quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

SAI DA FRENTE QUE EU TÔ COM PRESSA!!!

A pergunta é: O que acontece com o senso de prioridade das pessoas?


Tem uma parada muito estranha acontecendo com a galera, algo quase sinistro, onde a pressa, e quando digo pressa, falo de um comichão quase insano pelo simples ato de esperar pentelhézimos de segundos seja para o que for, pois estamos de uma forma tal que essa impaciência se tornou generalizada e sem filtros.

Anda rolando um senso absurdamente louco de 100% de auto-prioridade onde o povo simplesmente caga para os sensos-comuns de urgência, tipo: Ambulância, você vê alguém saindo da frente de uma ambulância? Agora imagine que é você e sua mãe passando mal que estão dentro dela, é de pirar, né não? Ninguém sai mais da frente amigo, chegar no trabalho, na faculdade ou no cliente é mais importante do que a vida da sua mãe.

Então, senso de prioridade. Essa coisa de prioridade é algo obsoleto, certo? Porque eu não vejo a galera discernindo o que é urgente daquilo que pode esperar (na verdade, tudo pode esperar, mas há um pensamento insano globalizado de que tudo é para ontem), é como uma fome, na verdade é uma fome, insaciável.

O que é a pressa? Porque ela evoluiu para um senso de urgência para toda e qualquer coisa? Todo mundo faz, faz, faz, corre, corre, corre, pra ver se no fim consegue um tico de satisfação - o elogio do chefe, um aumento, aquele cliente, um beijo do namorado, um olhar, o salário no final do mês -, logo, a pressa é sempre para encontrar algum tipo de regozijo, uma satisfação, um acalento... que nunca chega ou nunca é suficiente.

A pressa é um comportamento tão compulsivo que, você corre tanto para conseguir aquela realização, e quando ela se concretiza, não consegue ficar parado e simplesmente "curtir e integrar" o momento. Rola aquela curtidinha safada, para logo em seguida sair a cata de mais um novo desafio, é preciso estar em movimento... é preciso mais uma cenoura.

Não só se tem pressa para realizar, como se passa pela realização correndo para a próxima. Esse é o comportamento compulsivo da pressa. A pressa gera seres humanos tão superficiais quanto infelizes.

Eu não lido bem com pressa e agitação. Quando fico muito agitada, sento e respiro. A agitação me deixa com a visão nebulosa e não consigo captar a logística das coisas com propriedade. Ás vezes consigo ter uma visão panorâmica dos processos, outras não. Mas a paradinha para a respirada é fundamental independente do resultado obtido. Acho que é isso que acontece com as pessoas, elas não veem o quadro à distância a fim de priorizar, e mais do que tudo, não SE percebem dentro do processo em meio a loucura que se propõem, com isso, vão passando por cima de si mesmas e quem passa por cima de si mesmo, não tem problema em atropelar o coleguinha.


O que vemos nas ruas? Monstros-humanos se digladiando, correndo, brigando para terem 100% das suas necessidades com !!! (alta prioridade) em tempo recorde de realização.

Como estão todos brigando para se auto-atenderem urgentemente, obviamente, falta olhar para o outro. E a falta de olhar para o outro acarreta ausência de gentileza, cordialidade e todas aquelas características que nos fazem mais humanos e menos animais-atrás-da-carniça.

Não há graça numa vida com pressa.

A pressa nos impede de ver e sentir a vida, pois a beleza da vida está na sutil diferença entre as nuances de uma situação para a outra. Não dá para perceber uma nuance com pressa, logo, todas as situações e pessoas se tornam iguais e previsíveis para pessoas com olhar pastel-apressado. É tudo igual, é tudo chato, é tudo feio.

Por esse motivo as pessoas andam tão grossas e impacientes, além de umbiguistas, falta beleza dentro delas. A quantidade e a rapidez nos processos não podem ser mais importantes do que a qualidade deles, e qualidade não rima com pressa. Beleza não rima com pressa, amor não rima com pressa, alegria, menos ainda.

Então, aperte o stop, permita-se respirar fundo, o mundo não vai cair, se você parar por 5 minutinhos para simplesmente apreciar o que há em volta, e há muito o quê apreciar, acredite. Só é preciso prática para descobrir um universo invisível a olhos-corridos, mas, é exatamente esse universo que abre nossa alma e alimenta nossa fome - antes insaciável - de viver.

Monik Ornellas

Ótimo post sobre a Doença da Pressa (fonte: Revista Época).

sábado, 17 de dezembro de 2011

UMA PALMADA, NÃO! UM TAPA NA CARA DA DEMOCRACIA

Sinceramente? Fica até difícil colocar palavras de crítica a essa lei que já ganhou até apelido, como é da natureza do brasileiro, quando se vê atingido em 'costumes' que estruturam os padrões básicos de comportamentos tradicionais: LEI DA PALMADA. Principalmente, quando tais interferências barram, ou procuram disciplinar, com regras absurdas, o que não foi aprovado pela sociedade em inúmeras manifestações.
Mas a democracia, no entendimento daqueles que recebem a nossa "procuração" para representar os nossos interesses, sejam eles de qualquer natureza, anda na contramão dos verdadeiros princípios democráticos. Haja vista o estado de calamidade a que chegamos, na era da mediocridade e dos escândalos.

Mas voltando a LEI DA PALMADA, a experiência das gerações anteriores, quando a família ditava os principios e tinha a liberdade de educar os seus filhos - alguém traumatizado por aí, porque levou alguns cascudos? - constituindo o núcleo essencial da organização social, aqueles podem repensar e analisar a situação a que chegamos.

Alguém poderá dizer: tudo bem, mas as sociedades vivem processos de transformação, é uma lei necessária e inerente a vida. Ótimo. Concordo plenamente. Faço apenas um reparo: quando as mudanças levam a transições saudáveis e benéficas à sociedade, sobretudo quando indispensáveis para inibir comportamentos desviantes, o que não é o caso da tal PL, que constrange a fonte familiar na relação com os filhos.
Há leis que inibem qualquer tipo de violência, seja contra à criança ou contra qualquer adolescente, sem que o Estado interfira de maneira direta e desusada na organização familiar.

Mais grave ainda, sem considerar que tal PL faz parte de um projeto maior de globalização, a exemplo de outras PLs que andam por aí, é que essa tal democracia brasileira, através de "nossos representantes", despreza a opinião contrária da sociedade, quanto a aprovação de tal PL. Somos atropelados, tratados como imbecis, "que mudaremos de opinião quando melhor entendermos os objetivos da tal PL", segundo a douta deputada Teresa Surita (PMDB-RR) - guardem esse nome para as próximas eleições.

Cabe ainda observar que se monta uma "Comissão" em que todos os "nobres deputados" partilham da mesma opinião. Cuidam de excluir da tal "Comissão", deputados cuja opinião divirjam do que pretendem aprovar, negando assim um debate democrático, desrespeitando o que pensa a sociedade.

Será interessante que tal "Comissão" apresente um PL que proteja pais e professores das constantes agressões de filhos e alunos.
O noticiário está cheio de violências praticadas contra professores, diretores, coordenadores e outros agentes que lidam com a geração atual de "educados e respeitosos" adolescentes e crianças.

Trafegamos na contramão da história. Um país em que um adulto de 29 anos goza de direitos especiais de "criança"... Em que presidiários e todo tipo de transgressores, de homicidas a punguistas, têm direito a BOLSA PRESIDIÁRIO.
Estamos cansados de manifestar em enquetes e outras pesquisas, que desejamos a redução da idade para a punição de infratores e criminosos "dimenó".
Mas esse Parlamento que elegemos não representa nossos interesses, preocupados que estão em se locupletarem com mordomias e outras benesses, quando não buscando o enriquecimento através de fraudes, peculatos e outros crimes contra o erário.

Para o Dr. Lino de Macedo, como podemos deduzir, tal PL mata a família, retirando dela a autoridade indispensável para preservar os valores tradicionais e a relação de respeito e hierarquia entre pais e filhos.
E mais não digo, pois a matéria e extensa...
m.americo

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

VIVENDO DE LUZ, OU VÁ ENGANAR O CACETE!!!

Ontem à noite, por falta de programa melhor e excesso de preguiça, assisti um documentário chamado “Vivendo de Luz”, que aborda pessoas que supostamente não comem, não bebem – no meu tempo isso se chamava “viver de brisa” –, não evacuam, não urinam, só se alimentam de luz e, apesar disso, são pessoas normais.

Para começo de conversa, dada à essa óbvia impossibilidade bioquímica, confesso que já comecei a assistir o troço meio pau da vida, mas me animei ao ver que médicos também começaram a dar declarações sobre o assunto. Eram dois hindus, um alemão e um francês.

Papo vai, papo vem, eles falando das “óbvias impossibilidades” e eis que aparece o primeiro fotófago, fantasiado de guru, disposto a se submeter a um teste em um hospital na Índia sob a supervisão de um médico. Ele ficaria dez dias fechado em um quarto sendo monitorado por câmeras 24 horas por dia. Se ficou, não sei. Mostraram apenas algumas sequências do maluco em posição de lótus e mais nada e, a seguir, o doutor Sri Matabarata Não Sei das Quantas deu seu depoimento dizendo que aquilo era fantástico, etc. e tal.

Corta pro dotô alemão e uma mulher que disse ter adquirido o poder de viver de brisa através de um pregador, que mais se assemelhava a um crente da Universal, se submete ao mesmo teste durante os mesmos dez dias, com a diferença que ela sairia do quarto uma vez por dia para fazer uma batelada de exames. No final, a mesma cantilena: veio o dotô Fritz e disse que era impressionante que os exames dela se mantiveram normais apesar do jejum, mas não mostrou evidências de nada.

Com o francês, docteur Jacy Borreaux de Couproir, la même chose.

Depois do final apoteótico do documentário que não documentou, eu, que pensava que o negócio era sério, fiquei imaginando se esses médicos têm vergonha na cara, se eles não temem perder pacientes com essa pantomima, o quanto eles ganharam para participar dela e quem foi que os comprou.

Saí mais pau da vida que entrei.
Por Ricardo Froes

"SUA EXCELÊNCIA, A SENHORA PRESIDENTA DILMA"

O texto é cômico, porque debocha do abuso de autoridade, que violenta a etimologia de uma língua por decreto, ou por decisão de ordem superior, o que dá no mesmo.
Essa anedota linguageira de inovar o feminino de PRESIDENTE, já deu 'pano pra manga' a todos os que possuem a competência do chiste, ou da ironia e até mesmo do sarcasmo. Gramática por decreto é mais uma inovação petista, que desrespeita o fundamento de uma língua, o que já é café pequeno, considerando que a própria Constituição já foi atropelada algumas vezes, quando manda o interesse dos grupelhos e suas pequenas ambições.
Recebi por email de um velho amigo, e achei por bem divulgá-lo aqui, neste pedaço, que acredito muito bem freqüentado, principalmente pelo povo 'dasoropa'.
Vale à pena rir um pouco, nesses tempos tão sem graça,embora cheios de intolerância com o tal do "politicamente incorreto".
Vamos a ele...
m.americo

*** *** ***

Agora, o Diário Oficial da União adotou o vocábulo presidenta nos atos e despachos iniciais de Dilma Rousseff.

As feministas do governo gostam de presidenta e as conservadoras (maioria) preferem presidente, já adotado por jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão.

Na verdade, a ordem partiu diretamente de Dilma: ela quer ser chamada de Presidenta. E ponto final.

Por oportuno, vou dar conhecimento a vocês de um texto sobre este assunto e que foi enviado pelo leitor Hélio Fontes, de Santa Catarina, intitulado "Acolha a Vernácula".

Vejam:

No português existem os particí­pios ativos como derivativos verbais.
Por exemplo: o particí­pio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante.

Qual é o particí­pio ativo do verbo ser? O particí­pio ativo do verbo ser é ente.
Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.

Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a função que expressa um verbo, há que se adicionar a raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte. Portanto, a pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha.

Se diz capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz estudante, e não "estudanta"; se diz adolescente, e não "adolescenta"; se diz paciente, e não "pacienta".

Um bom exemplo seria:

"A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizantas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta."

Assim ela pareceria mais inteligenta e menos jumenta.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

SEJA ESCALPELADO POR 500 REAIS

Não me lembro qual foi o último grande show que eu vi. Ando me recusando a ir nesses eventos. Sou um dos poucos brasileiros que não têm manha para descolar uma carteirinha falsa da Une para garantir uma meia entrada. Pode me chamar de bundão, se quiser.

Como não tenho carteirinha, não acho legal pagar 350 pilas para ver um show que o filho de banqueiro vai ver pela metade - só porque é estudante. E tem o lance da idade. Depois dos 40, tomar pisão e ficar 8 horas sem poder ir ao banheiro deixa de ser divertido. A gente fica meio exigente – Vinho Chapinha, por exemplo, nunca mais.

Os empresários reclamam do custo Brasil. Fazer show é caro mesmo. Mas aí eu lembro que esses shows têm sempre uma área vip, que é reservada para os Hucks e Angélicas ficarem bebericando champagne. De graça. E sem gostar da banda. O Huck poderia pagar os 500 paus e levar a bebida de casa, certo?

Lollapalooza? O ingresso mais barato custa 300 pilas. Eu só conheço meia dúzia de bandas. Desanima. Mas aposto que a Ana Maria Braga vai ganhar ingresso. Ela, que é LOU-CA por Foo Fighters, né?

Mas o pior é quando acontece isso aqui: João Gilberto anunciou show em São Paulo. O ingresso mais barato era de (pasmem) 500 pilas. E aí, cancelaram o show. Pior: quem comprou o ingresso vai receber a grana de volta em 3 prestações, sem a taxa de serviço. É isso aí: o cara é extorquido à vista e é reembolsado a prazo. E nada de explicações.

Agora, calcule aí, Juquinha: 500 paus para ver um circo com 30 malabaristas e 80 palhaços, vá lá. Mas pagar 500 reais para ver um cara no palco com um violãozinho? Putz, quanto custa o uisquinho do João?

Além disso, pagar para ver João Gilberto é uma atitude de risco. Ninguém garante que o cara não vai ter um chilique e abandonar o palco porque alguém tossiu na 23ª fila. Melhor é vê-lo em DVD. Custa pouco. E a chance dele parar o show é nula.

Se é para ver patinho fazendo quem-quem, prefiro o sofá de casa.

walter carrilho

O PRIVILÉGIO DE NASCER NO BRASIL...

AZAR DO CHIRAC QUE ELE NÃO É PETISTA E EX-PREFEITO DE BELO HORIZONTE

O ex-presidente da França Jacques Chirac foi considerado culpado de apropriação indébita e quebra de confiança.

Chirac foi sentenciado a dois anos de prisão que vai cumprir em regime de liberdade condicional. O ex-presidente foi considerado culpado de criar "cargos fantasmas" para membros de seu partido, o RPR, na época em que foi prefeito de Paris (entre 1977 e 1995).

Chirac, que foi presidente da França durante 12 anos até 2007, é o primeiro ex-presidente do país a ser condenado desde a Segunda Guerra Mundial.
O ex-presidente não compareceu ao julgamento, foi representado por seus advogados, por sofrer de lapsos de memória e outros problemas de saúde.

(Da BBC Brasil)

BRASIL DO PT VIRA IMENSO CABIDE DE EMPREGOS


Em 2005, a parcela na economia nacional era de 12,9%, crescendo ano a ano até chegar a 14,1% em 2009. "Foi um salto significativo, sobretudo de 2008 para 2009", disse Sheila Cristina Zani, gerente da pesquisa do IBGE. O peso de Brasília no PIB, por exemplo, subiu de 3,9% para 4,1%, justamente em razão das contratações do governo.

Mais de um terço das economias de 1.968 municípios brasileiros é dependente da máquina pública. Nessas cidades, que representam 35,4% de um total de 5.565 no país, o Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todos os bens e serviços produzidos) é sustentado basicamente pelas pensões e aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e pelos salários pagos a servidores da administração, da saúde e da educação. Os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fazem parte de uma pesquisa que avaliou o PIB municipal em 2009.

Segundo o levantamento, a dependência da renda paga por União, estados e municípios é mais acentuada no Nordeste, cobrindo 76,3% dos municípios, e no Norte (57,9%). Em Roraima, a situação atinge todas as cidades e, no Amapá, apenas uma fica de fora, Serra do Navio, graças às suas indústrias. Entre os que têm o maior vínculo econômico com a máquina pública, destacam-se Uiramutã (RR), com 80%, e Areia de Baraúnas (PB), com 71,4%.

A metodologia do IBGE considera, para o cálculo do PIB municipal, os setores de agropecuária, indústria e serviços. A administração pública faz parte dos serviços, que também incluem o segmento financeiro. Segundo o instituto, o peso das atividades ligadas ao setor público vem ampliando a participação em relação ao PIB ao longo dos anos. Em 2005, a parcela na economia nacional era de 12,9%, crescendo ano a ano até chegar a 14,1% em 2009. "Foi um salto significativo, sobretudo de 2008 para 2009", disse Sheila Cristina Zani, gerente da pesquisa.
(Correio Braziliense)

POLÍTICO CORRUPTO!!!

A VIDA PRIVADA DE PIMENTEL

Dilma Rousseff afirmou que “o governo acha estranho que o ministro (Pimentel) preste satisfações ao Congresso da sua vida privada”.

Já é um avanço. Pelo menos, o governo Dilma começou a estranhar alguma coisa. Ninguém aguentava mais esse clima de normalidade.

Realmente, não dá para entender esse interesse do Congresso Nacional pela vida privada de Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-consultor de empresas privadas.

Como os parlamentares de oposição não respeitam a privacidade do ministro, cumpre fazer um esclarecimento: a vida privada de Fernando Pimentel é muito mais abrangente do que imaginam os nobres deputados e senadores.

Para que não pairem mais dúvidas sobre o assunto, e para que cessem de uma vez por todas essas convocações muito estranhas, vamos deixar claro o perímetro da vida privada de Pimentel.

Ao contrário da maioria das pessoas, Fernando Pimentel não é um indivíduo não-governamental. Seu universo particular em expansão alcança zonas do poder público – especialmente em Belo Horizonte e em Brasília.

Foi por isso que em 2009 e 2010, quando estava sem mandato, Pimentel deu um show como consultor econômico – faturando de cara R$ 2 milhões e deixando de queixo caído a concorrência muito mais experiente do que ele.

Os consultores normais, PhDs e especialistas em geral podem ser muito bons, mas são privados demais.

No período em que prestou suas consultorias, Pimentel tinha grande influência na Prefeitura de BH e no partido do presidente da República – que inclusive o escolheu na época para coordenar a campanha sucessória.

O que o Congresso não entende é que a vida pessoal de Pimentel contém sua invejável amizade com Dilma Rousseff (que fez dele um consultor ministeriável). Também estão contidos na sua privacidade seus amigos de fé no governo da capital mineira, e seus irmãos camaradas na iniciativa privada – que adorariam vê-lo governador em 2014, porque o acham um cara legal.

Feita essa demarcação territorial da imensa vida privada de Fernando Pimentel, espera-se que não perturbem mais a presidente Dilma com pedidos de explicação estranhos.

E vamos em frente, porque o Brasil, pelo visto, não estranha mais nada.

guilherme fiuza, 14.12.2011

AS OLIVIAS PALITAM

A MORTE DEVAGAR

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor, ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televião o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco, e os pontos sobre os i´s em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho nos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva que cai incessante.

Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples ato de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade!

Viva hoje!
Arrisque hoje!
Faça hoje!
Não se deixe morrer lentamente !
Não se esqueça de ser feliz!

By Martha Medeiros.

TANGO

O tango é a dança da carne, do desejo, dos corpos entrelaçados. É um diálogo novo, a sedução feita movimento, o ir e vir, encontro de dois mundos. É um baile exibicionista, esteticamente belo, e ronda sem temores o universo do lúdico. O casal de baile roça seus sapatos entre sensuais carícias enquanto o atônito espectador ocasional, eterno voyeur, se fascina e deslumbra com o ardor do tácito romance entre os dançarinos.

Originariamente, o tango nasceu no final do século XIX de uma mistura de vários ritmos provenientes dos subúrbios de Buenos Aires. Esteve associado desde o princípio com bordéis e cabarés, âmbito de contenção da população imigrante massivamente masculina. Devido a que só as prostitutas aceitariam esse baile, em seus começos era comum que o tango fosse dançado por um casal de homens.

Mas o tango como dança não se limitou às zonas baixas ou a seus ambientes próximos. Estendeu-se também aos bairros proletários e passou a ser aceito “nas melhores famílias”, principalmente depois que a dança fez sucesso na Europa.

A melodia provinha de flauta, violino e violão, sendo que a flauta foi posteriormente substituída pelo “bandoneón” (espécie de sanfona) por volta de 1900, vindo nas maletas de imigrantes alemães. Os imigrantes acrescentaram ainda todo o seu ar nostálgico e melancólico e desse modo o tango foi se desenvolvendo e adquirindo um sabor único. Dizem que “o tango é um pensamento triste que se pode dançar”.

Carlos Gardel foi o inventor do tango-canção. Falecido em 1935, aos 45 anos, em um acidente aéreo, ele foi o grande divulgador do tango no exterior. Nos anos 60, porém, o gênero foi ignorado fora da Argentina. Ressurgiu renovado por Astor Piazzolla, que lhe deu uma nova perspectiva, rompendo com os esquemas do tango clássico.

Há diferentes tendências em seu estilo: o tango-canção, tango canyengue, o tango milonga, tango romanzae o tango jazz. Hoje em dia é possível até encontrar estilos como tango rock e o eletrotango (tango eletrônico). Este último pode ser conferido nos trabalhos dos grupos Bajofondo e Gotan Project.

No cinema o tango foi trilha sonora em vários filmes, destacadamente em “Perfume de Mulher”, “Dança comigo” e “Vem dançar”. Nos vídeos abaixo, dois momentos que eu considero inesquecíveis:

“Vem dançar”, com Antonio Banderas no papel de Pierre Dulaine, história real de um dançarino de salão profissional, que se torna voluntário para dar aulas de dança em uma escola pública de Nova York. Pierre tenta apresentar seus métodos clássicos, mas logo enfrenta resistência dos alunos, mais interessados em hip-hop. É quando, deste confronto, nasce um novo estilo de dança, mesclando os dois lados e tendo Pirre como mentor.



“Perfume de Mulher”, com Al Pacino no papel de Frank Slade, um tenente-coronel cego que viaja para Nova York com Charlie Simms (Chris O’Donnell), um jovem acompanhante, com quem resolve ter um final de semana inesquecível antes de morrer. Porém, na viagem, ele começa a se interessar pelos problemas do jovem, esquecendo um pouco sua amarga infelicidade.



Hoje em dia o tango vive, não como o fenômeno de massas que o engendrou, mas sem nenhuma dúvida como elemento identificatório da alma portenha e em permanentes evocações espalhadas por toda Buenos Aires.

By Joemir Rosa.

VIDA PASSAGEIRA

Se pudéssemos ter consciência do quanto nossa vida é passageira, talvez pensássemos duas vezes antes de jogar fora as oportunidades que temos de ser e de fazer os outros felizes.

Muitas flores são colhidas cedo demais. Algumas, mesmo ainda em botão. Há sementes que nunca brotam e há aquelas flores que vivem a vida inteira até que, pétala por pétala, tranquilas, vividas, se entregam ao vento.

Mas a gente não sabe adivinhar. A gente não sabe por quanto tempo estará enfeitando esse Éden e tampouco aquelas flores que foram plantadas ao nosso redor.

E descuidamos. Cuidamos pouco. De nós. Dos outros.

Nos entristecemos por coisas pequenas e perdemos minutos e horas preciosos. Perdemos dias, às vezes anos. Nos calamos quando deveríamos falar; falamos demais quando deveríamos ficar em silêncio.

Não damos o abraço que tanto nossa alma pede porque algo em nós impede essa aproximação.

Não damos um beijo carinhoso “porque não estamos acostumados com isso” e não dizemos que gostamos porque achamos que o outro já sabe, automaticamente, o que sentimos.

E passa a noite e chega o dia, o sol nasce e adormece e continuamos os mesmos, fechados em nós. Reclamamos do que não temos, ou achamos que não temos o suficiente.

Cobramos. Dos outros. Da vida. De nós mesmos.

Nos consumimos. Costumamos comparar nossas vidas com as daqueles que possuem mais que a gente. E se experimentássemos comparar com aqueles que possuem menos? Isso faria uma grande diferença!

E o tempo passa …

Passamos pela vida, não vivemos. Sobrevivemos, porque não sabemos fazer outra coisa. Até que, inesperadamente, acordamos e olhamos para trás. E então nos perguntamos:

- “E agora?”

Agora, hoje, ainda é tempo de reconstruir alguma coisa, de dar o abraço amigo, de dizer uma palavra carinhosa, de agradecer pelo que temos.

Nunca se é velho demais ou jovem demais para amar, dizer uma palavra gentil ou fazer um gesto carinhoso.

Não olhe para trás. O que passou, passou. O que perdemos, perdemos. Olhe para frente!
Ainda é tempo de apreciar as flores que estão inteiras ao nosso redor.
Ainda é tempo de voltar-se para Deus e agradecer pela vida que, mesmo passageira, ainda está em nós.

Pense!
Não perca mais seu tempo …

Desconheço a autoria.

DO MUNDO VIRTUAL AO ESPIRITUAL

Ao viajar pelo Oriente mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.

Outro dia eu observava o movimento no aeroporto: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir:

“Qual dos dois modelos produz felicidade?”

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei:

- “Não foi à aula?”. E ela respondeu:

- “Não … tenho aula à tarde”.

Comemorei:

- “Que bom! Então, de manhã você pode brincar ou dormir até mais tarde!”

- “Não”, retrucou ela, “tenho tanta coisa de manhã…”

- “Que tanta coisa?”, perguntei.

- “Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina…”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando:

- “Que pena… a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação’!”

Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um super-executivo se não consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!

Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos:

- “Como estava o defunto?”.

- “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!”

Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse.

Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais.

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil – com raras e honrosas exceções – é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos.

A palavra hoje é ‘entretenimento’! Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres:

- “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!”

O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede, desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque para fora ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima e ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade – a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center.

É curioso: a maioria dos shopping centers têm linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas …

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas, se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno!

Felizmente terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald’s…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas:

- “Estou apenas fazendo um passeio socrático.”

Diante de seus olhares espantados, explico:

- “Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”

By Frei Betto.

LOBOTOMIA

Pensamos livremente … ou somos produtos dos meios de comunicação?

Lobotomia é a separação cirúrgica dos lóbulos frontais do cérebro, que se faz em doentes mentais violentos. Isto os torna mansos. Sela, porém, seu destino como loucos, irrecuperavelmente. Mas, pelo menos, não são mais violentos. Fica mais fácil lidar com eles.

Passamos diariamente por um processo semelhante. Lenta e constantemente. Gradativamente a inteligência vem sendo alienada de nossos cérebros. Vemos, lemos e ouvimos todos, exatamente as mesmas coisas. Dia após dia. Ano após ano. Ininterruptamente.

Assim explica-se que os brasileiros, todos eles, acreditem piamente que o Aiatolá Komeini foi um monstro (apesar de milhões de admiradores terem ido ao seu enterro); que a Lady Diana foi uma pessoa caridosa e virtuosa (apesar de ter traído o seu marido, o Príncipe Charles, até pelos cotovelos); que Ayrton Senna foi herói nacional (desde quando reflexos rápidos e incrível habilidade no volante são sintomas de heroísmo?); que a única maneira de uma mulher sentir-se feliz, livre e realizada é retirando o véu muçulmano que cobre o seu rosto; que Sadan Hussein era o diabo em pessoa e deveria ser mandado para o inferno; que Fidel Castro é tirano opressor; que todos os palestinos são “terroristas”; que o MST é uma droga; que comunismo é horripilante… e muitas outras coisas.

Qual o brasileiro que não pensa assim?

Se pensarmos em Aiatolá Komeini, o que vemos? Um rosto carrancudo, facínora, criminoso. Só isto foi veiculado no mundo inteiro. Será que ele nunca sorriu na vida? Nem um pouquinho? Comunismo, quem sente-se bem ao ouvir essa palavra, pelo menos os mais velhos? Nazismo, então, sessenta anos de martelamento incessante? O MST com sua bandeira vermelha, bonés, enxadas e foices na mão. Que asco!

A maioria dos brasileiros tem opiniões idênticas ao que foi mostrado pelas televisões. Pensam exatamente do mesmo modo e nem sequer notam isto. Aceitam o que assistem, sem crítica alguma. Nossas opiniões são formadas e nem percebemos.

E não arredamos pé. Como o barro moldado. Depois de seco, só quebrando.

Somos submetidos a uma lobotomia, lenta e progressiva pelos meios de comunicação e nem sequer percebemos! Ficamos mansos. Facílimos de lidar. E nem loucos somos.

By Gerhard Grube.

NORMOSE


Sempre houve uma grande preocupação em se separar as variadas formas de comportamento humano. Uma destas é aquela que divide os comportamentos em “normais” e patológicos.

Normais seriam todas aqueles que se enquadrariam dentro da norma, ou seja, aquele seguido e demonstrado pela maioria, considerado natural. Na categoria de patológicos estariam, justamente, aqueles comportamentos ou aqueles indivíduos que se comportariam fora das normas, ou melhor ainda, característico em poucos, numa minoria, e que devido a isso seriam marginalizados, ou seja, considerados à margem da sociedade.

Esta classificação foi usada durante muito tempo com bastante sucesso na tentativa de se conseguir uma ordem social e até mesmo um controle das formas de expressão e comportamentos que poderiam desencadear um certo caos no bom convívio social. Existiam valores a serem seguidos e vivenciados em todas as relações humanas.

Pois bem, de uns tempos pra cá, o conceito de “normal” tem sido convenientemente adaptado para comportamentos que em outras épocas feriam os valores da maioria e eram, portanto, considerados patológicos. A constatação disto sempre me intrigou muito, pois eu não conseguia encontrar uma explicação para esta inversão de valores e de maneiras de agir cada vez mais comum nas relações humanas.

Mas um dia desses, lendo um jornal, tomei conhecimento do termo normose, criado pelo padre Jean-Yves Leloup e que caracteriza de uma forma extremamente correta o que vem acontecendo hoje em dia com a nossa sociedade. De acordo com este padre estamos sendo acometidos pela doença de normalidade. A normose, segundo o padre Leloup, se caracteriza principalmente pela ambição desvairada, o desleixo e mesmo a extinção do princípio da ética, princípio este que, aliás, era o que pautava a construção dos valores de uma sociedade e, portanto, direcionava as mais variadas formas de relacionamentos.

É justamente a predominância da normose que justifica tantos atos, que apesar de assustarem e indignarem, são tão bem assimilados e espalhados na sociedade atual. Quantas vezes nos horrorizamos com tantos acontecimentos, mas ao mesmo tempo não fazemos nada para mudá-los e, inúmeras vezes, chegamos mesmo a incorporá-los em nossa vida? Exemplo típico é quando a pessoa adota o lema “bateu, levou”, e passa pra frente alguma injustiça da qual foi vítima.

É a doença de normalidade que cria em nós, muitas vezes, uma cumplicidade com fatos que, a princípio e por princípios aprendidos, não concordamos. A normose faz as pessoas acreditarem que o fim justifica os meios, sejam eles quais forem, chegando-se, muitas vezes, a adotarem comportamentos que antes julgavam patológicos. A normose ignora a sensibilidade e o respeito ao outro. A normose faz a pessoa acreditar naquela horrível frase “eu gosto de levar vantagem em tudo”, mesmo que para isso ela esteja prejudicando o outro.

É ela que faz tantos indivíduos preterirem o ‘ser’, pelo ‘ter’. É justamente o aumento de pessoas acometidas pela normose, que nos faz tantas vezes sentir medo, indignação e preocupação no que diz respeito aos caminhos que tem tomado o nosso mundo!

O doente da normalidade é egoísta e extremamente perigoso para o bem da humanidade. Fique atento e, se por acaso perceber o aparecimento de alguns destes sintomas em você, elimine-os logo no início, pois, segundo Leloup, é uma doença cumulativa, fica cada vez mais resistente e difícil de ser curada!

By Maria Francisquini, psicóloga.

BONDE DA MÁ VONTADE

Ei você atravancador, tá reclamando de quê???


Você e eu já ouvimos pra caramba as pessoas reclamarem da grosseria e má vontade nos atendimentos, né verdade? Mas, o fato mais interessante disso é, que quando o reclamador tem a possibilidade de se tornar um "facilitador" ele incorpora o "exu-dos-obstáculos-intransponíveis" da qual ele mesmo reclama e se torna um atravancador igual ou pior àqueles que ele (ou ela) encontram pela vida.

Semana passada a piscina que trabalho atendendo Watsu fechou e com isso, iniciou-se minha peregrinação por um novo retângulo cheio de H2O quentinho. Nos meus contatos com academias e piscinas, foi uma festa de má vontade misturada à ignorância que só fez sedimentar essa percepção que já estava me cutucando.

Uma semana antes, andando de carro com minha doce mãe, ela reclamava da falta de educação dos motoristas na rua, enquanto ela mesma avançava o sinal e ao perguntar porquê ela simplesmente não fazia o que era certo, ela me respondeu que fazia "o quê ela achava que devia fazer".............. oi?

É assim que todos andam fazendo "o que acham que devem fazer" ao seu modo e isso corresponde na prática a um mal atendimento, baixa qualidade em serviços, falta de paciência, ausência de gentileza ou indisponibilidade para ajudar.

Boa tarde, por gentileza, você pode ma dar uma informação?

Não é interessante você querer ser bem atendido quando parece um animal fazendo um pedido? Alguns respondem "mas eu estou pagando!", ok, isso faria sentido se fôssemos atendidos por robôs programados com sorrisos congelados, mas não, muito por um acaso quem nos atende é um humano que está ali ralando não somente para receber um salário no fim do mês, mas, para também encontrar o regozijo em Servir.

Urgh! Servir? Sim, mas não é um servir de "servidão". Basicamente estamos todo o tempo criando serviços, produtos e os mais loucos lances para servirmos uns aos outros. Não se trata somente de vendas, de atendimentos, consultas ou terapias. Seja qual for o setor que você e eu trabalhemos estamos em prol de servir à humanidade e em contrapartida somos servidos a todo momento.

Então, como você gostaria de ser servido? Como você pode desejar receber um sorriso ou gentileza, se quando a oportunidade de servir lhe é dada e você se torna um atravancador dos processos, dos contatos, da alavancagem ou mesmo sendo uma ponte que só dificulta e fecha as portas para os outros?

Observe que aqueles que vivem reclamando de mal atendimento, dos serviços públicos e comportamentos alheios são absurdamente grossos, mal educados e indelicados além de destruidores de transportes públicos, porcos-humanos que jogam lixo nas ruas e seres sem o mínimo de paciência para esperar pentelhésimos-de-segundos para um sinal abrir, por exemplo.

Note, que não estou falando de dizer sim à todo mundo ou escancarar as portas e deixar entrar o que vier, mas, de criar uma disponibilidade interna para realmente escutar o que outro tem a dizer, entender e se fazer entender com cordialidade, compreender o que o outro procura ou precisa com o objetivo de dar um feedback de acordo, entre muitas outras auto-oportunidades de servir e ser servido com Qualidade-Humana, porque somos e fazemos esses papéis o tempo todo, estamos a todo momento nas duas duas pontas do atendimento.

Esse tipo de comportamento não está atrelado ao seu salário ou

à alguma bonificação por sorrisos-largos,

é algo que faz bem primeiro à nós mesmos,

pois o bom humor é uma graxa que lubrifica a alma.

Há uma aura que criamos à nossa volta, ela pode ser como uma ponte de facilitação, onde não só facilitamos como somos facilmente facilitados, ou, aquela que se tornou quase um lugar comum para a humanidade que é a energia de atravancamento. Não acredita? Só há como você acreditar que é possível facilitar e ser facilitado, se mudar sua postura, mesmo que seja de modo experimental.


O mal humor nos deixa cegos.

Ainda estou procurando minha piscina para trabalhar num fluxo-fluido de águas com meus clientes, mas, posso dizer que já estou sendo ajudada nisso, vários amigos e mesmo os próprios clientes estão nesse processo. Esse é o verdadeiro significado de facilitar energias, coisas e pessoas e ser facilitado tanto quanto.

A forma como desejamos nos comportar é sempre uma escolha. Escolher ser um facilitador da vida é escolher um caminho mais leve para si mesmo.
Monik Ornellas

GOVERNO FEDERAL PERMITINDO ARSÊNICO NO SUCO DE MAÇÃ?

No ano passado, comecei uma coluna sobre corpo e saúde no site do Creators Syndicate chamada “C-Force”. E não é surpresa que, durante as minhas pesquisas para a coluna, eu tenha descoberto casos reincidentes de adulteração de alimentos e bebidas por parte do governo federal. Mas arsênico no suco de maçã?

O cirurgião cardíaco Dr. Oz sofreu fortes críticas quando relatou em setembro que “algumas das marcas de suco de maçã mais famosas contêm arsênico”. Mas desde então, o Dr. Oz foi redimido e suas afirmações se confirmaram!

Após as primeiras declarações de Oz, o Dr. Richard Besser, há 13 anos no Centro de Controle e Prevenção de Doenças e editor-chefe de saúde e medicina da ABC News, escarneceu publicamente o Dr. Oz por seus avisos sobre o arsênico como “de extrema irresponsabilidade”, “alarmista” e comparado a gritar “Fogo! em uma sala de cinema”. No meio do debate público, a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA — espécie de Vigilância Sanitária) tentou defender o cartel afirmando que o consumo de suco de maçã “oferece pouco ou nenhum risco”.

Mas há poucos dias assisti ao Dr. Besser no programa “Good Morning, America”, mais humilde, voltar atrás na sua fúria contra as conclusões de Oz, afirmando em vez disso que novos estudos confirmaram que realmente o arsênico está presente em muitas marcas populares de suco de maçã.

A ABC News noticiou que a revista Consumer Reports testou 88 amostras de marcas populares de sucos de uva e maçã vendidos nos EUA, incluindo Welch’s, Minute Maid e Mott’s. Os resultados revelaram que 10% dos sucos “continham níveis totais de arsênico maiores do que os padrões de água potável da FDA (10 partes por bilhão), enquanto que 25% dos sucos também continham níveis maiores do que os limites da FDA para água engarrafada (5 ppb).

Além disso, dados sobre os níveis de arsênico na urina de adultos do Centro de Controle e Prevenção de Doenças demostram que homens e mulheres que beberam suco de maçã ou uva nas últimas 24 horas tinham “um nível em média 20% maior de arsênico na urina do que os voluntários que não beberam”.

A revista noticiou ainda que o arsênico testado e detectado é inorgânico e cancerígeno. A revista esclarece o seguinte sobre os riscos do arsênico: “provas científicas coletadas sugerem que a exposição crônica ao arsênico e ao chumbo em níveis até menores do que os padrões federais para água podem resultar em sérios problemas de saúde, principalmente para crianças que sofrem exposição no útero ou na infância. Os dados da FDA e outras pesquisas revelam que o arsênico foi detectado em níveis preocupantes também em outros alimentos”. Mas quem será que quer ou precisa de arsênico, seja ele orgânico ou inorgânico, na sua água, suco ou comida? (Oz ressaltou que, embora muitos digam que o arsênico orgânico é seguro, há claras evidências de que ambas as formas são, no fim das contas, perigosas à saúde).

Tropeçando tragicamente em um enorme esquema de ocultamento, a FDA publicou oito “resultados de testes anteriormente secretos” de amostras de suco de maçã de todo o país que continham níveis de arsênico que superavam até seu próprio “nível de preocupação” para o arsênico inorgânico. Duas de oito amostras continham 27 ppb, uma continha 42 ppb, e duas outras continham 45 ppb!

O pior é que essas cinco amostras foram descobertas em 2008! E só agora tomamos conhecimento delas?

Em detrimento nosso, a FDA possui limites para arsênico na água (incluindo engarrafada), mas não para sucos de frutas. No mínimo, a FDA não deveria permitir mais arsênico em sucos do que na água potável dos americanos! Até lá, rios de arsênico continuarão a fluir das plantações estrangeiras para dentro do sangue dos americanos. (Se quiser reclamar sobre esse caso, entre em contato com a FDA pelo site FDA.gov ou ligue 1-888-463-6632).

A Dra. Urvashi Rangan, diretora de segurança e sustentabilidade da revista Consumer Reports, fez com propriedade esta assertiva declaração: “Estamos preocupados com os riscos potenciais de exposição a essas toxinas, principalmente para crianças, que são especialmente vulneráveis devido ao seu baixo peso e à quantidade de suco que elas costumam consumir".

Com o suco de maçã envolvendo desde a dieta regular das crianças, cereais, lanchonetes e festas em datas comemorativas, precisamos investigar essa advertência sobre a nossa saúde em nível nacional e alertar nossos vizinhos. O fato é que os EUA estão consumindo cada vez mais frutas e verduras de outros países, sendo que muitos deles não eliminam ou limitam o arsênico nos seus pesticidas ou mesmo nas suas reserva de água, como fazem os americanos. Oz relatou que o sumo concentrado de maçã vem de até sete países, sendo 60% importado somente da China.

Eu concordo com Oz, Rangan e a Consumer Reports: “É melhor que os consumidores reduzam sua exposição” a esses sucos. A revista agora recomenda, até que o escândalo seja remediado, não oferecer qualquer tipo de suco a crianças com menos de 6 meses de idade, não permitir o consumo maior do que 180 ml para crianças de até seis anos e 240 a 350 ml para crianças maiores.

Esse é outro exemplo perfeito da razão pela qual os entusiastas por saúde gostam da minha esposa, Gena. Eu recomendo a todos que sempre comprem hortaliças locais e orgânicas, e se possível, faça a sua própria horta e seu próprio suco.

Então atenção, consumidores! Maçãs venenosas não são apenas coisa de contos de fadas.

Chuck Norris
Traduzido por: Luis Gustavo Gentil

ANIVERSÁRIO DO VELHO LUA

Zelação cruzou o céu do Araripe naquele dia 13 de dezembro de 1912. Januário delirou de alegria com a chegada de Luiz. Pai do Brasil, gênio da raça, filho da terra, tanto fez e tanto cantou que a gente não sabe mais quem veio primeiro: Gonzaga ou o Nordeste. Forma, ao lado do orixá Dorival Caymmi e do erê Noel, a minha santíssima trindade brasileira – senhor do mapa sonoro das nossas gentes.

Lua é feito banho de rio, balanço de rede, drible, passe, xirê, rabo de arraia, ciranda, quermesse, novena, baticum, asa branca, assum preto, légua tirana, água de cacimba e acauã.

Seu Luiz é o Brasil entranhado e os seus chamamentos, voz da seca e florada no pé da serra, canto ancestral e ancestral do canto, egungun brasileiro, entidade poderosa do povo de cá, totem, cerâmica marajoara, boneco de Vitalino, santo de andor e exu de rua – arrepiando no fole da sanfona que nem Seu Sete da Lira, sedutor de donzelas, faria melhor.
Muito do meu amor pelo Brasil devo a Lua, ídolo maior dos velhos que me criaram – avô e avó vindos de Pernambuco e das Alagoas. Eles me ensinaram, ao cantar o gigante do Araripe, a acreditar no Brasil insinuante, nó do mundo, ponto de virada, possibilidade de grandeza no rame-rame de suas belezuras.

Lua é a civilidade mais entranhada de alumbramentos, sanfonando o mundo como Besouro recriava o sonho no arrepiado das capoeiras e Mané driblava o desmantelo da vida em beleza na linha de fundo.

Os velhos do santo dizem que, depois de criar os orixás e as enormidades do universo, Olodumare passou a se preocupar com um detalhe: se os homens estão fadados ao esquecimento, quem saberá rememorar o dia da criação e louvar os seus encantamentos? Quem perpetuará o limiar dos tempos?

Para resolver o dilema, Olodumare concedeu a alguns homens o poder do canto, os secretos da música, da dança e dos chamamentos da poesia – para que a arte celebre o alvorecer da vida e seja capaz de ludibriar a finitude em sons imorredouros.

Luiz Gonzaga, o aniversariante de 13 de dezembro, é um desses eleitos permanentes do Deus maior, abençoado pelas musas de pés rachados e fulô nos cabelos que serpenteiam, pobres de marré-de-si, de baixo pra cima o Araripe, com as asas secretas de alforriar os mundos.

luiz antonio simas, DEZ/2011

MUDANÇAS

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de maior espanto,
Que não se muda já como soía.

CAMÕES

A CONDIÇÃO HUMANA 15

A CONDIÇÃO HUMANA 16

A CONDIÇÃO HUMANA 12

A CONDIÇÃO HUMANA 9

A CONDIÇÃO HUMANA 8

A CONDIÇÃO HUMANA 7

A CONDIÇÃO HUMANA 5

A CONDIÇÃO HUMANA 4

A CONDIÇÃO HUMANA 3

A CONDIÇÃO HUMANA 2

A CONDIÇÃO HUMANA 1

VÁRIOS VÍDEOS DA SÉRIE FORAM BLOQUEADOS OU DESATIVADOS.


UM PERSONAGEM DE FICÇÃO LIDERA AS PESQUISAS SOBRE CONFIANÇA NOS EUA E CANADÁ

Quem acredita em Deus não confia em ateus, diz estudo divulgado por psicólogos da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá. É o que leio no jornalismo on line. Por causa dessa desconfiança, diz a pesquisa, os religiosos desenvolvem contra os ateus um preconceito maior do que o endereçado a gays e fiéis de religiões diferentes da sua. A mostragem foi de 350 americanos adultos e 420 estudantes canadenses. O que prova que obscurantismo não é quinhão do Terceiro Mundo. Embora o universo pesquisado não seja muito significativo.

Não sei bem o que seja um crente de Primeiro Mundo. Conheço só os de minha aldeia. Quanto aos americanos, não é de espantar. Pelo que leio, os Estados Unidos é a mais fanática das nações ricas. Já os canadenses me surpreendem. Sempre tive do Canadá a idéia de um país bastante laico. É que conheço mais o Canadá francófono. Não por acaso, a pesquisa foi feita no Canadá anglófono.

Foram propostas perguntas e cenários hipotéticos aos participantes e a maioria achou que a descrição de uma pessoa não confiável é melhor representada por um ateu do que por cristãos, muçulmanos, gays, feministas ou judeus. Apenas criminosos, como estupradores, conseguiram um grau de desconfiança comparável com o dos ateus.

É uma velha intriga, decorrente de uma frase falsamente atribuída a Dostoievski. Ano sim, ano não, me sinto obrigado a esclarecer o qüiproquó. Quiproquó, se alguém não sabe, era originalmente uma espécie de lista de genéricos encontrada nas farmácias para indicar as substâncias que deveriam substituir os remédios receitados pelos médicos, caso as farmácias não os tivessem. Com o tempo, a palavrinha virou sinônimo de engano, equívoco. Ainda em julho passado, o psicanalista Luiz Felipe Pondé, colunista da Folha de São Paulo, fazia eco ao besteirol, citando um psicólogo americano, Paul Bloom, que tampouco havia lido o escritor católico russo. Mas a ele atribuía a frase “se Deus não existe, tudo é permitido”.

Só tem um pequeno detalhe: Dostoievski jamais escreveu isso. Foi Sartre quem divulgou, urbi et orbi, esta bobagem, repetida até por dona Dilma, quando pretendeu demonstrar erudição. Quem menciona esta frase são geralmente pessoas que nunca leram Dostoievski e o citam de ouvir falar. Pelo que se lê nos jornais, apesar de sua vasta obra, Dostoievski é autor desta única frase. Não tenho lembrança de ter ouvido a citação de qualquer outros topoi do escritor russo.

Há alguns anos, me dei ao trabalho de reler Os Irmãos Karamazov para ver se Dostoievski havia realmente escrito tal bobagem. Não encontrei. O russo refere-se a Deus, é verdade, mas também à imortalidade. Ou seja, o tudo é permitido depende de castigo ou recompensa no Além. A simples idéia de Deus não é suficiente como sanção. Sem a referência à imortalidade, Dostoievski está deturpado.

Como os leitores sabem, sou ateu desde meus verdes anos. Há décadas convivo com crentes. Melhor diria, com católicos, que são os que mais encontro. Me entendo bem com todos e jamais tivemos atritos. Muito menos a desconfiança permeou nossas relações. Desde que religiosos não se metam em minha vida privada, desde que não pretendam determinar meu comportamento na mesa ou na cama, nada contra. De minha parte, tampouco tento convencer alguém de minhas crenças ou descrenças. Mas me permito discutir o Livro, como aliás discuto qualquer livro.

Já tive acerbas discussões com ateus que se queixam – os coitadinhos – de serem discriminados. Vai ver querem cotas na universidade. Ora, nunca fui discriminado por ser ateu. Fui discriminado, isto sim – e perdi empregos – por não ser comunista.

Os crentes são em geral oportunistas. Crêem em Deus e assumem uma ética na esperança de uma aposentadoria cheia de bênçãos por toda a eternidade. Nós, ateus, somos éticos sem pedir refresco a nenhuma instância do Além.

A pesquisa em questão foi motivada pelo resultado de um outro estudo realizado pelo instituto Gallup, que constatou que apenas 45% dos americanos votaria em um candidato que admitisse ser ateu. Que as maiorias são estúpidas, nisto não vai nada de novo. Mesmo entre nós, tanto Fernando Henrique como Lula mudaram de assunto quando interrogados sobre se acreditavam ou não em Deus.

Deus, para mim, é o personagem mais bem sucedido da história da literatura. Três mil ou mais anos depois de sua criação, ainda freqüenta a lista dos best-sellers. Não há analfabeto que não o conheça: “uma esmolinha, pelo amor de Deus”.

Os sacerdotes, desde o início dos tempos, eram ficcionistas poderosos.
janer cristaldo

CHEGA DE D.R. !!! SÓ O SILÊNCIO SALVA O AMOR


Os corpos até se entendem, as almas nem sempre.

A D.R., a mitológica Discussão de Relação, tem tudo para dar errado.

A gente sabe disso, mas é melhor quando a ciência chancela a parada. Foi o que acabou de fazer o seríisimo linguista americano John Locke.

O cara lançou nos EUA “Duels and Duets”, ainda sem tradução no BR. É isso aí. Duelos e duetos.

A colega Juliana Vines resumiu a obra aqui na Folha.com: o livro diz que homens e mulheres se expressam de formas bem diferentes: eles duelam, disputando poder, e elas falam como se estivessem fazendo duetos, compartilhando informações.

A pesquisa sobre o desentendimento me fez lembrar de um casal que vive há 20 anos, na mais perfeita harmonia, sem trocar uma palavra, como registrei em uma crônica recente.

Vinte anos, amigo, sem um monossílabo, nem um pantim, nem um grunhido, nem um muxoxo, nem um arrulho, apenas o silêncio a lastrear o lindo amor dos pombinhos.

Talvez seja a fórmula do sucesso, o Santo Graal dos relacionamentos, a chave do mistério.

Assim vivem João e Maria –nomes falsos, óbvio, para preservá-los, pois moram em um lugar onde habitam menos de mil pessoas, na chapada do Araripe, Santana do Cariri (CE).

João e Maria, meia dúzia de filhos, estão na faixa dos 65 de idade e deixaram de se falar por besteira e capricho.

Certo dia, João a procurou, com teimosia e macheza, e Maria recusou-se a fazer os gostos sexuais do marido. Não estava a fim, pronto, queria ficar na dela.

O cabra voltou a insistir por mais cinco vezes nas semanas seguintes. A católica Maria, cansada de guerras e gravidezes, manteve-se na resistência.

Com o orgulho de macho ferido, ele fechou a cara. Em pouquíssimo tempo descobriram o bem que fazia aquele silêncio, passaram a conviver sem discussões ou arengas, estavam a dois passos do paraíso na terra.

Com a economia de palavras, não inventam conflitos, não brigam por miudezas, não ferem e não são feridos com o mal que sai da boca do homem.

Meu primo Zé Humberto, que visita aquele lar doce lar semanalmente para a venda de carne em domicílio, assegura: não há casal mais feliz nas redondezas.

Até mesmo quando estão em dúvida se compram um talho de contrafilé ou de costela, por exemplo, eles tocam de ouvido. Num simples olhar, resolvem.

Dias desses, Humberto flagrou João morrendo de saudade. Maria estava passeando em São Paulo. Ele morria por dentro de tanta falta.

De gozação e chiste, meu primo sugeriu um telefonema, pelo menos umas duas, três unidades de crédito no orelhão da esquina. O marido saudoso até se benzeu para evitar a tentação da proposta.

João aprecia mesmo, na mirada certeira dos seus olhos semi-áridos, é olhar a sua mulher sem que ela perceba. Admirá-la dormindo, por exemplo, a extrema beleza da calada da noite.

Fica horas neste exercício, relembrando o tempo em que estragavam o amor com palavras como tapuru –bicho-da-fruta- bota a perder as melhores goiabas.

Xico Sá