acaba enlouquecendo. E a vida fica para trás. Hoje as pessoas estão sofrendo muito. Um sofrimento absolutamente desnecessário. Especialmente as mulheres que fazem plástica logo que vêem uma ruga no rosto. Plásticas de inteira inutilidade".
"Na ambição de serem sempre jovens, as mulheres acabam perdendo o próprio rosto. São os falsos mitos da juventude para sempre. E isso também inclui a febre atual da mídia, particularmente nas revistas femininas. Só se fala como se podem ter vários orgasmos numa única noite. Só se fala em como a mulher deve agir para segurar seu homem pelo sexo, especialmente o oral. São fórmulas de um mundo conturbado, que foge ao afeto, distante de qualquer felicidade. Essa é outra coisa para o enlouquecimento. Em todo lugar, o que existe é a supervalorização do sexo. Quem não estiver fazendo sexo sem parar o tempo todo passa a ser anormal. Muita gente fica complexada porque não consegue vários orgasmos numa noite. É tudo uma imposição".
"Tento entender a vida, o mundo e o mistério e para isso escrevo. Não conseguirei jamais entender, mas tentar me dá uma enorme alegria. Além disso, sou uma mulher simples, em busca cada vez mais de mais simplicidade. Amo a vida, os amigos, os filhos, a arte, minha casa, o amanhecer. Sou uma amadora da vida.

O que você nunca vai esquecer?
"Escutar o vento e a chuva nas árvores do imenso jardim que cercava a casa de meu pai, na minha infância. Puro maravilhamento."
O que lhe causa repugnância?
"Preconceito, hipocrisia."
Vale a pena escrever?
 "Não escrevo porque “valha a pena”, mas porque me faz feliz, simplesmente".
O que falta à literatura brasileira?
"Nada, não falta nada. Ela é o que é, simplesmente, cheia de graça, desgraça, florescente, múltipla, lutando com a crise econômica que atinge também as editoras, mas, como não se escreve para ficar rico, tudo bem". E Deus?
"Deus eu imagino como força de vida: luminosa, positiva, imperscrutável".
E o Brasil? Brasil cujo jeito é parecer não ter jeito.
"Não quero jamais ter de morar longe dele. Aqui tudo é possível. E tanto está ainda por fazer".
O que fazer para reverter esse quadro de miséria?
"Que os responsáveis por isso criem vergonha na cara".
Quem não merece respeito algum de ninguém?
"Todos merecem algum respeito, no mínimo compaixão".
Você costuma rezar?
"Não tenho nenhuma religião instituída, mas tenho uma profunda visão “religiosa”, sagrada, da natureza, das pessoas, do outro".
Qual é seu momento ideal para escrever?
"O momento em que meu livro quer ser escrito. Mas normalmente produzo mais de manhã bem cedo. Gosto de ver o dia nascer, aqui na minha mesa de trabalho e do meu computador".

Se confessa uma mulher tímida, embora não pareça.

"Sou dos escritores que não sabem dizer coisas inteligentes sobre seus personagens, suas técnicas ou seus recursos. Naturalmente, tudo que faço hoje é fruto de minha experiência de ontem: na vida, na maneira de me vestir e me portar, no meu trabalho e na minha arte.
Não escrevo muito sobre a morte: na verdade ela é que escreve sobre nós - desde que nascemos vai elaborando o roteiro de nossa vida.
O medo de perder o que se ama faz com que avaliemos melhor muitas coisas. Assim como a doença nos leva a apreciar o que antes achávamos banal e desimportante, diante de uma dor pessoal compreendemos o valor de afetos e interesses que até então pareciam apenas naturais: nós os merecíamos, só isso. Eram parte de nós.
O amor nos tira o sono, nos tira do sério, tira o tapete debaixo dos nossos pés, faz com que nos defrontemos com medos e fraquezas aparentemente superados, mas também com insuspeitada audácia e generosidade. E como habitualmente tem um fim - que é dor - complica a vida. Por outro lado, é um maravilhoso ladrão da nossa arrogância.
Quem nos quiser amar agora terá de vir com calma, terá de vir com jeito. Somos um território mais difícil de invadir, porque levantamos muros, inseguros de nossas forças disfarçamos a fragilidade com altas torres e ares imponentes.
A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura.
Às vezes é preciso recolher-se".

M. AMERICO

quinta-feira, 29 de abril de 2010

PARADIGMA

Um paradigma seria, digamos, uma espécie de teoria, guardadas, porém, as diferenças.
Darwin por exemplo: a teoria da “evolução” procura explicar como as espécies se modificam para se adaptarem as novas condições do ambiente. Como teoria, ela fica sujeita a ter que ser provada, testada, contestada ou aceita. Fica exposta a experimentação e a reflexão.

E o paradigma? Bem, o paradigma seria um conjunto de premissas implícitas, essencialmente inconscientes, e que por isso, dispensam qualquer interesse em demonstrar a sua veracidade. É o modus operandi que carregamos para decidir as diversas maneiras de agir no mundo e de pensá-lo.

Não questionamos um paradigma, simplesmente porque não o colocamos na ordem das nossas reflexões.
É uma realidade, a lente pela qual decodificamos o mundo, a vida. Não costumamos contestar a realidade se ela não nos incomoda. A lente nos protege e nos proporciona um acordo pleno com as nossas percepções. Percebemos dentro de certas molduras, certas referências.

Podemos definir o paradigma de uma outra maneira: como um sistema de crenças. Você já experimentou alguma vez definir o seu sistema de crenças? Por que você acredita nisso ou naquilo? Por que você valoriza isso ou aquilo? Se alguma vez você pensou em fazer isso, com certeza desistiu, ante a dificuldade de pensar uma crença.

Você pode acreditar na importância da amizade, da religião, da família, de praticar um esporte, uma dieta... Pode acreditar que a sua visão política seja sensata... Centenas, com certeza, de convicções que operam no nosso inconsciente, e que jamais questionamos, dirigem a nossa vida. Convicções sedimentadas desde a infância, e que organizam e determinam a nossa relação com a vida.

Retornando a definição possível de um paradigma, poderíamos então enunciar que seria um sistema inconsciente de crenças, próprias de uma cultura.

Ao buscar entender as ações que produzem o meu modo de ser e de me relacionar com o mundo, talvez fosse possível perceber como criei determinadas situações na minha vida.

Não damos muita importância a certos clarões que nos ofuscam, chamados insights, e que muitas vezes revelam os subterrâneos do inconsciente. Não damos atenção, porque podem provocar um terremoto e desacomodar camadas confortáveis da nossa personalidade.

Se estamos acomodados no berço do nosso paradigma, por que reclamar da grade que nos protege do tombo no abismo?

M. AMERICO

terça-feira, 27 de abril de 2010

EMOÇÕES: UM FENÔMENO BIOQUÍMICO?

O que seriam propriamente as emoções? Alguma propriedade especial, espiritual, imponderável, ou algo que estaria no plano mais concreto do corpo, mais tangível? Segundo Joe Dispenza, as emoções são a química para reforçar neurologicamente as experiências.
Recordamos das coisas mais destacadas e mais emocionais e é dessa forma que deve ser.
Segundo algumas experiências, quando já se imaginava que as células tinham 'receptores' em torno da parede celular externa, nos quais os compostos químicos estacionavam, levou a Dra. Candace Pert, após um acidente, a pesquisar o efeito que as drogas produziam e que estava experimentando, após ser medicada com morfina, para evitar a dor. Ainda segundo a teoria, a estrutura química da droga permitia-lhe encaixar-se nesses receptores, mas que ainda não haviam sido encontrados. A Dra. Pert encontrou os receptores opióides que revestem a parede celular. Essa descoberta mudou a biologia.
Bem, depois de uns três anos uma equipe de pesquisadores escocesa, descobriu que o cérebro produz 'neuropeptídeos' chamados endorfinas.

Papo meio cansativo esse, né? Mas tenhamos paciência para suportar, já que na vida suportamos coisas muito piores...

Quem já não ouviu falar em endorfinas? Também conhecidas como o 'barato' da corrida? Elas são os nossos opiáceos naturais. Mais pesquisas aconteceram e os peptídeos começaram a surgir em toda a parte.
Diz a Dra. Pert: "Em meu laboratório comecei a mapear receptores para todos os peptídeos descobertos em qualquer sistema biológico. E sempre que procurava esses receptores, encontrava-os [...] Fizemos muitos mapeamentos detalhados de receptores e verificamos que havia não somente receptores opióides, mas também para todos esses outros peptídeos nas partes do cérebro tidas como mediadoras da emoção."
Depois dessa descoberta, "começamos a pensar nesses neuropeptídeos e seus receptores como moléculas de emoção".
Conclusão: o que sentimos produz um composto químico ou uma coleção de compostos químicos específicos. São cadeias de aminoácidos, feitos de proteínas e fabricados no hipotálamo, uma minúscula fábrica de compostos químicos, correspondentes a determinadas emoções que experimentamos. Significa que a absorção deles pelas células do nosso corpo, dá origem ao sentimento daquela emoção.

Para que a nossa vaidade não fique muito abalada, vou acrescentar que as tais moléculas de emoção, os pesquisadores as encontraram até em criaturas unicelulares.
O que podemos concluir? Que as emoções são preservadas ao longo da evolução. As endorfinas estão nas leveduras, organismos unicelulares simples; portanto, o prazer é básico.
E fomos projetados para funcionar com base nele. Somos dependentes do prazer, e nosso cérebro e programado  para buscá-lo. Encontrar o prazer e evitar a dor, é o que direciona a evolução humana.
Apesar do longo caminho percorrido pela evolução, entre a ameba em busca de alimento e as rendas francesas, as emoções tinham que se estruturar no corpo de forma irresistível.

Qual é a boa notícia? Para começar a sobrevivência. As emoções nos ajudam a sobreviver, "dando-nos uma referência relâmpago que resolve o quebra-cabeça antes que ao menos conheçamos as peças".
Viver a vida com emoções, nos dá a experiência genuína de estar vivo, sentir, amar, odiar... Sem esses sentimentos a vida seria chata. Elas são o tempero da sopa quântica, a cor do pôr-do-sol.
Muito mais do que a mera sobrivência, que já seria algo extremamente importante para a espécie, elas nos levam a permanente evolução.

Joe Dispenza diz:
"Eu não tenho uma definição científica para alma, mas diria que ela é um registro de todas as experiências de que tomamos posse emocionalmente. As coisas de que não tomamos posse emocionalmente, tornamos a experimentar nessa realidade, em todas as outras realidades, nessa vida, em todas as outras vidas. Portanto, não conseguimos evoluir. Se continuarmos a experimentar a mesma emoção e nunca a aposentarmos, tornando-a sabedoria, não evoluiremos. Não seremos pessoas inspiradas. Não teremos a ambição de ser nada senão o mero produto dos compostos químicos no corpo, que nos mantém presos no círculo em que vivemos nosso destino genético."
Uma pessoa nobre supera o destino genético, a realimentação que vem do corpo, o meio ambiente, as próprias tendências emocionais. Pense nisso. Se você deseja evoluir como pessoa, escolha uma limitação, que você sabe que tem, e aja conscientemente para alterá-la. Você vai ganhar alguma coisa: SABEDORIA.
Nossa evolução completa está estruturada sobre emoções. Elas são inevitáveis.

Paixão, amor divino, sentimento de unidade com o todo, bem-aventurança e experiências místicas são emoções - elas geram aqueles neuropeptídeos que inundam o corpo e alteram a própria consciência.

"Rantha freqüentemente pergunta a seus alunos quando foi a última vez que eles experimentaram um êxtase, um orgasmo, no sétimo selo [um chakra ou centro de energia sutil. Os chakras são pontos de convergência de energia não-física no corpo. Eles estão alinhados com as glândulas encócrinas do corpo físico e são vistos como uma chave para alcançar dimensões mais elevadas.]
Todo mundo conhece êxtases relacionados a sexo [primeiro selo], sobrevivência [segundo selo], poder [terceiro selo], mas e essas experiências nos centros mais elevados? Um êxtase no sexto selo, é uma compreensão nova e profunda. A experiência de consciência cósmica, a conexão suprema e íntima com Deus, é um orgasmo no sétimo selo. O amor completo e incondicional é um dos aspectos do quarto selo."

De acordo com esse ensinamento, nunca alcançamos aquelas dimensões porque a maior parte do tempo a humanidade está presa aos três primeiros elos: sexo, sobrevivência e poder. E o caminho para sair do "porão da humanidade" é tomar posse das emoções dos selos inferiores na forma de SABEDORIA.

Ou, como a ostra, lidar com o elemento irritante até ele se transformar numa pérola.

M. AMERICO

segunda-feira, 26 de abril de 2010

LIVRE ARBÍTRIO OU DETERMINISMO TRÁGICO?

Verdade verdadeira é que carregamos uma propensão natural, uma índole, que se manifesta em todas as circunstâncias da vida, mesmo quando contraria o bom senso. Não está na esfera da nossa decisão conter o impulso que revela a nossa natureza.

Significa afirmar que carregamos na existência um caráter imutável, que sempre nos predisporia a reações automáticas diante de circunstâncias determinadas. Estaríamos, assim, condenados a repetir atitudes como respostas aos eventos significativos na nossa vida? Macarrão não acredita nisso, denominando essa imutabilidade um “determinismo trágico” da existência. Já Alfinete, tecendo considerações sobre a criminalidade, ou seja, sobre as psicopatias que determinam atitudes involuntárias e inconseqüentes, acredita que alguns grupos de pessoas carregam esse caráter imutável. Restringe, no entanto, na sua exposição, que a imutabilidade é um traço distintivo que não abrange a totalidade do grupo humano.

Ouvi as ponderações do Macarrão e do Alfinete. Pautavam por colocar, dentro do problema do possível determinismo do caráter humano, posições opostas: Macarrão não concebia a inexistência do “livre arbítrio”; Alfinete restringia o determinismo às psicopatias, sem negar, por conseqüência, a liberdade de decisão, de escolha, aos demais agrupamentos humanos. Ressalvava, ainda, que o repertório das psicopatias era amplo, o que delongava as diversas esferas do determinismo.

Uma discussão e tanto, que me levou a lembrança de um pequeno conto, eu diria uma fábula, cuja alegoria trata exatamente desta questão. Seríamos vítimas de um determinismo inelutável?

“Era uma vez um escorpião que estava na beira de um rio, quando a vegetação da margem começou a queimar. Ele ficou desesperado, pois, se pulasse na água, morreria afogado e, se permanecesse onde estava, morreria queimado. Nisso, viu um sapo que estava preparando-se para saltar no rio e, assim, livrar-se do fogo. Pediu-lhe, então, que o transportasse nas costas para o outro lado. O sapo respondeu-lhe que não faria de jeito nenhum o que ele estava solicitando, porque ele poderia dar-lhe uma ferroada, levando-o à morte por envenenamento. O escorpião retrucou que o sapo precisaria guiar-se pela lógica; ele não poderia dar-lhe uma ferroada, pois, se o sapo morresse, ele também morreria, porque se afogaria. O sapo disse que o escorpião estava certo e concordou em levá-lo até a outra margem. No meio do rio o escorpião pica o sapo. Este, sentindo a ação do veneno, vira-se para aquele e diz que só gostaria de entender os motivos que fizeram que ele o picasse, já que o ato era prejudicial também ao escorpião. Este, então, reponde que simplesmente não podia negar a sua natureza.”

O que nos conta essa fábula? O óbvio ululante: a imutabilidade da índole do ser humano.

M. AMERICO

sábado, 24 de abril de 2010

VAIDADE DE VAIDADES!

Dos livros bíblicos do Velho Testamento, há dois que consagro especialmente como uma leitura diária: "O livro de Jó" e "O Livro do Eclesiastes ou Pregador". Do Novo Testamento, os Evangelhos, evidentemente, Atos, Romanos e Coríntios (I e II). Não vai nessa indicação qualquer restrição aos demais livros. Como não admirar o Livro dos Salmos? Os Provérbios de Salomão? Mas como disse e repito, voltando ao Velho Testamento, especialmente ao Eclesiastes, vou citar alguns versículos, que calam fundo em mim e sempre me levam a reflexão:

"01. Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém:
   2. Vaidade de vaidades! Diz o pregador, vaidade de vaidades! é tudo vaidade.

M. AMERICO
   3. Que vantagem tem o homem, de todo o seu trabalho, que ele faz debaixo do sol?
   4. Uma geração vai, e outra geração vem, mas a terra para sempre permanece.
   5. E nasce o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar donde nasceu.
   6. O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta  fazendo os seus circuitos.
...................................................
   9. O que foi, isso é o que há de ser, e o que se fez , isso se tornará a fazer; de modo que nada há novo debaixo do sol.
 10. Há alguma coisa de que se possa dizer: vê, isso é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós.
 11. Já não há lembrança das coisas que precederam; e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, nos que hão de vir depois."

Mas por que trago eu palavras bíblicas para um lugar, senão profano, ao menos pequeno demais para acoitá-las?
Para emprestar uma verdade, às observações do nosso cotidiano. Não cansa o homem de repetir nos seus atos, o lugar comum da vaidade, do orgulho, da arrogância. E para mostrar, pelas palavras de Gil Vicente, no seu AUTO DA LUSITÂNIA, o que vemos hoje, incrivelmente, repetir-se.
Gil Vicente é um homem nascido no reinado de D.Afonso V, alguns anos antes ou alguns anos depois de 1465 e falecido entre 1536 e 1540, testemunha, portanto, das lutas políticas do reinado de D.João II, a descoberta da costa africana, a chegada de Vasco da Gama à India, as conquistas de Afonso de Albuquerque, a transformação de Lisboa no cais mundial da pimenta, o fausto do reinado de D.Manuel, a construção dos Jerônimos, do Convento de Tomar e de outros monumentos, as perseguições sangrentas aos cristãos-novos e, finalmente, os começos da crise do reinado de D.João III, que trouxe a Inquisição, a Companhia de Jesus e o ambiente simultaneamente austero e hipócrita que ele próprio personifica na figura de Frei Paço, e que Camões definirá como uma "austera, apagada e vil tristeza". Viveu na época do poder absoluto.
Ignora-se a profissão e a condição social de Gil Vicente. Importa que viveu na corte palaciana e observou criticamente os diversos vícios sociais, especialmente os relativos à nobreza e ao clero.
O teatro vicentino é uma criação a partir de elementos tradicionais mais dispersos legados pela Idade Média. O Auto da Lusitânia é uma fantasia alegórica, em parte proveniente dos momos. O teatro de Gil Vicente é uma criação original e ímpar, de um prodigioso poder de invenção.
Vamos ao Auto, que é o que interessa...

TODO MUNDO e NINGUÉM
(1532) Excerto do AUTO DA LUSITÂNIA
Figuras: Ninguém, Todo o Mundo, Berzebu e Dinato.

[Estão em cena dois diabos, Berzebu e Dinato, este preparado para escrever].

                                      =================  
Entra TODO O MUNDO, rico mercador, e faz que anda buscando alguma coisa que lhe perdeu; e logo após ele, um homem, vestido como pobre. Este se chama NINGUÉM, e diz:

Ninguém: Que andas tu i buscando?
Todo o Mundo: Mil cousas ando a buscar: delas não posso achar, porém, ando porfiando, por quão bom é porfiar.
Ninguém: Como hás nome cavaleiro?
Todo o Mundo: Eu hei nome Todo o Mundo, e meu tempo todo inteiro sempre é buscar dinheiro e sempre nisto me fundo.

Ninguém: E eu hei nome Ninguém, e busco a consciência.

[Berzebu para Dinato]
Berzebu: Esta é boa experiência! Dinato, escreve isto bem.
Dinato: Que escreverei, companheiro?
Berzebu:  Que Ninguém busca consciência, e Todo o Mundo dinheiro.

[Ninguém para Todo o Mundo].
Ninguém: E agora que buscas lá?
Todo o Mundo: Busco honra muito grande.
Ninguém: E eu virtude, que Deuos mande que tope co'ela já.

[Berzebu para Dinato]
Berzebu: Outra adição nos acude: escreve logo i a fundo, que busca honra Todo o Mundo, e Ninguém busca a virtude.

Ninguém: Buscas outro mor bem qu'esse?
Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse tudo quanto eu fezese.
Ninguém: E eu quem me reprendesse em cada cousa que errasse.

[Berzebu para Dinato]
Berzebu: Escreve mais.
Dinato: Que tens sabido?
Berezebu: Que quer em extremo grado Todo o Mundo ser louvado e Ninguém ser repreendido.

[Ninguém para Todo o Mundo]
Ninguém: Buscas mais,amigo meu?
Todo o Mundo:  Busco a vida e quem ma dê.
Ninguém: A vida não sei que é, a morte conheço eu.

[Berzebu para Dinato]
Berzebu: Escreve lá outra sorte.
Dinato:  Que sorte?
Berzebu: Muito garrida: Todo o Mundo busca a vida, e Ninguém conhece a morte.

[Todo o Mundo para Ninguém]
Todo o Mundo: E mais queria o Paraíso, sem mo ninguém estrovar.
Ninguém:  E eu ponho-me a pagar quanto devo pera isso.

[Berzebu para Dinato]
Berzebu: Escreve com muito aviso.
Dinato: Que escreverei?
Berzebu: Escreve que Todo o Mundo quer paraíso, e Ninguém paga o que deve.

[Todo o Mundo pra Ninguém]
Todo o Mundo: Folgo muito d'enganar, e mentir naceo comigo.
Ninguém: Eu sempre a verdade digo, sem nunca me desviar.

[Berzebu para Dinato]
Berzebu: Ora escreve lá, compadre, não sejas tu preguiçoso!
Dinato: Quê?
Berzebu: Que Todo o Mundo é mentiroso, e Ninguém diz a verdade.

[Ninguém para Todo o Mundo]
Ninguém: Que mais buscas?
Todo o Mundo: Lisonjar.
Ninguém: Eu som todo desengano.

[Berzebu para Dinato]
Berzebu: Escreve, ande la mano!
Dinato: Que me mandas assentar?
Berzebu: Põe aí mui declarado, não fique no tinteiro: Todo o Mundo é lisonjeiro, e Ninguém desenganado.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

COISA SIMPLES

Eu já falei da poesia de Adélia Prado. E da poesia da Cora Coralina. Elas têm uma identificação: o jeito especial de olhar a vida. Porque a descoberta da banalidade, que afinal de contas é o que constrói a nossa vida do dia-a-dia, a descoberta da beleza que há na banalidade, é que nos permite desvendar os mistérios da poesia que encharca os arredores da vida, e pode nos encantar para sempre.
Uma vez encantados, seremos como os pintores que percebem matizes de cores, onde apenas percebemos o cinza...
Descubro o mistério da simplicidade poética, no jeito como Adélia Prado recorta a realidade. A gente apenas olha para a poesia da Adélia. Sentir é só uma conseqüência...

SOLAR
M. AMERICO

Minha mãe cozinhava exatamente:
arroz, feijão roxinho, molho de batatinhas.
Mas cantava.

DIA
As galinhas com susto abrem o bico
e param daquele jeito imóvel
- ia dizer imoral -
as barbelas e as cristas envermelhadas,
só as artérias palpitando no pescoço.
Uma mulher espantada com sexo:
mas gostando muito.

Encontro em Rubem Alves as palavras que escreveria, e que se tornaram desnecessárias pela escritura que ele derrama. Assim, dou a palavra ao professor e contador de histórias.

"A poesia gosta mesmo é de coisas simples. Basta uma imagem banal. A Adélia Prado é especialista em fazer poesias com insignificâncias. Quiabo 'chifre de veado'. ora-pro-nobis, tanajuras, galinhas, ovos, escamação de peixes, galinhas de bico aberto, a mãe cantando enquanto cozinhava extamente arroz, feijão roxinho e molho de batatinhas: com essas coisas ela faz poesia. Pois poesia é feito caleidoscópio: faz beleza com caquinhos de vidro. Por que é que os poetas são assim tão ligados às insignificâncias? Por que é com insignificâncias que a vida é feita. Pois eu escrevi sobre a insignificância de chupar laranjas...
O Zé, marido da Adélia, me mandou e-mail imediato lá de Divinópolis, juntando-se a minha conversa sobre os jeitos de chupar laranjas. E ele me disse que por lá os pobres também chupavam de gomo. Só que enfiavam o gomo inteiro na boca, depois cuspiam os caroços e engoliam o bagaço. Isso, por causa da prisão de ventre. Se eu escrevi e o Zé me respondeu é porque a amizade se faz com insignificâncias.
Em Minas Gerais até jeito de chupar laranjas é poesia..."

quarta-feira, 21 de abril de 2010

"O HOMEM NÃO TRAMOU O TECIDO DA VIDA: ELE É SIMPLESMENTE UM DE SEUS FIOS".

"Somos o que pensamos", já disse um filósofo; mas também somos o modo como organizamos a cadeia de atos da nossa vida diária. Ele refletir-se-á, indubitavelmente, na nossa vida futura. Essa colocação é válida para as diversas dimensões da nossa existência.
É preciso despertar e tomar consciência desse fato. É necessário nos darmos conta da simplicidade, em meio a barafunda que transforma a vida numa corrida louca atrás de coisa nenhuma. É indispensável perceber o nosso destino como seres humanos e não como peças de uma enorme engrenagem.
O nosso tempo histórico é um tempo de velocidade, de aceleração; a nossa vida organiza-se em torno de momentos descontínuos, não nos permitindo pausar, refletir sobre o sentido do que está acontecendo.
Estamos aturdidos pela transitoriedade, pela impermanência dos nossos referenciais. Nunca um sistema provocou tantos desarranjos e tantos efeitos secundários indesejáveis, desarticulando a vida de uma maneira tão violenta, destroçando paradigmas, procurando alicerçar a vida e a extensão do bem-estar no acesso aos produtos industriais, sem medir o significado e os efeitos de uma produção em escala monumental de bens de consumo.
O consumo como "filosofia de vida" é apregoado pelos profetas midiáticos, em todas as partes do planeta ocidental. Afogamo-nos no tumulto das novidades tecnológicas e acabamos perdendo de vista o que é essencial, o que verdadeiramente nos proporcionará o prazer de viver: a saúde, o amor, a solidariedade, a comunidade universal.
Podemos perder muitas coisas na vida; podemos até recuperar muitas coisas na vida, mas não podemos nos permitir perder a visão macro da vida. E se a perdermos, poderemos até recuperá-la, mas é um caminho árduo e doloroso. Um caminho difícil. E quantos de nós teremos a força necessária para refazê-lo?
Não podemos cair na armadilha que nos transformará em simples consumidores de novidades inúteis. Isso nos tornará impotentes, devastará a nossa vida e perderemos a simplicidade de olhar a nossa volta e redescobrirmos a plenitude da vida. Impedirá que possamos cuidar do nosso semelhante, curar a nós mesmos.
Sabemos que a loucura desse modelo de consumo desenfreado é um pesadelo, embora muitos pensem  que seja um belo sonho de promessas douradas.

Para consumirmos tantas bugigangas, estamos emporcalhando a nossa casa planetária, extinguindo os seus recursos. Será que esse "progresso" (em nome de quê, e em que direção?) que assistimos boquiabertos de admiração, não é apenas um grande engodo? A que ele nos está levando? Ao exercício da alienação?
Percebo o desperdício dos recursos naturais; leio sobre a grande crise hídrica que se aproxima, pela poluição das fontes naturais e dos rios; da intoxicação do meio ambiente, da extinção de tantas espécies, alterando a cadeia elementar da vida... Ouço falar de agrotóxicos que "beneficiam a produção e a economia", devastando o meio ambiente; ouço dizer dos transgênicos, que aumentarão a exportação... Percebo que o "progresso" é uma grande e perversa 'armação'.
Vou transcrever o excerto de um livro: 'O despertar da águia', de Leonardo Boff. Particularmente, considero esse livro um guia para a difícil arte de ser humano.

"Com acerto escrevia o cacique pele-vermelha Seattle, ao governador Stevens, do Estado de Washington, em 1856, quando este forçou a venda das terras indígenas aos colonizadores europeus. O cacique, com razão, não entendia por que se pretendia comprar a terra. Pode-se comprar e vender a aragem, o verde das plantas, a limpidez da água e o esplendor da paisagem?
Neste contexto reflete que os peles-vermelhas compreenderiam o porquê e a civilização dos brancos "se conhecessem os sonhos do homem branco, se soubessem quais as esperanças que ele transmite a seus filhos e filhas nas longas noites de inverno, e quais as visões de futuro que oferece para o dia de amanhã".

Qual é o nosso sonho? Que esperanças transmitimos aos jovens? Que visões de futuro ocupam as mentes e o imaginário coletivo através das escolas, dos meios de comunicação e de nossa capacidade de criar valores? Que cuidado desenvolvemos para com a natureza e que benevolência suscitamos para com todos os seres da criação? Que novas tecnologias utilizamos que não neguem a poesia e a gratuidade? Que irmandade estabelecemos entre todos os povos e culturas? Que nome damos ao Mistério que nos circunda e com que símbolos, festas e danças o celebramos?

As respostas a estas indagações geram um novo padrão civilizatório.
Face às transformações que atingem os fundamentos de nossa civilização atual indagamos: quais são os atores sociais que propõem um novo sonho histórico e desenham um novo horizonte de esperança? Quem são os sujeitos coletivos gestadores da nova civilização?

Sem detalharmos a resposta podemos dizer: eles se encontram em todas as culturas e em todos os quadrantes da Terra. Eles irrompem de todos os estratos sociais e de todas as tradições espirituais. Eles estão em toda parte. Mas são principalmente os insatisfeitos com o atual modo de viver, de trabalhar, de sofrer, de alegrar-se e de morrer; em particular, os excluídos, os oprimidos e os marginalizados. São aqueles que, mesmo dando pequenos passos, ensaiam um comportamento alternativo e enunciam pensamentos criadores. São ainda aqueles que ousam organizar-se ao redor de certas buscas, de certos níveis de consciência, de certos valores, de certas práticas e de certos sonhos, de certa veneração do Mistério e juntos começam a criar visões e convicções que irradiam uma nova vitalidade em tudo o que pensam, projetam, fazem e celebram.

Por tais sendas desponta a nova civilização que será de agora em diante não mais regional, mas coletiva e planetária; e esperamos, mais solidária, mais ecológica, mais integradora e mais espiritual."

Os que acompanharam até aqui essa reflexão sobre o nosso presente e sobre o que esperarmos do nosso futuro, partilhem comigo a esperança de um novo milênio, que possa ser herança dos homens vindouros.

M. AMERICO

terça-feira, 20 de abril de 2010

AMEI NOSSOS ANCESTRAIS

Não sei não... Mas sabe que eu já desconfiava dessa  história? O que vem acontecendo no Brasil nesses últimos anos, me fez pensar seriamente que descendíamos das bactérias. Não estou brincando não, mas aquela brincadeira de chamar o pouco esperto ou mal dotado de ameba, sempre me levava a refletir se realmente era possível essa descendência. Repito: não estou brincando não!
De repente, vem um astrofísico de renome mundial, com um nome pra lá de Guerra nas Estrelas, chamado Chandra Wickramasinghe, e diz que podemos ser descendentes de bactérias alienígenas. Não é ótimo isso?
Além de confirmar as minhas antigas suspeitas, nunca publicadas por falta de provas científicas, embora as históricas estejam aí, nas nossas fuças, não tentei divulgar por falta de apoio da grande imprensa.
Tudo teria sido forjado nas estrelas, que explodiram há bilhões de anos, espalhando nuvens de detritos por toda a Via Láctea do nosso poeta Bilac. Tudo o que está no planetinha: do oxigênio que respiramos a água que bebemos. Palavra do Chandra que não brinca! Vai nesse rol de coisas, do silício dos chips ao urânio das bombas (que não querem deixar o Irã ter uma ou várias). E das nuvens fez-se o Sistema Solar. Toda essa história, um pouco recente, coisa de 4,5 bilhões de anos.
Desse PUM cósmico surgiu o nosso planetinha Terra. E como era de se esperar, esse pum gerou a vida!
Até hoje se discute se a patente da vida seria apenas nossa, seres inteligentes (hoje mais que provado, que fica cada vez mais difícil provar a inteligência desses seres).
E o Chandra disse que não.  Para sorte do Universo, não somos os únicos a habitar o quarto dos fundos da escuridão cósmica. Mais de 400 moléculas  orgânicas foram detectadas em nuvens, logo ali adiante, cerca de alguns milhões de anos-luz da Terra.
Aí o cingalês, teimoso como aquela criança que não pára de encher o saco do professor, pergunta pra Deus: "Como surgiram e foram parar lá?" E Deus, já ressabiado com a história da Igreja, que jurava de pés juntos que a Terra era o centro do Universo, e queimou um bocado de gente por conta desssa Verdade, deve ter respondido pro Chandra: "Filho, deixa isso pra lá... Você vai acabar me deixando em maus lençois!"
Mas o cingalês, teimoso como uma criança mal-educada, foi lá e trouxe uma tremenda verdade: a vida veio do espaço! Somos descendentes diretos de vírus alienígenas.

Agora eu entendi por que todo ET é feio pra cacete! É que eles são vírus! Vocês já viram as bactérias que a Rede Globo mostra nas escovas de dentes, chamada da Colgate? Pois então! Imagina a cara dos vírus?!
E o Chandra fala sério! Ele e o amiguinho dele, um tal de Fred Hoyle

Acho que esta noite eu vou ter pesadelo... Já imaginou um vírus alienígeno, vindo de milhões de anos-luz entrando pela janela do seu quarto? AFF!!!

M. AMERICO

segunda-feira, 19 de abril de 2010

SAÚDE AMORDAÇADA ( II )

Os brasileiros adoram tomar analgésicos e antiinflamatórios! São os grandes campeões de consumo, ao lado dos ansiolíticos, os conhecidos tranqüilizantes, adquiridos indiscriminadamente e pelas mais simples razões: insônia, inquietação, a menor ansiedade ou pânico ou simples mau humor... E o cordão dos dependentes, cada vez aumenta mais!
A 'caixa preta' do patrocínio em pesquisas já começa a preocupar entidades médicas e os próprios pesquisadores! Os conflitos de interesse entre os cientistas e a indústria farmacêutica são objeto de estudo importante nos últimos anos.
Os patrocinadores exercem o absoluto controle da pesquisa, através de contratos! Determinam quem pesquisa e quem deve ser afastado! O que pode ou não ser divulgado! Rumorosos casos de pesquisas, que terminaram na constatação de medicamentos perigosos caíram no silêncio das cláusulas de confidencialidade. Ainda que houvesse ameaça a saúde dos consumidores! Uma ética às avessas.
Cada novo remédio custa entre 300 e 500 milhões de dólares. O lucro? Supera em muito o investimento! O caso Viagra: a galinha de ouro da Pfizer! O remédio rendeu - apenas em 2001 - 1,3 bilhão de dólares! No mesmo período os novos ansiolíticos e outras drogas para doenças cardiovasculares faturaram 90 bilhões de dólares!
Nas suas campanhas, os laboratórios são generosos! É comum, no Brasil, os médicos receberem mimos e presentes, como jantares em restaurantes de luxo, viagens internacionais, participação em congressos com tudo pago etc.
A banalização dessa prática levou o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) a bater forte na indústria farmacêutica, exigindo comportamento ético dos profissionais ante a "cortezia" dos laboratórios.
O médico tem cada vez menos tempo para o seu paciente. A grande arma terapêutica, que é o contato com o paciente (a conversa fiada, mas reconfortante, a simpatia do encontro, o acolhimento, do nome próprio pronunciado a reboque do diagnóstico...), já está em desuso, estimulando a utilização de remédios, como prática de abreviar a consulta! Prescrever sem olhar o quê e sem saber a quem!

O problema é que os especialistas sabem que qualquer droga é perigosa, em maior ou menor grau. Exemplo: reposições hormonais. Um único miligrama de hormônio - substância naturalmente produzida por uma glândula - é suficiente para alterar o funcionamento de sistemas vitais, as características morfológicas e o humor de uma pessoa. Bastam por exemplo, 50 trilionésimos de grama de estrógeno por milímetro de sangue, para garantir às mulheres, as formas arredondadas e a graciosidade dos traços delicados que são a marca do feminino.
Como a produção natural do estrógeno decai na menopausa, tornou-se hábito suplementá-lo em mulheres nessa fase da vida, com a adição de hormônio sintético. O problema é que desde a década de 70, os efeitos deletérios vêm sendo constatados entre os quais o câncer de útero.

Todo medicamento tem efeitos colaterais: os antialérgicos causam sonolência e dificuldade de concentração; os antibióticos prejudicam o fígado e os rins e até podem causar surdez; a cortisona provoca pressão alta e úlcera. Antiinflamatórios podem provocar úlcera, gastrite e hemorragia digestiva; os suplementos vitamínicos podem ter efeitos indesejáveis; o excesso de vitamina C pode levar a litíase renal e o das vitaminas A,
D, E e K, causar lesões no fígado. Muita vitamina A provoca também fadiga, insônia e agitação.
A intervenção para aliviar tais efeitos com outros medicamentos, não raro fecha o circuito de complicações das quais o paciente não consegue se libertar facilmente.
Casos comuns de dependência estão ligados aos benzodiazepínicos (calmantes) e as anfetaminas (usadas nos moderadores de apetite).

"A hipocondria é um dos recursos do homem para lidar com as dores do drama de sua existência", diz o psicólogo Rubens Volich em seu livro Hipocondria: impasses da alma, desafios do corpo.
Sempre convencem o médico a prescrever algum medicamento. E retornam a ele muitas vezes, por obra dos próprios medicamentos ingeridos.
A maioria dos hipocondríacos sofre de depressão, diz o psiquiatra Marcelo Niel. "E enquanto esse problema não for tratado, eles continuam expostos a medicamentos desnecessários". Como estão sempre ingerindo algum tipo de medicamento, há uma propensão a se tornarem dependentes. Marcelo diz que considera normal que alguém tome um calmante em um momento especificamente insuportável. "O problema é quando qualquer situação de desconforto passa a ser esse momento crítico", diz o psiquiatra.

Os especialistas são unânimes em concordar num ponto de que pouca gente se dá conta: a maior parte das doenças pode ser curada pela ação do próprio organismo.

"A natureza resolve sozinha 90% dos problemas de saúde", diz o médico Daniel Sigulem, professor da Universidade Federal de São Paulo. "Em geral, pede-se aos médicos apenas que não atrapalhem".
Essa conclusão, seguramente você não encontrará em bulas de remédios...
[Este artigo baseou-se em informações da matéria Viciados em remédios, Jomar Morais.]
Luz e consciência.

M. AMERICO

domingo, 18 de abril de 2010

SAÚDE AMORDAÇADA ( I )

Qualquer pessoa medianamente escolarizada, ou razoavelmente informada, será capaz de melhores opções quando falamos de saúde. Será capaz de pensar a sua saúde. Não há quem consiga escapar da neurose de informação que o sistema global derrama sobre as nossas cabeças. Mas, como disse inicialmente, o mínimo de compreensão e condições de interpretação, será necessário, para que se possa assimilar o que acontece ao nosso redor. Há um grande bolsão de comunidades pobres nesse nosso Brasil, sabemos disso, onde sequer a luz elétrica chegou, e muito menos a informação sobre saúde e higiene, em sentido amplo. Comunidades onde há muita fome, muita desnutrição, muita "miséria absoluta", que os números estatísticos sequer dão conta  de traduzir.
A realidade da miséria não se traduz em escalas matemáticas, em cálculos, em curvas esotéricas no grande mapa "ibegeano" da fome brasileira, do desamparo brasileiro, onde não há lugar para se discutir sobre saúde. Mesmo nos centros urbanos, onde essa miséria anda catando o que comer nos aterros sanitários, nos lixões, a opção por saúde seria uma piada de humor negro.
Mas nesse mesmo centro urbano, há também aqueles que participam do acesso ao conforto da informação, do alimento, da higiene. Referia-me, inicialmente a esses, e retorno ao fio da meada.
Então, ser minimamente escolarizado, ou razoavelmente informado, não nos dá mais o direito de atropelar os princípios básicos do bom-senso, que segundo Descartes "é o bem melhor distribuído, de tal forma que todos julgamos possuí-lo satisfatoriamente". Assim, vamos ao que interessa.
Alguém desconhece o axioma fundamental da sociedade de mercado? Acredito que não. Vender, vender, vender... Os fins justificam os meios! Não importa o que vendemos e o que acontece com quem consome! O que importa é a mais-valia!
E nesse maquiávelico projeto, a saúde também se transforma numa meta de consumo!
Nunca, em qualquer tempo, foi tão nefasto delegar a autoridade de gerenciar a vida e a saúde!
Irresponsabilidade, despreparo, ganância, mercantilismo etc, tudo somado e bem empacotado, tem sido jogado na nossa cara! Pior: no nosso corpo! E temos participado dessa trama, com a solene inconsciência dos ignorantes! Mas abusamos do direito de ignorar! As informações despencam sobre nossas cabeças, como as folhas das árvores caem no outono. Ignoramos porque desejamos? Damo-nos conta de que realmente desejamos isso? Creio que não...
Ignoramos por comodismo, porque aceitamos sem discutir, delegar a gerência da nosa vida e da nossa saúde. Sequer pensarmos sobre o que fazer ou que recursos buscar para minorar determinado mal que nos acomete. E muitas vezes o mal é decorrência de outro, e de outro, numa sucessão de imprevidência e falta de compromisso com o nosso próprio bem-estar.
Os exemplos estão à nossa volta. Basta que olhemos e rapidamente identificamos pessoas que, mecanicamente, repetem procedimentos medicamentosos, mesmo sabendo que não há resultados positivos e que, muitas vezes, ampliam o processo da doença.

Ocupamos o quinto lugar mundial no consumo de remédios! Dispomos de mais de 32.000 rótulos de medicamentos, com variações de 12.000 substâncias! Um excesso descabido, considerando-se a lista de medicamentos essenciais para o bem-estar, da Organização Mundial de Saúde (OMS) de apenas 300 itens. Será que precisamos de tantos remédios assim? Dizem os especialistas que não!
Assistimos a uma sociedade intolerante com as drogas ilícitas e diante das drogas prescritas por médicos, somos levianamente permissivos, tolerantes, cúmplices.
Apesar da grande doença nacional, chamada miséria e desamparo, fonte óbvia da saúde arruinada de tantas comunidades pobres, das doenças características dos segmentos médios e ricos, cujo uso abusivo e irregular de medicamentos cresce rapidamente, cabe especular a razão porque isso acontece, favorecendo a indústria química de medicamentos.
Não é difícil compreender o que acontece.

Há uma farmácia para cada 3.000 habitantes, mais do que o dobro do recomendado pela OMS. Significa isso que há mais farmácias do que padarias! Há, em média, 54.000 farmácias para 50.000 padarias! Pode-se comprar drogas químicas por telefone ou pela internet, com ou sem receita médica! Diagnósticos são dados nos balcões de farmácias por atendentes, que empurram os remédios da moda, indo das últimas novidades em analgésicos e tranqüilizantes à pílulas de viagra.
O Sinitox (Sistema Ncional de Informações Tóxico-Farmacológicas) aponta 22.121 casos de intoxicação no ano de 2000 e considera que nem todos os casos são informados pelos Estados e nem sempre os médicos asumem os erros de prescrição. Significa que os casos registrados representam quase 1/3 do que realmente ocorre em termos de intoxicação medicamentosa, o que leva a pressupor um número aproximado de 100.000 casos.
Há uma cortina de silêncio em torno da gravidade do problema. E enquanto a cortina não sobe, milhares de pessoas correm o risco de se tornarem farmacodependentes, aumentando as estatísticas das clínicas psiquiátricas.

O problema ampara-se na irresponsabilidade de alguns médicos e nos interesses da bilionária indústria farmoquímica, que em matéria de lucros perde apenas para a indústria petrolífera.
Segundo uma estimativa da revista inglesa Focus, o setor teria faturado em 2003, 406 bilhões de dólares. Estima-se que no mesmo período, a indústria brasileira faturou aproximadamente 7,5 bilhões de dólares, valor que pode parecer  pequeno diante dos 170 bilhões de dólares que faturou a indústria farmacêutica americana.
Seria cômico, se não fosse trágico! O antialérgico Claritin chegou a gastar mais em propaganda do que a Coca-Cola.!
Ao tratarem os medicamentos como qualquer mercadoria, qualquer produto, os anúncios publicitários conseguem aumentar as vendas dessas drogas! Distribuição de prêmios a donos de farmácias e balconistas que atingirem as melhores metas de vendas!

M. AMERICO

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A MEDICALIZAÇÃO DA VIDA

Não tenho conhecimento de qualquer estatística que apresente o consumo "per capta" de tranqüilizantes, antibióticos, hipotensores etc. Imagino, diante do crescente processo de 'medicalização' da vida, nas sociedades urbanas, que tal estatística seja surpreendente. E creio que deve ser muito expressivo, diante do crescimento da indústria farmacêutica e do controle cada vez maior dos diversos patamares etários, ou dito de outra maneira, das diversas categorias sociais devidamente rotuladas. Claro que tal estatística estaria correlacionada com a renda "per capta" de segmentos sociais mais expressivos economicamente. Quanto mais rico o segmento, maior o seu grau de dependência do processo de 'medicalização' social, visto que há recursos para pagar e consumir as drogas farmoquímicas.
Mas não pode passar despercebido o controle médico sobre as pessoas e a aceitação passiva com que se submetem 'ordeiramente' às práticas médicas do atual modelo biomédico.
Esse conceito de 'medicalização' das sociedades urbanas, procura definir o controle e a dependência extrema a que chegou a sociedade ocidental, ou ocidentalizadas, no esforço de alcançar a saúde e o bem-estar. (Não se discute, em momento algum, que o processo mórbido atualmente vigente nas sociedades, resulta das escolhas feitas pelo homem, na organização da vida e seus propósitos.)
É o princípio da 'outorgação' dos seus direitos de gerenciar o próprio corpo e buscar a própria cura através de recursos alternativos ao modelo dominante, que retira de cada um de nós o direito e a liberdade de administrar a vida em cima de outros conceitos de saúde, reforçando o processo de 'medicalização' da saúde.
O crescente processo de 'medicalização' da vida, acaba por transformar a saúde em mercadoria. Um mercado altamente lucrativo!
O crescimento da classe profissional de médicos não é malsã apenas porque tais profissionais provocam lesões orgânicas ou distúrbios funcionais. Não! Ela o é, sobretudo, proque produzem a dependência. E porque a dependência tende a empobrecer o meio social e físico em seus aspectos salubres e curativos. E porque a dependência reduz as possibilidades orgânicas e psicológicas de luta e adaptação que as pessoas possuem. E porque o crescimento dessa classe, denota o poder das indústrias farmoquímicas de dirigir e controlar a saúde, com amplas 'benesses' distribuídas à classe.
[ Não se fala num amplo programa público de saneamento básico, de soluções para o lixo urbano, programas de controle da poluição ambiental, medidas que, com certeza, contribuiriam para um novo modelo de saúde. Discute-se politicamente, mas nada acontece. Os lixões (aterros sanitários), a poluição ambiental etc, continuam. ]
Não tenho, como disse, qualquer informação sobre o volume de vendas de medicamentos no Brasil. Posso avaliar, pelo grau de dependência social aos produtos farmacêuticos e pela proliferação impressionante de farmácias. Também posso avaliar pelo crescimento da fantástica lucratividade das indústrias farmoquímicas da saúde, considerando que o vasto segmento sem privilégios ou direitos, moureja a margem do 'badalado' crescimento da riqueza nacional e da imaginária distribuição de renda, que se justifica pelo controle monetário (inflação), pela ampliação do sistema de saúde pública, pela ampliação da rede de educação etc.
Não há dúvida de que são fatores promissores, mas ainda distantes da imensa miséria da nossa realidade social; distantes do fato de, verdadeiramente, redistribuírem a renda nacional.
Encontramos milhares de pequenos povoados por esse imenso Brasil, sem qualquer expectativa da existência de alguma clínica médica, em condições de um atendimento eficiente e eficaz. Mas se fosse possível encontrá-la, por um desses acasos surpreendentes, não mudaria em nada a condição dos seus habitantes, dada a simples circunstância de se encontrarem afastados dos grandes centros urbanos onde ocorre a distribuição de medicamentos, (e lógico, os custos elevadíssimos desses medicamentos) e a complexidade de intervenções cirúrgicas. Por falta de opção, continuam consagrando o conhecimento cultural dos seus antepassados.
Fica de alguma forma, no entanto, abalada a crença de que as pessoas não possam enfrentar e resolver os problemas de doenças sem a medicina moderna, cartesiana, especializada, desprovida de uma visão integral do homem como unidade psicossomática.
A incapacidade de reagir a 'medicalização', termina por instituir categorias sociais dependentes, isto é, a vida fica etiquetada segundo seus períodos vitais. Essa etiquetagem acaba integrando uma visão de mundo, que os leigos aceitam como fato 'natural' e banal, de que as pessoas têm necessidades de cuidados médicos de rotina, simplesmente porque são gestantes, ou porque são recém-nascidos, ou crianças, ou porque estão no climatério, ou porque são idosas. Curiosamente, somos empurrados para dentro das inúmeras especializações médicas, como incapazes de sobreviver por conta própria, e fazendo prosperar a indústria química, as profissões vinculadas à saúde, as clínicas etc.
A vida já não é mais uma sucessão de diferentes formas de saúde em seus diferentes ciclos vitais, e sim uma seqüência de períodos, cada qual exigindo uma forma particular de práticas terapêuticas.
Ante os variados ciclos humanos, a vida é jogada num meio ambiente especial para otimizar a "saúde-mercadoria". O homem fica encaixotado no espaço destinado à sua categoria, conforme decisão do especialista 'biocrático', gerente da sua vida.
Um exemplo clássico desse processo "bioadministrativo": a velhice.
Concebe-se a velhice, nesse modelo biocrático da saúde, não como a condição natural da vida, mas como uma doença.
O que pode ser apontado na moderna intervenção médica que se faz nas desordens cardiovasculares, ou na artrose, ou na cirrose ou no câncer dos idosos etc, é que os feitos dos biocratas e os sofrimentos impostos não aumentam muito a longevidade da vida de seus pacientes.
Segundo estudos feitos, 82% dos idosos portadores de doenças graves, morrem menos de três meses após a internação numa clínica ou hospital.
Observou-se que a mortalidade dos idosos no primeiro ano de internamento é expressivamente superior a de um grupo comparável, deixado no meio a que estava habituado, próximo aos que lhe são caros, entre as suas coisas.
Separar-se de sua família, do seu leito, em que dormiu decênios, é para os idosos, o início dos processos mórbidos.
Não se nega que muitas dores de que padecem os idosos são atenuadas pela competência médica, que muitas vezes ultrapasssa o 'savoir faire' de um leigo. Infelizmente, porém, a maioria dos tratamentos profissionais impõe mais sofrimento, e se bem sucedido, prolonga igualmente a vida, quando tratada domesticamente.
A 'medicalização' da velhice é apenas um exemplo, quando a vida é organizada em categorias de pacientes.

M. AMERICO

quinta-feira, 15 de abril de 2010

INÚTEIS REFLEXÕES

A história do homem conta-se pela história da natureza. Toda a sua vida reflete uma busca do natural, por mais que o cultural tenha interferido e provocado a cisão, da qual o homem se ressente na modernidade do nosso tempo histórico.
Quebramos alguns vínculos importantes, desacreditamos nossas necessidades fundamentais em nome de uma "segunda natureza", que nos oferece o fastidioso paraíso das bem-aventuranças do consumo. Nossas necessidades já não são nossas; são as que nos dizem que precisamos ter para sermos 'modernosos' e elegantes.
Fomos empolgados por uma mídia gananciosa, que projeta sobre as nossas cabeças o grande ideal do mercado, que pouco nos diz e mais nos artificializa.
Hoje perguntamos: porque ocorre uma incidência tão alarmante de pessoas deprimidas em nossa sociedade? O Dr. M.Seligman, Ph.D., apresentou algumas opiniões sobre o recente aumento da depressão. Alguns já chegam a denominar o nosso tempo de "Era da Melancolia".
Dois fatores são apontados para esse acontecimento:

primeiro, a crescente exaltação do "eu", enfatizado como fonte de maior significado, valor, estima e satisfação existencial. Com isso, surge um senso diminuído de comunidade e, conseqüentemente, uma redução de propósitos elevados.

segundo, a dissolução de alguns fundamentos, até então básicos, no processo de organização institucional da sociedade - Família, o Estado, Religião - que somada a exacerbada ênfase no "ego", resultou em uma epidemia de depressão.

Comprenda-se que o processo dissolutivo resulta da transição da sociedade, pela introdução de novas tecnologias, novos padrões de consumo, de lazer, do novo modelo de sexualidade, do poder político assinalado pelo estigma da corrupçáo, a manutenção de "fórmulas anacrônicas" e a secularização de instituições religiosas... E tantos outros fatores que paulatinamente alteram os costumes e transformam os comportamentos sociais, num "vale-tudo porque eu sou mais eu". Um tempo que cabe numa sentença de Sartre: "o inferno são os outros."
Excessiva devoção ao "eu" e devoção de menos ao bem comum. Essa a raiz da desarmonia que se assinala na nossa vida e na nossa sociedade.
O meio propício para que esta raiz seja forte, é a ascendente linha materialista que comanda a sociedade, cujo grau de pressão externa sobre o indivíduo, não permite que ele se volte para o seu reino interior.
Corremos atrás de miragens, de fantasias, porque já não conseguimos acreditar que a simplicidade possa nos oferecer um estado de bem-estar. Afinal, a simplicidade consiste no despojamento das inutilidades e do excesso. Ser simples é uma tarefa extenuante, porque é o exercício de uma disciplina que nos orienta para o essencial. Ou como diria Sócrates, ao apreciar o mercado do seu tempo: "Quantas coisas de que não necessito!".
É pensando numa filosofia  da "descomplicação", ou talvez dito melhor, numa visão de mundo menos complicada, sem ser simplista, reducionista, que muitas vezes ocorre-me observar os disparates da ganância, da desonestidade, da precária situação dos poucos valores que ainda flutuam à superfície do oceano social.
Tudo bem... Vivemos um momento intensamente trágico, violento, em que assistimos a transição de padrões, referências, comportamentos, políticas, e nos esforçamos por sobreviver e encontrar novos paradigmas que possam servir de bússola para um Norte mais suportável.
Todos os nossos modelos caminham rapidamente para a obsolescência. Estamos diante de novos fatos científicos, muitos deles polêmicos e sem uma perspectiva de avaliação histórica do futuro. Não podemos medir as conseqüências do desdobramento de tais fatos. A clonagem, os trangênicos, a gestação "in vitro" etc, despertam o receio do futuro, para o qual somos empurrados pela sofisticação de uma racionalidade científica, cujo controle escapou dos mecanismos éticos e institucionais ordinários, a essa altura dos acontecimentos refletindo em suas leis o espaço institucional legal do do século XIX e XX.
A ciência desenvolveu-se, avançou e detonou o meio ambiente, as relações sociais, as relações legais, as relações humanas, as relações políticas, banalizando as crenças e tabus em que se firmava o universo humano, tornando a violência um elemento do nosso cotidiano.
Mas devemos continuar... Não importa saber se a mudança é boa ou ruim. É um fato histórico, irreversível.
Discutir a sua natureza, estabelecer critérios e juízos, reformular princípios e promover uma ampla reforma jurídica adequada ao nosso tempo, em todas as suas esferas, deve ser a nossa ocupação, que delegamos aos que controlam o poder no Estado, já que será o nosso grande desafio.
Reequilibrar o poder político, fazer prevalecer o humano sobre o econômico, implementar políticas sociais includentes, distribuindo de modo justo a riqueza que se produz no país, esse o caminho, suponho, para um novo paradigma social.
Os que ainda não se deram conta de que sopram novos ventos vindos do futuro, fiquem alertas... Quem viver verá!

M. AMERICO