sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A VAQUINHA

Um mestre da sabedoria passeava por uma floresta com seu fiel discípulo, quando avistou ao longe um sítio de aparência pobre e resolveu fazer uma breve visita.

Durante o percurso, ele falou ao aprendiz sobre a importância das visitas e as oportunidades de aprendizado que temos, com as pessoas que mal conhecemos.

Chegando ao sítio, constatou a pobreza do lugar. Sem calçamento, casa de madeira, os moradores, um casal e três filhos, vestidos com roupas rasgadas e sujas. O mestre então, aproximou-se do senhor, aparentemente o pai daquela família, e perguntou:

- “Neste lugar não há sinais de pontos de comércio e de trabalho. Como o senhor e sua família sobrevivem aqui?”

E o senhor respondeu:

- “Meu amigo, nós temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite todos os dias. Uma parte desse produto nós vendemos ou trocamos na cidade vizinha por outros gêneros de alimentos; a outra parte nós produzimos queijo e coalhada para nosso consumo, e assim vamos sobrevivendo”.

O sábio agradeceu pela informação, contemplou o lugar por uns momentos, despediu-se e foi embora. No meio do caminho ordenou ao seu discípulo:

- “Pegue a vaquinha, leve-a ao precipício ali na frente e empurre-a, jogue-a lá para baixo!”

O jovem arregalou os olhos, espantado, e questionou o mestre sobre o fato da vaquinha ser o único meio de sobrevivência da família. Mas, como percebeu o silêncio absoluto do mestre, foi cumprir a ordem. Empurrou a vaquinha morro abaixo e a viu morrer.

Aquela cena ficou marcada na memória daquele jovem durante alguns anos, até que, um belo dia, ele resolveu largar tudo o que havia aprendido e voltar naquele mesmo lugar e contar tudo para aquela família, pedir perdão e ajudá-los. E assim o fez.

Quando se aproximava do local, avistou um sítio muito bonito, com árvores floridas, todo murado, um carro na garagem e algumas crianças brincando no jardim. Ficou triste e desesperado, imaginando que aquela humilde família tivera que vender o sítio para sobreviver.

Apertou o passo e logo foi recebido por um caseiro muito simpático, e então perguntou sobre a família que ali morava há uns quatro anos. O caseiro respondeu:

- “Continuam morando aqui”.

Espantado, ele entrou na casa e viu que era a mesma família que visitara antes com o mestre. Reconheceu o senhor, dono da vaquinha, elogiou o local e perguntou:

- “Como o senhor melhorou este sítio e está tão bem de vida?”

E o senhor, entusiasmado, respondeu:

- “Nós tínhamos uma vaquinha que nos dava todo o sustento da família, mas um dia ela caiu no precipício e morreu. Daí em diante tivemos que fazer outras coisas e desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos. Assim, alcançamos o sucesso que seus olhos vislumbram agora!

A história termina aqui, mas deixo um ponto de reflexão:

Todos nós temos uma “vaquinha” que nos dá alguma coisa básica para a nossa sobrevivência e uma convivência com a rotina!

Descubra qual é a sua!

Aproveite este restinho de ano pra empurrar a sua vaquinha morro abaixo e construir algo de novo! Sem desafios não há conquistas!!

Pense nisso!

Desconheço a autoria.

AFINIDADE

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. O mais independente.

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.

Afinidade é não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial.

Ter afinidade é muito raro. Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de expressar a um não-afim, sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavra. É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com. Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo. Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado. Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar. Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por. Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo. Mas quem sente com, avalia sem se contaminar. Compreende sem ocupar o lugar do outro. Aceita para poder questionar. Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Só entra em relação rica e saudável com o outro, quem aceita para poder questionar. Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é. E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso. Isso é afinidade!

Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita o outro como ele é. Por isso, aliás, questiona.

Questionamento de afins, eis a (in)fluência. Questionamento de não afins, eis a guerra!

A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele. Independente dele. A quilômetros de distância. Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar. Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar, por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos. Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos, veremos ou falaremos.

Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem para buscar sintomas com pessoas distantes, com amigos a quem não vemos, com amores latentes, com irmãos do não vivido?

A afinidade é singular, discreta e independente, porque não precisa do tempo para existir. Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu o vínculo da afinidade! No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação exatamente do ponto em que parou.

Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas nem pelas pessoas que as tem. Por prescindir do tempo e ser a ele superior, a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente. Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós, para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.

Sensível é a afinidade. É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido. Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau, porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.

Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir restituir o clima afetivo de antes, é alguém com quem a afinidade foi temporária. E afinidade real não é temporária. É supratemporal.

Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta, ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade. A pessoa mudou, transformou-se por outros meios. A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas, plantios de resultado diverso.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças, é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas, quantos das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou, sem lamentar o tempo da separação. Porque tempo e separação nunca existiram. Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar.

E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais, a expressão do outro sob a forma ampliada e refletida do eu individual aprimorado.

By Arthur da Távola.

DA ARTE DE PEDIR

Uma das maiores virtudes de uma fêmea é arte de pedir.

Como elas pedem gostoso.

Como elas são boas nisso.

Resistir, quem há de?

Um simples “posso pegar essa cadeira, moço?” vira um épico. É o jeito de pedir, o ritmo da interrogação, a certeza de um “sim” estampado na covinha do sorriso.

Pede que eu dou.

Pede todas as jóias da Tiffany´s, minha bonequinha de luxo!

Estou pedindo: pede!

Eu imploro, eu lhe peço todos os seus pedidos mais difíceis.

Pede a bolsa de cerejas da Louis Vuiton, pede o shopping inteiro, pede a Daslu.

Pede que compro nem que seja no camelô.

Não me pede nada simples, faz favor.

Já que vai pedir, que peça alto. Você merece.

Como é lindo uma mulher pedindo o impossível, o que não está ao alcance, o que não está dentro das nossas posses.

Podemos não ter onde cair morto, mas damos um jeito, um truque, um cheque sem fundos.

Até aqueles pedidos silenciosos, quando amarra a fitinha do Senhor do Bonfim ou de Nossa Senhora do Carmo no braço, são lindamente barulhentos.

Homem que é homem vira o gênio da lâmpada diante de uma mulher que pede o impossível.

Ah, quero o batom vermelho dos teus pedidos mais obscenos.

Quero o gloss renovado de todas as vezes que me pede para fazer um pedido, assim, quase sussurrando no ouvido: “Amor, posso te pedir uma coisa? Posso mesmo?”

Um castelo na Inglaterra?

Sim, eu dou na hora.

Sim, eu opero o milagre.

Como no pára-choque, o que você pede chorando que não faço sorrindo?!

Pede, benzinho, pede tudo.

Que eu largue a boemia,pare de beber e me regenere???

Pede, minha nega, que o amor tudo pode.

Mesmo as que têm mais poder de posse que todos nós não escapa de um belo pedido.

Com estas, as mais poderosas, tem ainda mais graça. Elas pedem só por esporte, o que não lhes comprometem a pose e muito menos a independência.

Não é questão de poder ou dinheiro.

O charme e o que importa é o pedido em si, o romantismo que há guardado no ato.

Os melhores cremes da Lancôme? Vou a Paris agora. Estou pronto.

Eu lhe peço: me pede.

Não pede mimos baratos, pede atenção, por exemplo, essa mercadoria tão cara ao mundo das moças. Pede, sou o senhor de todas as tuas demandas.

xico sá

O MUNDO É DOS CHATOS

"Será que sou um poeta chato?". Perguntou-me ontem um dos amigos que fazem a minha oficina no b_arco. Porque a poesia que ele faz é cerebral, matemática. "Filosófica", corrigiu ele, etc. e tal. E fiquei eu com a indagação. Levei a questão para casa. A buzinar no meu juízo. Será que serei idem um prosador pentelho? Lá vem ele falar de microcontos. O mala, mais uma vez, falar de negros e despossuídos. Não tem um pensamento brilhante. Uma palavra que valha a cerveja que ele toma. Ave! Aí me veio a cabeça, por exemplo, o recém-lançado livro de poemas Esquimó, do Fabrício Corsaletti. Mó legal! O cara não tem uma poesia-pedestal. Digo assim: a poética de nariz em pé. Querendo ser. Ele é o que é. Discreto e interiorano. E tem coisa mais fora da roda? Quem aguenta esse papo caipira? Dirão. Sempre tem uma hiena de plantão. Se correr o bicho pega. Cola e gruda. Quanta gente vive sugando a nossa paciência, não? O importante é a pulsação. Rarará. Perdão pela amolaçao. Esse pôste, na verdade, é para dizer que o poema Seu Nome, do livro do Corsaletti, é o que eu gostaria de ter escrito. Simples. Poesia que já nasce clássica. Sei, sei. Tem coisa mais chata? Tamanha afirmação? Aproveito o assunto para falar do livro Os Famosos e os Duendes da Morte, de Ismael Caneppele. Em minhas mãos, agora. Saído do forno. Primeiro foi lançado como filme - dirigido por Esmir Filho e grande vencedor do Festival do Rio 2009. E ufa! Finalmente o original conseguiu uma editora, a Iluminuras. Faz tempo conheço o Caneppele - assino eu a orelha da edição. Baita escritor. Na dele, escreve solto. Escreve leve. Sem pose. O segredo é este: seguir na sua. Meio que distraído. Hoje mesmo estou meio esquisito. Meu Cristo! Melhor ir embora. Antes, a saber: respondi ao amigo. "Seja chato. Mas seja o melhor chato do mundo". Rarará.
Cada macaco no seu parágrafo, pois é. Só falta você. Poeta ou prosador. E mais não digO. Aquelabraço e beijos no umbigO. Com amor. Fui. E té. marcelino freire

GELÉIA GERAL


A velhinha falou: "mocotó". Ouvi. Falou: "geleia de mocotó". Quando passei, não sei, pelo Pão de Açúcar. Lembrei, pois, da minha mãe. Eu, tão fraquinho. "Esta geleia de mocotó é só para o Marcelino". Reservava sempre uma quantia. Para o filho doente. Cenoura, maçã. Para ele crescer um homem forte. Amanhã e sempre. "Hoje tudo tão mudado". Diz uma outra velha. A mais sapeca entende de códigos. A barra que é envelhecer. Saudades do marido, quem sabe? A outra nem quer saber. "O traste me deu trabalho até na hora de morrer". O tráfego dos carrinhos. No ziguezague. Quanta coisa boa! Nas prateleiras. Recordo: meu olho passeando nos chocolates. "É caro". No sorvete. "Só quando você fizer aniversário". Uns cem anos. Quase. A impressão é que as velhinhas morrerão ali. Enfileiradas. Sentadinhas, tadinhas, no banco do supermercado. O que esperam? Em silêncio, às vezes. Branquinhas. Quem, hein, menina, as levará para casa? Produto, assim, vencido? Eu tinha de ler para a minha mãe não correr risco. "Veja, filho, o prazo". O preço alto que pagamos. Diariamente. "Menino inteligente". Geleia de mocotó nele. "Para ser gente". A velha falou algo como: "futuro". Antes que tudo apodreça, em promoção. "Aperta para ver se está maduro".
Marcelino Freire

O PODER DOS AFETOS

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