domingo, 21 de fevereiro de 2016

A RESSURREIÇÃO É APENAS DO ESPÍRITO, E NÃO DO CORPO CARNAL




“Ressurreição” é a ação de elevar-se ou subir ao mundo espiritual, quando o corpo morre, e na carne, quando se encarna. Existe um dogma, que respeitamos como respeitamos todos os outros, que ensina que a ressurreição é do espírito e do corpo carnal: “Creio na ressurreição da carne”
Mas ela é do espírito e do períspirito ou corpo espiritual de São Paulo. “Se há corpo natural, há também corpo espiritual, e ressuscita corpo espiritual” (1 Coríntios 15: 44), o qual é de matéria quinta-essenciada (sutilizada no seu mais alto grau).
O corpo espiritual paulino é o que Kardec denominou de períspirito. São Paulo o chamou também de corpo incorruptível e celestial. 
E o perispírito já era conhecido dos médiuns videntes por todas as culturas antigas, de que passo a dar alguns exemplos de até 5.000 anos a. C.: 
“Ka” (Egito); “Linga Sharira”, “Kama-Rupa” e “Mano-Maya-Rosha” (Índia); 
“Corpo Aeriforme” e “Khi” (China); “Nephesh” (Israel); 
“Corpo Sutil da Alma”, “Ochema”, “Eldôlon” e “Corpo Luminoso” (Grécia); 
“Carne Sutil da Alma” (Pitágoras); 
“Corpo Astral” ou “Vestrum” (Paracelso); 
“Astroiedê” (Neoplatônicos); 
“Corpo Aéreo” e “Ígneo” (Plotino); 
“Veículo da Alma” (Próclus); 
“Corpo Fluídico” (Leibnitz); 
“Mediador Plástico” (Cudwerth); 
“Arqueu” (Van Helmont); 
“Influxo Físico” (Euler, matemático e astrônomo); 
“Modelo Ideal” (Saint Hilaire, naturalista); 
“Luz ódica” (Reichenbach); 
“Fantasma Póstumo” (Dassier); 
“Corpo Vital da Alma” (Tertuliano); 
“Aura” (Orígenes); 
Rouach (Kabala Hebraica); 
“Boadhas” (Zen Avesta); 
“Imago” (latinos); 
“Pneumá” (Santo Hilário, São Basílio De Cesareia, Santo Atanásio, São Cirilo De Alexandria, São Bernardo e Santo Agostinho).
PERISPÍRITO
A existência do perispírito foi provada cientificamente por cientistas russos, ao qual deram o nome de “corpo bioplásmico”
A Igreja o tem chamado de corpo glorioso ou corporalidade, e deixa claro que não é como corpo físico que temos. Mais recentemente, muitos teólogos católicos dão-lhe o nome de corpo pancósmico.
São Paulo pergunta: como ressuscitam os mortos? Em que corpo vêm? E Paulo compara o corpo enterrado com uma semente enterrada também na terra, a qual morre, não sendo ela, pois, o corpo novo que nasce ou ressuscita. Em outras palavras, não é o cadáver que ressuscita (1 Coríntios 15: 35 a 38).
QUEIRUGA CONFIRMA
Para o espanhol André Torres Queiruga, autor de “Repensar a Ressurreição”, considerado o maior teólogo católico vivo do momento, a ressurreição é do espírito com o seu corpo espiritual, e não do carnal, e afirma que ela ocorre na hora da morte. 
E mais, segundo ele, a ressurreição de Jesus foi também de seu Espírito com o seu corpo espiritual e, igualmente, na hora de sua morte: “Pai, em vossas mãos entrego meu Espírito!” (Lucas 23: 46).
E terminamos com São Pedro, que nos demonstra também que a própria ressurreição de Jesus não é mesmo do corpo físico (Primeira Carta de Pedro 3: 18), pois ele diz, referindo-se a Jesus Cristo: “…morto, sim, na carne, mas ressuscitado em Espírito, no qual ele foi pregar aos espíritos que estavam no “hades” (inferno)”
E isso nos demonstra também que aqueles que vão para o “hades” ainda têm chance de regeneração, senão Jesus não iria perder seu tempo de pregar para os espíritos que foram para lá!
21 de fevereiro de 2016
José Reis ChavesO Tempo

O MUNDO DOS ESCROQUES E SEUS TRUQUES

Por que somos tão suscetíveis a golpes e fraudes?

O livro é um olhar fascinante na psicologia por trás dos estratagemas para ganhar dinheiro por meios desonestos (Foto: YouTube)


As pessoas, a princípio, são confiáveis, uma qualidade importante no momento em que o progresso exige cooperação e, por esse motivo, mais confiança em seus pares. Os países com níveis mais altos de confiabilidade crescem com mais rapidez e têm instituições públicas mais estáveis. Cidadãos confiáveis são mais saudáveis, mais felizes e têm uma probabilidade maior de iniciar seu próprio negócio. Algumas pessoas agem de má-fé, mas, em última análise, poucas são desleais. Essa é uma ótima notícia para a humanidade e para os vigaristas.

Existem pessoas com um talento especial para inspirar confiança, como os “aristocratas do crime” descritos por Maria Konnikova em seu livro The Confidence Game: The Psychology of the Con and Why We Fall for It Every Time, um olhar fascinante na psicologia por trás dos estratagemas para ganhar dinheiro por meios desonestos, desde o esquema Ponzi de Bernie Madoff ao golpe clássico do jogo dos três copos e uma bola. 
Os vigaristas mais talentosos têm um dom de persuasão especial: as vítimas são enganadas por livre e espontânea vontade e muitas não descobrem que foram ludibriadas.

As histórias do livro são muito interessantes. Bem antes de Madoff, William Franklin Miller, um homem com uma aparência de um colegial, convenceu alguns amigos em 1889 que suas “informações privilegiadas” na Bolsa de Valores de Nova York garantiriam um retorno semanal de 10% no mercado de ações. 
A notícia espalhou-se com rapidez. No final do ano, Miller tinha quase US$1,2 milhão em depósitos de mais de 12 mil investidores.

Mesmo depois que os jornais questionaram sua sorte nos negócios, novos investidores lhe enviaram cartas com dinheiro dentro dos envelopes. Só após o julgamento a extensão de seu esquema fraudulento foi desvendada. Miller não era um comerciante, mas sim um homem que descobrira que não era difícil vender uma história boa demais para ser verdade.

As pessoas iludem-se com histórias que apelam para a emoção em vez da razão. Estudos mostram que os juízes são com frequência mais influenciados por narrativas convincentes do que por provas concretas. 

E os escroques sabem disso. Maria Konnikova relata histórias de vendedores ambulantes fingindo-se de médicos, membros da realeza ou pessoas importantes, todos dotados de uma imaginação fértil, uma lábia incrível e um enorme poder de sedução. 

Os aristocratas do crime, como tão bem descreve a autora de The Confidence Game, também sabem que as pessoas gostam de ouvir que são especiais, que têm sorte e são inteligentes, ou que estão destinadas a grandes realizações na vida. Com um pouco de intuição é possível tocar nos pontos sensíveis das esperanças e sonhos de uma pessoa e convencê-la a acreditar em quase tudo.


21 de fevereiro de 2016

sábado, 20 de fevereiro de 2016

POR QUE SALVAR AS ABELHAS


A drástica redução, em todo o mundo, da quantidade desses insetos desperta preocupação porque, além da importância que têm para a biodiversidade, eles são responsáveis pela polinização que garante a existência de quase 40% dos alimentos consumidos por nós — muito mais que o mel, portanto 

51,92% - Foi quanto diminuiu o número de colmeias, de 1940 até hoje, nos EUA, o país mais afetado pelo problema(Gilles Choen/VEJA)

As picadas dolorosas e o zunido insistente no ouvido fazem com que, geralmente, as abelhas não sejam lembradas de maneira amistosa - a despeito das delícias do mel. E com uma ressalva fundamental: o mel está longe de ser a grande contribuição das abelhas para a humanidade. 
Sem elas, metade das gôndolas de alimentos dos supermercados estaria vazia. Por meio da polinização, esses insetos promovem o seu maior impacto na biodiversidade e na produção dos alimentos: 35% das lavouras e 94% das plantas silvestres dependem dessa atividade. A má notícia é que esse, por assim dizer, "serviço ecológico" está em risco diante de um fenômeno batizado de desordem do colapso das colônias. 
De 1940 até hoje, o número de abelhas diminuiu de forma drástica no mundo - nos Estados Unidos, o país mais afetado pelo problema, caiu pela metade (veja o quadro na pág. 86). 
Ainda é misteriosa a razão por trás desse sumiço, apesar de existirem fortes hipóteses. 
Na segunda-feira 22, a ONU planeja chamar atenção para o assunto com a divulgação, em evento na Malásia, do relatório Polinizadores, Polinização e Produção de Alimentos. 
O documento, o primeiro fruto do órgão internacional Plataforma Intergovernamental para Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), procura identificar, entre outros pontos, os motivos que levaram à desordem que faz sumir as colônias e as possíveis soluções.

O trabalho é resultado do esforço conjunto de 75 pesquisadores, de diversas nações. VEJA teve acesso a informações presentes no documento. Ele combina o conhecimento acadêmico que se tem sobre as abelhas e os demais animais polinizadores (como outros insetos, aves e morcegos) e suas contribuições, traz exemplos de boas práticas para a proteção das espécies e propõe soluções para a situação adversa - como a adoção de políticas ambientalistas. 
"É um tópico de enorme importância política, visto que o desaparecimento das colônias pode afetar negativamente a economia, além da dieta de cidadãos, de um país", ressalta a bióloga Vera Lúcia Fonseca, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e diretora do IPBES, o órgão da ONU. "Antes de tudo, o relatório procura conscientizar a todos da importância dos polinizadores, além de promover a união de governos para protegê-los", completa Vera.

Não é por acaso que a pesquisadora faz referência aos danos econômicos potenciais da desordem. Estima-se que um mercado de 218 bilhões de dólares anuais depende do serviço de polinização prestado pelas abelhas. 
Os Estados Unidos, o maior exportador agrícola do mundo, perderiam 15 bilhões de dólares por ano com a intensificação do problema - no Brasil, o prejuízo seria de 12 bilhões de dólares. 
Isso explica por que, em junho de 2014, o presidente americano Barack Obama transformou o alarme em questão de Estado, ao anunciar a criação de uma força-tarefa, composta de cientistas e políticos, para ir atrás de respostas.

Os estudiosos ainda investigam qual seria a raiz do problema. Acredita-se que sejam dois os principais fatores: a disseminação do uso de pesticidas, que enfraquecem as colônias, e a ação de parasitas, como o varroa, ácaro que ataca o organismo do animal, e o Acarapis woodi, que afeta o sistema respiratório. 
Entretanto, há consenso de que não existe apenas uma razão (ou duas), e sim um somatório que acabou por construir um cenário cruel para os insetos. As abelhas estão perdendo seu hábitat quando florestas e jardins dão lugar a construções ou mesmo a plantações de uma única cultura - a espécie necessita de alimentação variada para sobreviver. As intensas mudanças climáticas pelas quais passa a Terra, em consequência do aumento da emissão de gases do efeito estufa pelo homem, também colaboram para o desaparecimento dos insetos. 
As estações menos definidas, além das elevações e quedas bruscas na temperatura e na umidade, acabam por bagunçar o ciclo de florescimento das flores, das quais as abelhas são dependentes.

Os Estados Unidos são tidos como o país que mais vem se movimentando para combater o ritmo da desordem. O comitê criado por Obama apresentou no ano passado o documento Estratégia Nacional para Promover a Saúde das Abelhas e Outros Polinizadores. 
Nele, estabeleceu-se como meta reduzir a baixa de abelhas durante o inverno a no máximo 15% em dez anos - hoje, a taxa é de 23%. Nas últimas décadas, após o inverno, as colônias não têm conseguido recuperar-se desses períodos de perda. Caso a diminuição das colônias seja menor nas estações de frio, o efeito esperado é que elas consigam se restabelecer na primavera e no verão. 
Também se planeja aumentar a presença de outros polinizadores, como a borboleta-monarca. 
O governo americano calcula que haja atualmente 30 milhões de exemplares dessa espécie colorida na América do Norte, diante dos 970 milhões que existiam em 1996. 
O que se espera é reverter a queda, alcançando ao menos o número de 225 milhões. Entre as estratégias para proteger os polinizadores está, por exemplo, a restauração de 28 000 quilômetros quadrados (o equivalente ao território do Havaí) de seus hábitats nos próximos cinco anos.

Por que o lado ocidental do Hemisfério Norte tem sido mais prejudicado que o restante do planeta? O motivo é a dependência das plantações americanas e europeias de apenas um tipo de abelha, a Apis mellifera. 
Importada da África e da Ásia para a polinização de plantações comerciais, a espécie ganhou a preferência de apicultores por não ser agressiva e manter colônias enormes e resistentes. Agora, porém, ela é a maior vítima da amedrontadora desordem.

Na França, por exemplo, 100 000 colônias de Apis mellifera foram perdidas desde 1995, e a taxa de mortalidade das abelhas triplicou. Diante disso, Paris é uma das cidades que mais têm adotado medidas conservacionistas. 
Em junho do ano passado, o município assinou o protocolo Abelha: a Sentinela do Meio Ambiente. Nele, a capital francesa se comprometeu a proibir a venda de uma série de pesticidas, além de ampliar o apoio à apicultura. 
Até 2020, planeja-se o plantio de 20 000 árvores em jardins parisienses, além de 300 000 novos metros quadrados de espaços verdes - em torno de um quinto da dimensão do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Paris ainda é o centro urbano com a maior presença de criadouros de abelhas da Europa, com um total de 600, ocupando uma área de 4,6 quilômetros quadrados - parte deles instalada em tetos de edifícios e casas.

Há indícios de que a redução no número de abelhas esteja se repetindo, em ritmo acelerado, em outros locais, incluindo países pobres. No entanto, muitas vezes os dados coletados não são suficientes para corroborar a tese. 
É o caso do Brasil, que não conta com um histórico do número de abelhas em território nacional, de forma que os pesquisadores não têm como comparar o número atual com os anteriores. 
Assim, ficam sem saber se a redução é alarmante por aqui. "Mas há sinais de que também sofremos do mesmo mal", afirma a bióloga Tereza Cristina Giannini, do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável. 
"Em pesquisas de campo, descobrimos que existem regiões nas quais as plantações apresentam déficit de polinização, refletido na baixa produção de frutas, flores e alimentos", relata Tereza.

A favor do Brasil, contudo, pesa um ponto que nos deixa em posição de vantagem ante a desordem. O país não é dependente de apenas uma espécie, como ocorre com os Estados Unidos e a Europa. Uma pesquisa da revista científica Apidologie, especializada em apicultura, estima a existência de pelo menos 250 tipos de polinizadores em todo o território brasileiro, dos quais 87% são de abelhas.

Por que, então, mundo afora, apesar da essencialidade desses insetos para o equilíbrio do meio ambiente, as campanhas de proteção a eles não recebem tanta atenção quanto as destinadas aos ursos-polares ou aos elefantes-africanos, por exemplo? Explicou a VEJA a bióloga americana Heather Mattila, do Wellesley College: 
"O modo de funcionar do nosso sentimento de empatia está no centro desse dilema. Sentimo-nos próximos de animais parecidos conosco, grandes mamíferos que vivem em grupos e interagem socialmente. Devíamos, porém, olhar direito para as abelhas. Elas trabalham duro para alimentar suas crias, organizam-se em colônias e até se preocupam com a higiene e a segurança de suas casas. Não devia ser tão difícil para o homem identificar-se com esses elementos". 
O.k., se o fator da empatia não funcionar com as abelhas, lembre-se então de quanto elas são fundamentais para garantir a existência de grande parte dos alimentos que chegam à nossa mesa. Perto disso, um zumbido chato não é nada.


20 de fevereiro de 2016
Raquel Beer, VEJA

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

ANO MMXVI - SEGUNDO MILÉSIMO DÉCIMO SEXTO

Quando trabalhei no vigésimo quarto andar de um edifício, gostava de ouvir o ascensorista enunciar os andares onde ia parando: Quatôrzimo, dezessétimo, dôzimo, etc. Inicialmente soava estranho, um tanto hilariante, mas aos poucos os passageiros habituais se acostumaram com a novidade. Se o público dele não fosse tão limitado – digamos que ele tivesse sido, por exemplo, um desses gaiatos analfabetos, lançadores de moda na televisão – provavelmente estaríamos todos usando a ideia dele.


          (Será que esse sujeito acha certo falar assim?)

          Caro leitor, eu também sei que não é certo esse modo de falar. Por quê? Simplesmente porque as regras mandam falar de outro jeito (décimo segundo, décimo oitavo, vigésimo terceiro), nossa formação de numerais ordinais complica assim a nossa língua. Já não são muito fáceis – eu diria até que não são muito sensatas – quando vamos até o nonagésimo nono; mas você já escreveu ou falou ordinais superiores a cem? Então acompanhe-me na formação dos ordinais em alguns números “grandes”. Três dígitos: quadringentésimo trigésimo quinto (435º); quingentésimo quadragésimo oitavo (548º). Quatro dígitos: terceiro milésimo sexcentésimo octogésimo sétimo (3687º); oitavo milésimo nongentésimo nonagésimo segundo (8992º). Cinco dígitos: vigésimo oitavo milésimo setingentésimo nonagésimo terceiro (28793º). Você prefere que eu pare, ou devo continuar até os dígitos sexto, sétimo, oitavo, nono, décimo...? Cada algarismo ganha de presente pelo menos um ésimo, e o conjunto fica parecendo aqueles palavrões do alemão.

          Existiram e ainda existem mundo afora muitas complicações com os números. Os algarismos romanos, por exemplo, cumpriram sua função de designar quantidades, e supõe-se que fossem entendidos por todos. Mas eram fáceis? Para começo de conversa, era necessário aprender a fazer contas com números antes de aprender os números. Parece um contra-senso, mas era assim que funcionava: o número 4 (IV) se fazia subtraindo 1 de 5; o número 8 tinha de somar 3 a 5 (VIII); o número 14 surgia subtraindo 1 de 5 (IV=4), e somando depois o resultado a 10 (10 + 5-1 = XIV).

          Acho melhor descansarmos um pouco, pois a próxima tarefa é mesmo fazer as contas. Você já experimentou fazer contas usando algarismos romanos? Escreva dois números de sete ou oito algarismos como os romanos, e tente simplesmente somá-los. Bem entendido, sem recorrer aos arábicos como interface. Espero que consiga caminhar alguma coisa até o nosso encontro da próxima semana. Não é sem motivo que os contadores (guarda-livros) cobravam caro. Imagine com que facilidade os árabes, com seus ligeiros algarismos arábicos, passariam a perna nos romanos.

          A língua francesa tem alguns resquícios desses complicativos, e não é fácil entender por que permanecem. Podem-se enunciar facilmente os números até 69. Daí em diante começam as contas internas dentro do mesmo número, como faziam os romanos: O número 70 é formado por 60 mais 10; seguem-se 60 mais 11, 12, 13 ... 19. Para 80 você já precisa fazer uma conta de multiplicar (4x20=80); daí em diante são duas contas: esta primeira de multiplicar, mais outra para somar 1, 2, 3 ... 19. Já pensei em sugerir aos franceses algo mais simples: Criar três palavras significando setenta (septante), oitenta (huitante) e noventa (neuvante). Mas a minha coragem teria de ser bem maior, para enfrentar uma declaração de guerra. Não seria a primeira vez que eles entoam Aux armes, citoyens! quando um alienígena ousa contestar a solução que um deles iMaginot; mesmo concordando que não solucionot, não facilitot nem melhorot.

(Qual seria então a melhor forma para os nossos ordinais?)

          Nunca examinei atentamente o assunto, nem sequer tenho competência para estabelecer novas regras para nossa língua. Ela já não é português (o dos portugueses), e há quem trabalhe para não se tornar brasilês. Acho que a ideia do ascensorista não deve ser preconceituosamente descartada. Outra forma é a dos espanhóis. Já os vi comemorar alegremente um 53 aniversário, sem alterar em nada o numeral cardinal. Nós diríamos quinquasésimo terceiro, sem esquecer que a pronúncia exige um trema sobre o qüin, embora o trama tenha perdido o direito de manifestar-se por escrito.

Compensa passarmos a dizer aniversário 53, congresso 132? Uma mudança assim pode gerar consequências imprevisíveis ou desagradáveis, e não tenho qualificações linguísticas suficientes para avaliar nem decidir; mas no momento não acho despropositada a ideia

03 de fevereiro de 2016
jacinto flecha