Nota: Milenialismo.
(OBS: Trago este tema, a propósito de uma leitura do livro de Humberto Eco, VIAGEM NA IRREALIDADE COTIDIANA, em que aborda diversos acontecimentos "milenaristas", como os casos de Charles Manson, Jim Jones, Thomas Munzer e outros, na crônica OS SUICIDAS DO TEMPLO, um dos capítulos do livro.)
Cada vez mais no estudo dos novos movimentos religiosos apocalípticos, o milenarismo (de "milenário") é usado para se referir a uma chegada mais cataclísmica e destrutiva de um período utópico em comparação com o milenialismo (de "milênio"), que é frequentemente usado para denotar uma chegada mais pacífica e está mais intimamente associado a uma utopia de mil anos.[5]
O milenialismo é um tipo específico de milenarismo cristão, e às vezes é referido como "quiliasmo" do uso do Novo Testamento do grego chilia (mil).[6] De acordo com uma interpretação das profecias do Livro do Apocalipse, este Reino de Deus na Terra durará mil anos (um milênio) ou mais.[7]
Origens
É antiga a visão religiosa segundo a qual o tempo caminha linearmente e chega a um final. Os antigos egípcios, os mesopotâmicos, os indo-arianos e outros povos compartilhavam essa perspectiva fatalista da temporalidade.
Entre 1 500 a.C. e 1 200 a.C., Zoroastro, na Pérsia, propôs um novo paradigma: o final dos tempos traria um novo mundo, de paz e felicidade. Os povos semitas também tinham essa visão (que inspirou seus diversos "apocalipses"), sobretudo os grupos essênios.
Entre os primeiros cristãos, o milenarismo difundiu-se pela Ásia Menor e no Egito a partir do século III.
Tal crença, originada no messianismo judaico, supunha que, após esse período, o demónio retornaria para ser morto para sempre, quando se instauraria definitivamente o reino celeste. Ressalte-se que, naquele momento, para essas pessoas, as perseguições dos imperadores pagãos pareciam confirmar a vinda messiânica, posterior aos sofrimentos vividos.
O movimento encontrou adeptos em figuras como Justino, Irineu e Lactâncio, importantes escritores cristãos. O milenarismo tornou-se uma seita separada. Ao se confirmar essa institucionalização, sob o governo do imperador Constantino, o movimento perdeu importância, pois a vinda do Messias tornou-se uma realidade indefinida e distante.
A crença no novo Advento do Cristo e o Juízo Final são dogmas para as igrejas cristãs.
Doutrina polêmica
A ideia de um milênio sob o reinado do Cristo na Terra, tornou-se parte importante da teologia cristã, em seus três primeiros séculos. E já no século II surgiram seitas cristãs (como a dos montanistas) pregando o breve retorno do Cristo. Mas logo instalou-se a polêmica acerca da época e da natureza desse reinado. Agostinho de Hipona refutava os que esperavam um rápido advento do milênio, argumentando que Cristo havia dito que ninguém podia conhecer esse dia e essa hora, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas apenas o Pai.
Mas havia quem rejeitasse o milenarismo, como Eusébio de Cesareia e, aparentemente, foi sua opinião que influenciou a forma com que a igreja passou a tratar os milenaristas com crescente reserva. Ainda assim, em que pese sua condenação extra-oficial, o milenarismo manteve-se vivo e presente nas crenças cristãs, como o atestam o movimento encabeçado por Dolcino de Novara, no século XVI, e o livro "A vinda do Messias em glória e majestade", escrito pelo jesuíta chileno, Manuel Lacunza, em 1790.
Em 1595, "As profecias de São Malaquias", supostamente datadas do século XII, fixaram a data do fim do mundo através de uma lista de papas. De acordo com essas profecias, após o papa BentoXVI, haveria apenas mais um ou dois pontífices, antes do final dos tempos.
Durante o século XX, algumas igreja evangélicas fundamentalistas e as Testemunhas de Jeová retomaram as teses milenaristas, pregando o iminente retorno do Cristo.
Milenarismo no Brasil
Dentre os diversos movimentos milenaristas, no Brasil, destacou-se a Guerra do Contestado no Sul, os casos de serra do Rodeador (1817-1820) e Pedra Bonita (1836-1838) em Pernambuco, e de Catulé (1955) em Minas Gerais.
Ver também
Referências
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↑ Gould, Stephen Jay (1997). Questioning the millennium: a rationalist's guide to a precisely arbitrary countdown. Nova Iorque: Harmony Books. p. 112 (nota)
↑ Marshall, Gordon (1994). "millenarianism". The Concise Oxford Dictionary of Sociology (1994). p. 333.
↑ Mayer, Jean-François (June 2016). Lewis, James R; Tøllefsen, Inga, eds. «Millennialism: New Religious Movements and the Quest for a New Age». The Oxford Handbook of New Religious Movements. II. doi:10.1093/oxfordhb/9780190466176.013.30 Verifique data em: |data= (ajuda)
↑ Kark, Ruth (1983). "Millenarism and agricultural settlement in the Holy Land in the nineteenth century". Journal of Historical Geography 9 (1). pp. 47-62
Bibliografia
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08 de novembro de 2021
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