quinta-feira, 25 de junho de 2015

OS MISTÉRIOS DO NOSSO CORPO


20 Fatos fascinantes sobre seu corpo que você certamente desconhece


Entre tantas coisas complexas existentes no universo está o corpo humano e na maioria das vezes não temos noção do que ele é capaz de fazer – dia após dia, minuto após minuto, para que possamos realizar tarefas cotidianas.


Estas são algumas das mil curiosidades que envolvem o organismo humano e suas habilidades. Confira e tente não ficar espantado com ao menos uma delas!


1 – A maioria das pessoas respira entre 12 e 20 vezes por minuto




2 – Durante a vida toda, uma pessoa pode produzir saliva suficiente para encher, em média, duas piscinas



3 – Há mais bactérias vivendo em sua boca nesse momento do que seres humanos na Terra



4 – A cada 60 segundos, as células vermelhas do sangue fazem um circuito completo pelo seu corpo



5 – A maioria dos corações das pessoas adultas bate entre 60 e 100 vezes por minuto. No corpo em repouso, 5 litros de sangue são bombeados por todo o organismo em apenas um minuto



6 – A quantidade de sangue no corpo humano é diretamente influenciada pela altura, idade, sexo e peso



7 – Você boceja quando vê o outro bocejar, mesmo não estando cansado…


Essa foi de propósito! Hahaha



8 – … e a maioria das pessoas sente vontade de se coçar ao ver alguém se coçando



9 – Os músculos que controlam seus olhos se contraem cerca de 100 mil vezes por dia (o equivalente a excercitar suas pernas andando, em média, 80 quilometros)




10 – Em cada rim há 1 milhão de filtros que limpam cerca de 1,3 litros de sangue por minuto e produzem aproximadamente 1,5 litros de urina por dia


11 – Ovários contêm mais de 500.000 ovos, mas apenas cerca de 400 têm a oportunidade de gerar uma vida



12 – Cada pessoa tem um cheiro completamente único e original



13 – Você tem cerca de meio milhão de glândulas sudoríparas que produzem cerca de um litro de suor por dia



14 – Os seres humanos são extremamente visuais: 90% da informação que recolhemos ao nosso redor é proveniente da nossa visão



15 – A maioria de nossos ossos são 4 vezes mais fortes do que o concreto



16 – A saliva também é responsável pelo paladar, pois dissolve o alimento e possibilita à língua perceber o gosto das coisas



17 – Homens produzem cerca de 10 milhões de novos espermatozóides por dia (o suficiente para repovoar o planeta inteiro em aproximadamente 6 meses)



18 – Quando você vai dormir, sua altura diminui cerca de 1 cm em comparação com a altura que você acorda pela manhã. Isso ocorre porque a sua coluna se comprime lentamente ao longo do dia


19 – De acordo com uma pesquisa publicada na revista Surgical Technology International, olhar para o seu smartphone (seu livro, ou qualquer outra coisa) por muito tempo é o equivalente a colocar 27 kg de peso em sua coluna



20 – Depois de ter pensando em tudo isso, saiba também que seu cérebro consome cerca de 20% a 25% do oxigênio que você respira!






Fonte: BuzzFeed; Viral Nova
25 DE JULHO DE 2015
Jéssica Ragazzi

ARTESANATO DA CANALHICE: DA FRAUDE AO AUTOENGANO



Ora, um sujeito tão afável e educado não há de ser tão mau...

O charme do canalha está em que a sua pertinácia é instintivamente assimétrica, maleável, táctil. 
Noutras palavras, o autêntico cafajeste nunca é tedioso porque não costuma percorrer o mesmo caminho duas vezes: muda-o de acordo com as conveniências do momento, até alcançar o sucesso em seus inescrupulosos planos. 
Afinal, ele precisa conhecer bem os incautos que escolhe a dedo e agir de maneira a não revelar jamais as suas verdadeiras intenções, embora as insinue para confundi-los com uma ambigüidade manejada psicologicamente com maestria. A sua arte é transformar em atraente mistério a duvida quanto à natureza do seu próprio caráter.
Esta cordialidade perene e sedutora do genuíno embusteiro é, porém, certo indício de que a sua alma está devotada ao malogro. E
le tempera o cinismo com imaculada simpatia, é prestativo, cortês e não costuma mostrar-se contrariado, pois isto denota fraqueza. Neste exato ponto é importante advertir o seguinte: serpenteante e criativo quando se põe a fraudar alguém, em contrapartida este inato sacripanta reage monocordicamente ao ser pego em flagrante delito, ou quando alguém o tem sob suspeita. 
Nestas ocasiões, com grande lábia ele tergiversa usando de palavras escorregadias, entredentes, se acaso pairam dúvidas sobre a sua conduta; ou nega tudo com total descaro, se por desgraça as evidências dos seus contos-do-vigário simplesmente o soterram. Negar sempre, eis o seu lema.
A hipocrisia com que age o típico canalha aponta para o fato de que ele ainda não ultrapassou a última barreira da moral, pois algo em sua alma ainda faz com que queira parecer bom — ao contrário do sujeito desavergonhado, o qual perdeu a noção de honra e também o filtro do pudor natural que impedia a degenerescência total do caráter. 
Este resquício de dignidade torna o canalha capaz de, eventualmente, verter lágrimas sinceras de compaixão, sentimento de que porém não se deixa impregnar, não obstante lhe dê certa vertigem de bondade, em doses homeopáticas suficientes para tornar a sua consciência leve. 
A possibilidade de uma boa ação totalmente desinteressada lhe dá nojo, é absurda e surreal como a imagem de unicórnios voadores. Mas a maldade em estado de pureza também o incomoda, razão pela qual tempera os malefícios com apaziguadoras auto-justificativas e usa da cordialidade como escudo psicológico protetor, para crer que não seria capaz de ultrapassar certos limites. Ora, um sujeito tão afável e educado não há de ser tão mau...
O problema maior do canalha está exatamente neste lastimável ponto de tangência: as suas habituais fraudes acabam por levá-lo a acreditar nas mentiras que, com ardilosa sutileza, passa a contar a si mesmo, ao ponto de embelezar retroativamente as más intenções e projetar sobre elas algo que, no futuro, as torne menos tangíveis e, portanto, melhor suportáveis. 
Assim vive o canalha até perder totalmente a bússola do senso de proporções, sem a qual a maldade transforma-se em loucura.
Quando numa sociedade — como a brasileira — o número desse tipo de malucos cresce em progressão geométrica, tenhamos a certeza de que a fraude, o furto e a mentira política acabarão, cedo ou tarde, consagrando-se na forma da lei.
Para apaziguar a consciência dos sem-consciência.

25 de junho de 2015
Sidney Silveira
 é professor

DICAS PARA MAIORES DE 60 ANOS


Apresentamos a seguir uma seleção de dicas e sugestões para aqueles que passaram das suas bem-vividas 50 primaveras e para quem ainda não chegou lá e, quando chegar, quer vivê-las plenamente. Algumas você já sabe, outras podem lhe surpreender... Enfim, leia, reflita, coloque em prática o que lhe convém e... tenha uma ótima vida!
 

 
1. É hora de usar o dinheiro (pouco ou muito) que você conseguiu economizar. Use-o para você, não para guardá-lo. Não desfrute-o com aqueles que não têm a menor noção do sacrifício que você fez para consegui-lo. Geralmente alguns parentes, mesmo que distantes, têm ótimas ideias sobre como aplicar o seu suado dinheiro. Lembre-se que não há nada mais perigoso do que um parente com idéias. Atenção: não é época de fazer investimentos grandiosos. Eles acabam trazendo problemas e agora é hora de ter muita paz e tranquilidade. 
 
2. Pare de se preocupar com a situação financeira dos seus filhos e netos. Não se sinta culpado por gastar o dinheiro consigo mesmo. Você provavelmente já ofereceu o que foi possível na infância e juventude, como uma boa educação. Agora, pois, a responsabilidade é deles.
 
3. Não é mais época de sustentar pessoas de sua família. Estamos nos referindo aos "folgados", evidentemente. Seja um pouco egoísta, mas não avarento. Tenha uma vida saudável, sem grande esforço físico. Faça ginástica moderada (como andar regularmente) e coma bem e corretamente.
 
4. Compre sempre o melhor e mais bonito. Lembre-se que, neste momento, um objetivo fundamental é o de gastar dinheiro com você mesmo, com seus gostos e caprichos, bem como os do seu parceiro. Após a morte, o dinheiro só gera ódio e ressentimento.
 
5. Nada de angustiar-se com pouca coisa. Na vida tudo passa, sejam os bons momentos para serem lembrados, sejam os maus, que devem rapidamente ser esquecidos. 
 
 
6. Independente da idade, sempre mantenha vivo o amor. Ame o seu parceiro, ame a vida, ame o seu próximo... E LEMBRE-SE: "Um homem nunca é velho enquanto lhe resta a inteligência e o afeto". 
 
7. Cuide da sua aparência. Frequente o cabeleireiro ou o barbeiro, faça as unhas, vá ao dermatologista, dentista, e use bons perfumes e cremes com moderação. Porque se agora você não é bonito, é, pelo menos, bem conservado. 
 
8. Acompanhe as tendências da moda, adaptando-as ao seu físico e à sua idade.Há pouca coisa mais patética do que uma pessoa de meia-idade com penteados e roupas feitas para gente jovem e sarada. 
 
9. SEMPRE mantenha-se atualizado. Leia livros e jornais, ouça rádio, assista bons programas na TV, visite a Internet com alguma frequência, envie e responda os seus e-mails, e use as redes sociais, mas sem estresse ou como vício. Visite os amigos e receba-os também. 
 
10. Respeite a opinião dos JOVENS. Muitos deles estão melhor preparados para a vida do que você imagina. Como nós quando tínhamos a idade deles.
 
 
 
11. Nunca use o termo "no meu tempo¨. Seu tempo é agora, não se confunda. Pode lembrar do passado, mas com saudade moderada e feliz por ter vivido. 
 
12. NÃO caia na tentação de viver com seus filhos ou netos. Apesar de, ocasionalmente visitá-los por alguns dias como hóspede, respeite a privacidade deles, mas, especialmente, a sua. Se você perdeu o seu parceiro, consiga uma pessoa para ir morar com você e ajudar com as tarefas domésticas. Tome esta decisão somente quando não mais puder cuidar de si mesmo sozinho.
 
13. Pode ser muito divertido conviver com pessoas de sua idade. E o mais importante, não vai funcionar com qualquer um, mas sim se você se reunir com pessoas positivas e alegres, nunca com "velhos amargos". 
 
14. Mantenha um hobby. Você pode viajar, caminhar, cozinhar, ler, dançar, cuidar de um gato, de um cachorro, cuidar de plantas, jogar cartas, damas, xadrez, dominó, golfe, navegar na Internet, pintar, fazer trabalho voluntário em uma ONG, ou colecionar alguma coisa. Faça o que você gosta e o que seus recursos permitem. 
 
 
15. ACEITE convites. Batizados, formaturas, aniversários, casamentos, conferências... Visite museus, vá para o campo... o importante é sair de casa por um tempo. Mas não fique chateado quando não for convidado. Certamente, quando você era jovem também não convidava seus pais para tudo. 
 
16. Fale pouco e ouça mais. Sua vida e seu passado só importam para você mesmo. Se alguém lhe perguntar sobre esses assuntos, seja breve e tente falar sobre coisas boas e agradáveis. Jamais se lamente de nada. Fale em um tom baixo, cortês. Não critique ou se queixe de tudo, aceite situações como elas são. Tudo está passando. 
 
 
17. Dores e desconfortos  sempre surgirão. Não os torne mais problemático do que são. Tente minimizá-los e não transformá-los no principal assunto da sua conversa. Afinal, eles só afetam você e são problemas seus e do seu médico. Lamentações nada conseguem. 
 
18. Se você foi ofendido por alguém, perdoe. Se você ofendeu alguém, peça perdão. Não arraste ressentimentos pela vida. Eles só servem para deixar você amargurado e triste. Alguém disse que "guardar ressentimentos é como tomar veneno esperando que faça efeito em outra pessoa." Não se deixe envenenar.
 
19. Se você tem uma crença ou pratica uma religião, conserve-a. Mas orar e tentar converter os outros o tempo todo como um fanático não levará a nada. Se você é religioso, viva a sua fé intensamente, mas com discrição. 
 
20. Ria-se muito, ria-se de tudo. Você é um sortudo, você está tendo uma vida longa, e a morte só será uma nova etapa, uma etapa desconhecida, assim como foi incerta toda a sua vida. 
 
21. Não faça caso do que dizem a seu respeito, e menos ainda do que pensam de você. Se alguém lhe diz que agora você não faz nada de importante, não se preocupe. A coisa mais importante já está feita: você e sua história, boa ou ruim, foi e ainda está sendo escrita. Agora, é o momento de descansar, ficar em paz e ser tão feliz quanto for possível.
 
 
 
E LEMBRE-SE: "A vida é muito curta para beber vinho ruim!"


25 de junho de 2015

UM RETROSPECTO DA RECENTE HISTÓRIA DAS ARTES CÊNICAS: INVENTÁRIO DA BARBÁRIE




Quatro espetáculos atestam a vitalidade do teatro paulistano que se recusa a reproduzir e a encenar a mercantilização da arte



É social-democrata a idéia de que o acesso às artes e à cultura, bem como à saúde, à educação e à previdência, constituem direitos dos cidadãos a serem assegurados pelo Estado. Ela está enunciada na Constituição-cidadã de 1988, mas já aprendemos que seus autores estavam na contramão da história. Bem entendido: da história dos feitos neoliberais, cujo tsunami atravessara os Estados Unidos, Inglaterra e outros países menos cotados do dito Primeiro Mundo, e em breve alcançaria também o Brasil. Assim, o rumo da nau Constituição-cidadã começou a ser corrigido já no governo Collor, e, para espanto de muitos distraídos, vem sendo aperfeiçoado desde que chegou ao poder a social-democracia à brasileira (agora no segundo mandato da sua segunda versão, a de raiz sindical).

Nessa correção de rumos, a última década do século xx se caracterizou pelo aprofundamento e generalização da barbárie mercadológica também no campo da produção cultural, alhures e no Brasil. A cultura virou big business não mais restrito à velha indústria cultural, mas agora envolvendo grandes bancos, corporações e, obviamente, o Estado, por meio das famigeradas leis de renúncia fiscal. A parte propriamente privada e nebulosa das negociatas teve como objeto a chamada alta cultura.

Com o sumiço da figura do investidor disposto a correr riscos, nossos produtores teatrais se organizaram em grupos. Chegaram a acreditar que o grande capital se interessaria em associar sua imagem a espetáculos relevantes ou de qualidade. Durante certo tempo, essa miragem foi cultivada por algumas corporações, que chegaram a ganhar muito dinheiro (o nebuloso, que ninguém calcula) "patrocinando" espetáculos, exposições e outros empreendimentos de "alto nível". Não demorou até que a maioria dos artistas não convidados para a festa pobre percebesse duas coisas. Primeiro, que os mais freqüentes "patrocinadores" eram empresas estatais. Segundo, que os gerentes de marketing torciam o nariz para projetos interessados na realidade social - talvez porque a realidade social fosse produzida pela mesma política que transformara os gerentes de marketing em agentes informais de uma nova forma de censura prévia da produção teatral.

Como as escolas de teatro públicas e privadas já passam de 30 só na cidade de São Paulo, a massa de produtores teatrais não pára de crescer. E todos os anos levas de novos formandos em teatro são despejados sobre palcos já ocupados. A maioria deles, obviamente, se deu conta de que o mercado das artes cênicas não tem espaço para tanta gente. Ainda mais quando os encarregados de decidir onde aplicar o rico dinheirinho da conta de publicidade inflada pela renúncia fiscal mostram indiscutível preferência por atrações internacionais. O recente patrocínio à turnê do Cirque du Soleil, que provocou tanto mal-estar no ano passado, não foi o primeiro nem será o último caso. A proliferação dos grupos de teatro é quase um desdobramento lógico desse processo.

No dia 7 de maio de 1999, como resposta ao avanço da onda mercadológica, um coletivo de grupos de teatro lançou um manifesto chamado Arte contra a barbárie, que foi publicado no O Estado de S. Paulo. O jornal dedicou uma página à novidade e informou que o texto seria discutido em reunião aberta, a se realizar dias depois no Teatro Aliança Francesa. Quem compareceu ficou tão surpreso com a superlotação da casa quanto os signatários. A partir daquele dia, a parte mais interessante da cena paulistana passou a integrar uma espécie de movimento que atende pelo nome do manifesto.

O Arte contra a Barbárie, no início, era composto pelos grupos Companhia do Latão, Folias D'Arte, Parlapatões e Pia Fraus (que apresentaram Hércules, no vale do Anhangabaú, em São Paulo), Tapa, Monte Azul e União e Olho Vivo, assim como pelos artistas Aimar Labaki, Fernando Peixoto, Gianni Ratto e Umberto Magnani. Hoje, mais de cem grupos participam, de alguma forma, do movimento. O manifesto, que se tornou referência para todos os interessados em fazer teatro (e também para artistas de outras áreas, mas essa é uma história que fica para depois), reafirmava os direitos à "produção, circulação e fruição de bens culturais" e, em nome deles, denunciava que era inaceitável a mercantilização imposta à cultura. Dado que a operação mercadológica se limitava a explorar os produtos "culturais" já existentes - cultivando inclusive a ilusão de que no Brasil existiria um mercado -, o manifesto e o movimento reivindicavam condições para a realização contínua do trabalho e da pesquisa artística. Em poucas palavras: eles chamavam o Estado, àquela altura totalmente aparelhado pelos neoliberais, a assumir suas responsabilidades constitucionais ainda não revogadas.

O manifesto declarava ser "imprescindível uma política cultural estável para a atividade teatral" e enumerava algumas ações emergenciais. Entre elas, a destinação de mais verbas para órgãos públicos voltados à cultura, o apoio à manutenção dos grupos de teatro, a criação de mecanismos de fomento à pesquisa e experimentação teatral, políticas permanentes para a construção, ocupação e manutenção de teatros públicos e programas de circulação de espetáculos pelo país.

Sete meses depois, em janeiro de 2000, o Arte contra a Barbárie apresentou um ácido balanço das providências tomadas pelos poderes públicos. Além de não terem aberto um único canal de diálogo, simplesmente suspenderam programas existentes até o ano anterior, como que para caracterizar uma retaliação.

Em algum momento, os artistas concluíram que eles próprios teriam de apresentar propostas concretas de interferência na legislação. Tal trabalho consumiu quase dois anos (em parte porque o grupo teve de se adaptar aos ritmos da campanha eleitoral que levou o pt, pela segunda vez, à administração municipal), mas afinal resultou na proposta da Lei de Fomento ao Teatro. Aprovada por unanimidade pela Câmara Municipal em dezembro de 2001, a lei foi sancionada pela prefeita Marta Suplicy no mês seguinte. Pairava no ar uma vaga promessa de tempos de social-democracia ao velho estilo. Na contramão da especulação cultural, ainda e sempre hegemônica, a Lei de Fomento passou a destinar uma verba anual de 6 milhões de reais (atualizáveis) para a manutenção de grupos que desenvolvessem pesquisas continuadas de experimentação teatral. Ou, o que é praticamente a mesma coisa, para trabalhos sem condições de atrair o interesse do mercado.

É consenso, entre os grupos, que a lei provocou um pequeno terremoto na cena paulistana. Afinal, nesses cinco anos de vigência, estimulou a apresentação de mais de mil projetos. Desse total, foram selecionados 143, desenvolvidos por 75 grupos. Segundo a comissão julgadora (cujas atas são documentos públicos) da edição de janeiro deste ano, dos 105 projetos inscritos, 60 foram considerados aptos - mas a limitação das verbas só permitiu destiná-las a onze. Esses números indicam a existência daquilo que os economistas chamam de demanda reprimida, fato que tem pautado as discussões do Arte contra a Barbárie. O movimento paulistano inspirou iniciativas similares em âmbito estadual e federal, até agora sem resultados.

Terremotos geralmente provocam reajustes nas camadas terrestres. Às vezes, tão-somente por permitir a irrupção daquilo que estava submerso. Foi mais ou menos o que aconteceu na cidade. Surgiram, por exemplo, novos espaços. É o caso da Fábrica São Paulo, uma antiga fábrica de aparelhos de televisão que virou teatro (não se deve desprezar a simbologia!), da Companhia do Feijão (ao lado do Teatro de Arena), dos espaços que abrigam os Satyros, os Parlapatões e o Núcleo do 184. Essa lista se limita aos lugares que devem sua existência à lei e que se localizam no centro da cidade. Houve também a consolidação de locais e projetos como o Galpão do Folias, em Santa Cecília, e o Engenho Teatral, que dispõe de uma estrutura móvel, como a dos circos, e está instalado atualmente numa área municipal do Tatuapé (na zona leste).

Se a Lei de Fomento só tivesse servido para viabilizar esses locais (entre os cerca de trinta contemplados), já haveria muito o que comemorar. Mas, além dessa questão básica, que diz respeito à existência mesma dos grupos e está longe de ter sido resolvida, os artistas reivindicam espaços os mais variados. Reivindicam inclusive as ruas, para nelas dizer e mostrar o que não se vê, a não ser desfigurado (ou enquadrado por padrões estéticos regressivos), nos cinemas, nos canais de televisão e mesmo nos mais de cem teatros convencionais da cidade.

Quatro espetáculos servem de exemplo da vitalidade da cena teatral ligada ao Arte contra a Barbárie: Hygiene, Sombras dançam neste incêndio, Miopia e Frátria amada Brasil. Fundado no ano 2000, por alunos formados na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, o Grupo XIX deu o nome de Hysteria ao seu primeiro trabalho, que fez carreira internacional. Em 2004, ele foi contemplado pela Lei de Fomento com um projeto de residência artística no setor em ruínas da Vila Operária Maria Zélia, construída em 1917, no bairro do Belenzinho. Ali, foi criado Hygiene, espetáculo que se integra ao espaço e apresenta um amálgama de resistência e ruínas de grande interesse estético.

O grupo pesquisou a história da Vila Maria Zélia e a da classe que lhe deu sentido. Deparou-se com um material explosivo, ao qual deu a forma de teatro processional, pois a certa altura do trabalho ficou claro que seria encenado um processo histórico. Foi assim que, além de duas ruas da Vila, o trabalho explorou os seguintes lugares, todos em risco de desabamento iminente: um armazém (bilheteria), a fachada frontal da igreja, a pequena praça diante da igreja, portas e janelas de casas da rua lateral e o que, antigamente, havia sido o pátio de uma escola. Durante o percurso, o grupo conta uma série de histórias, entrelaçadas pelo tema da limpeza étnico-social. Segundo o pacto ficcional, todos somos moradores de um cortiço, que será evacuado pela polícia em nome da saúde pública, e fomos convidados para uma festa de casamento e de resistência contra a ação policial.

Para não fazer suspense, é bom avisar que ninguém ali se engana sobre as alegações do poder público (o pessoal da higiene e da polícia) para levar a efeito as diversas batalhas dessa guerra de classes: os pobres sabem que têm de sair do caminho da especulação imobiliária, enquanto o poder exercido em seu nome esbanja violência para limpar o terreno onde será implantado o bem-estar dos donos da vida. Como diz a menina-factótum apregoando os seus jornais: "Eta, eta, eta/ Que na Gazeta oficial só tem uma notícia pra ser lida!/ É trezentos cortiços no chão/ E viva a nova avenida!".

O espetáculo começa com a festa de casamento. De estação em estação, há cenas com orações à Nossa Senhora do Rosário (dos homens pretos), com imigrantes portugueses, italianos, espanhóis e anarquistas (cada qual com o seu sotaque), danças de São Gonçalo e São Benedito (congada), dança das sete saias, cordão de carnaval, orixás, mistura de catolicismo e candomblé, Maria Padilha e toda a sua quadrilha e ditados portugueses "inocentes", como "trabalho de criança é pouco, mas quem dispensa é louco". As cenas se multiplicam a perder de vista, de modo a contrapor a festa à violência e a afirmar a utopia da confraternização dos excluídos (sem prejuízo de seus conflitos menores, às vezes de caráter inter-pessoal) como forma de resistência até o último instante. Num contraponto não menos revelador, testemunhamos também a desilusão do adepto da ideologia dominante, que vê a sua pequena propriedade vir abaixo, apesar dos esforços (de fachada) que empreendeu para se adequar às ordens das autoridades sanitárias. O teorema não deixa margem a enganos: diante da força armada do grande capital, até os pequenos proprietários são massacrados.

A procissão de Hygiene começa na porta da igreja, com a saída do casamento e, de estação em estação, avança para o pátio do cortiço, no colégio em ruínas. Ali, é enquadrada no formato do teatro italiano, em cena basicamente frontal, que, no entanto, contempla inúmeras camadas temporais. O público, agora separado do elenco e convertido em espectador por meio da intervenção violenta da autoridade, assiste passivamente ao relato dos últimos sonhos daqueles desvalidos. E assim, assiste também à consumação das derradeiras violências - as mortes e a arrumação dos trastes dos "sobreviventes" que, expulsos dali, não têm idéia de para onde seguir.

O depoimento formal desse último movimento do espetáculo pode não ter sido deliberado, mas ele faz o público vivenciar uma experiência que está na própria origem do teatro-mercadoria, pois o palco italiano corresponde a uma forma específica de violência social, exercida em nome da adoção de hábitos culturais alegadamente mais higiênicos. Uma vez submetido à violência, o público tem bloqueada a sua participação na produção coletiva da arte. O público se torna passivo - leia-se: perde a capacidade e a autonomia para agir -, vira mero consumidor de espetáculos. Hygiene ilustra a tese básica do manifesto Arte contra a Barbárie: mesmo cobrando ingressos (preços populares), o número dos que podem acompanhar cada apresentação é tão pequeno (cerca de 50 pessoas), que a bilheteria não cobre sequer os custos do espetáculo.

Ainda na mesma região, um pouco mais adiante, na Cidade Patriarca, desenvolve-se há sete anos o trabalho do grupo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes, integrante do movimento Levante Cultural Leste. Abertamente político, de inspiração libertária, o grupo ultrapassa em muito a mera criação de espetáculos, que, entretanto, é parte de seus compromissos. Isso ocorre porque os seus integrantes são da comunidade e nela lutam por direitos, como o acesso à cultura e a meios de produção cultural para todos. Com essa pauta, ocuparam um galpão abandonado e o transformaram em centro de cultura, oficialmente reconhecido pelo poder público. Recorrendo a mutirões, plantaram árvores e construíram um teatro de arena ao ar livre. Promovem ali e em locais próximos, como a Praça Macedo Braga, na Vila Matilde, espetáculos de teatro, de música e poesia, seminários, aulas, oficinas - sempre com a perspectiva de contribuir para a formação de novos grupos de artistas.

Sombras dançam neste incêndio, espetáculo itinerante apresentado em seu galpão, narra a história de um casal que se conheceu numa manifestação política. Mais especificamente, durante uma tentativa de ocupação do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, por um grupo de trabalhadores sem-teto. Um dos objetivos da montagem é debater a finalidade social da propriedade pública e da privada. Por meio da trajetória do casal - ele é um estudante de arquitetura que põe sua formação técnica a serviço dos mutirões, e ela, uma das líderes da ocupação -, também discute o peso da ideologia dominante. Tal ideologia se traduz na busca espiritual e individual que põe a perder uma relação amorosa e socialmente produtiva, mas sobredeterminada pelo núcleo familiar, exposto como célula-mater da sociedade consumista.

Com o projeto Anjos do desespero, a Segunda Trupe de Choque foi contemplada pela Lei de Fomento em junho de 2004. Desde o início daquele ano, ela ocupava a Usina de Compostagem de Lixo de São Mateus, outro bairro da zona leste. A usina havia sido desativada e ali passou a funcionar uma cooperativa de lixo reciclável.

(A história merece um breve registro. O poder público decidiu, sabe-se muito bem como, instalar a tal usina num terreno imenso e acidentado. Tão logo ela começou a funcionar e a exalar seus odores característicos, a população atingida se mobilizou para exigir a interdição do lugar. Com a vitória, o espaço foi abandonado, mas ficou sob a cuidadosa vigilância dos funcionários da prefeitura. Possivelmente para evitar roubo das máquinas? Em busca de espaço para suas atividades, os integrantes da Trupe souberam do caso e trataram de ocupar aquele monumento ao desperdício. Forte candidata a se transformar em mais um centro cultural, desde então, a usina oferece oficinas e estágios para atividades culturais e pedagógicas, sempre voltadas para a população local e, por isso mesmo, gratuitas.)

Em que pesem outras atividades, ali a criação teatral tem prioridade. Como no caso de Hygiene, o primeiro trabalho desenvolvido pela Trupe, Miopia, se inspirou no próprio espaço e sua história. A partir de uma análise do tema da destruição e construção contínuas como paradigmas da ocupação do espaço no capitalismo, Miopia é também uma peça itinerante, na qual o público segue a mesma trajetória do lixo - de equipamento em equipamento -, num lugar habitado por imensas máquinas abandonadas, incapazes de digerir a quantidade crescente de sujeira produzida pela cidade.

O enredo que organiza a experiência provém de um fato real, também de limpeza étnico-social. Nos anos 30, o poder público expulsou um grupo de trabalhadores desempregados que ocupava uma praça de São Paulo. Deportados para o Mato Grosso, uma espécie de fim-de-mundo na época, eles fundaram lá uma cidade utópica - a miopia do título. Em pouco tempo a cidade naufragou, como conseqüência da continuidade das relações sociais determinadas pela mercadoria, das quais aqueles trabalhadores já tinham sido triplamente vítimas.

Uma cena de Frátria amada Brasil, espetáculo do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos que estreou no ano passado, resume o conjunto das questões de estética teatral debatidas por boa parte dos grupos do Arte contra a Barbárie.

Essa cena crucial de Frátria se inspira num canto da Odisséia. Nele, o herói Odisseu (Ulisses) relata aos feácios que se deparou no Hades (o Inferno) com Elpenor, o guerreiro que ficou insepulto na ilha de Circe, pois morreu ao cair da torre do palácio na hora da fuga. Elpenor solicita as exéquias a que tem direito, e para este fim Odisseu volta à ilha com o que restou de sua esquadra. À pergunta sobre que tipo de gente corresponderia ao "Ninguém" com que Odisseu se apresenta, o Núcleo respondeu que seriam as vítimas da barbárie em andamento: os milhões de pessoas que circulam pelas ruas de São Paulo.

O Núcleo aproveitou, também, uma das mais célebres cenas de funeral do teatro dramático: o sepultamento de Ofélia, em Hamlet, no feudo de Elsenor. Ilustrando a tese hegeliana de que humanidade se despede alegremente de seu passado, o enterro é um dos momentos mais hilariantes de Frátria. A cena é uma espécie de acerto de contas com a tradição teatral que interessa vivamente ao mercado e que, apesar de morta, continua a resistir tanto nos palcos como nas expectativas daquela parcela do público que se deixa pautar pelos meios de comunicação.

Em consonância com o registro "baixo" - uma das diretrizes do espetáculo -, Hamlet e a chegada do féretro com a corte dinamarquesa foram eliminados da cena. Nela dominam os "clowns de Shakespeare" (como diria Manuel Bandeira). São eles que trazem o caixão, interpretando versos de Funeral de um lavrador, de João Cabral de Melo Neto, em linguagem de rap, que é também corporal. A leitura se impõe: enquanto em Shakespeare os clowns cedem o passo, a cena e o discurso para a monarquia e seu cortejo, aqui os trabalhadores-coveiros seguem até o desfecho com as rédeas na mão.

No lugar da discussão shakespeareana sobre o suicídio de Ofélia, os coveiros de Frátria discutem o empenho da humanidade em evitar a morte. É uma discussão divertidíssima que funciona como legenda para o desfecho. É quando Paloma (substituindo Hamlet e encarnando Elpenor) irrompe, interpelando coveiros e espetáculo e, ainda por cima, reclamando da modalidade "interativa". Então, aos poucos, os coveiros esclarecem ser dela própria o cadáver que acaba de ser sepultado. Assim, só lhe resta sair de cena, levando junto suas expectativas dramáticas de público treinado pelos espetáculos de entretenimento.

Raras vezes a cena produzida pelos grupos paulistanos criou uma imagem tão eloqüente, como a desse funeral, para identificar quem são os nossos adversários - nos palcos e nas platéias.

Brecht passou a vida inteira acusando o teatro dramático - a que chamava "empório de entretenimento" - de ter degenerado em um ramo do tráfico burguês de narcóticos. Frátria mostra essa tese em cada uma de suas estações, a começar pela transformação da miséria em objeto de desfrute cultural.


25 de junho de 2015
Iná Camargo Costa

LYA LUFT: CANÇÃO PENSATIVA




Um toque da solidão, e um dedo
severo me traz à realidade: não depender
dos meus amores, não me enfeitar
demais com sua graça, mas ver
que cada um de nós é um coração sozinho.
Cada um de nós perenemente
é um espelho a se mirar, sabendo
que mesmo se nesse leito frio e branco
um outro amor quer derramar-se em nós,
entre gélido cristal e alma ardente
levanta-se paredes para sempre.
(E para sempre
a amante solidão nos chama e abraça.)

25 de junho de 2015