segunda-feira, 19 de abril de 2010

SAÚDE AMORDAÇADA ( II )

Os brasileiros adoram tomar analgésicos e antiinflamatórios! São os grandes campeões de consumo, ao lado dos ansiolíticos, os conhecidos tranqüilizantes, adquiridos indiscriminadamente e pelas mais simples razões: insônia, inquietação, a menor ansiedade ou pânico ou simples mau humor... E o cordão dos dependentes, cada vez aumenta mais!
A 'caixa preta' do patrocínio em pesquisas já começa a preocupar entidades médicas e os próprios pesquisadores! Os conflitos de interesse entre os cientistas e a indústria farmacêutica são objeto de estudo importante nos últimos anos.
Os patrocinadores exercem o absoluto controle da pesquisa, através de contratos! Determinam quem pesquisa e quem deve ser afastado! O que pode ou não ser divulgado! Rumorosos casos de pesquisas, que terminaram na constatação de medicamentos perigosos caíram no silêncio das cláusulas de confidencialidade. Ainda que houvesse ameaça a saúde dos consumidores! Uma ética às avessas.
Cada novo remédio custa entre 300 e 500 milhões de dólares. O lucro? Supera em muito o investimento! O caso Viagra: a galinha de ouro da Pfizer! O remédio rendeu - apenas em 2001 - 1,3 bilhão de dólares! No mesmo período os novos ansiolíticos e outras drogas para doenças cardiovasculares faturaram 90 bilhões de dólares!
Nas suas campanhas, os laboratórios são generosos! É comum, no Brasil, os médicos receberem mimos e presentes, como jantares em restaurantes de luxo, viagens internacionais, participação em congressos com tudo pago etc.
A banalização dessa prática levou o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) a bater forte na indústria farmacêutica, exigindo comportamento ético dos profissionais ante a "cortezia" dos laboratórios.
O médico tem cada vez menos tempo para o seu paciente. A grande arma terapêutica, que é o contato com o paciente (a conversa fiada, mas reconfortante, a simpatia do encontro, o acolhimento, do nome próprio pronunciado a reboque do diagnóstico...), já está em desuso, estimulando a utilização de remédios, como prática de abreviar a consulta! Prescrever sem olhar o quê e sem saber a quem!

O problema é que os especialistas sabem que qualquer droga é perigosa, em maior ou menor grau. Exemplo: reposições hormonais. Um único miligrama de hormônio - substância naturalmente produzida por uma glândula - é suficiente para alterar o funcionamento de sistemas vitais, as características morfológicas e o humor de uma pessoa. Bastam por exemplo, 50 trilionésimos de grama de estrógeno por milímetro de sangue, para garantir às mulheres, as formas arredondadas e a graciosidade dos traços delicados que são a marca do feminino.
Como a produção natural do estrógeno decai na menopausa, tornou-se hábito suplementá-lo em mulheres nessa fase da vida, com a adição de hormônio sintético. O problema é que desde a década de 70, os efeitos deletérios vêm sendo constatados entre os quais o câncer de útero.

Todo medicamento tem efeitos colaterais: os antialérgicos causam sonolência e dificuldade de concentração; os antibióticos prejudicam o fígado e os rins e até podem causar surdez; a cortisona provoca pressão alta e úlcera. Antiinflamatórios podem provocar úlcera, gastrite e hemorragia digestiva; os suplementos vitamínicos podem ter efeitos indesejáveis; o excesso de vitamina C pode levar a litíase renal e o das vitaminas A,
D, E e K, causar lesões no fígado. Muita vitamina A provoca também fadiga, insônia e agitação.
A intervenção para aliviar tais efeitos com outros medicamentos, não raro fecha o circuito de complicações das quais o paciente não consegue se libertar facilmente.
Casos comuns de dependência estão ligados aos benzodiazepínicos (calmantes) e as anfetaminas (usadas nos moderadores de apetite).

"A hipocondria é um dos recursos do homem para lidar com as dores do drama de sua existência", diz o psicólogo Rubens Volich em seu livro Hipocondria: impasses da alma, desafios do corpo.
Sempre convencem o médico a prescrever algum medicamento. E retornam a ele muitas vezes, por obra dos próprios medicamentos ingeridos.
A maioria dos hipocondríacos sofre de depressão, diz o psiquiatra Marcelo Niel. "E enquanto esse problema não for tratado, eles continuam expostos a medicamentos desnecessários". Como estão sempre ingerindo algum tipo de medicamento, há uma propensão a se tornarem dependentes. Marcelo diz que considera normal que alguém tome um calmante em um momento especificamente insuportável. "O problema é quando qualquer situação de desconforto passa a ser esse momento crítico", diz o psiquiatra.

Os especialistas são unânimes em concordar num ponto de que pouca gente se dá conta: a maior parte das doenças pode ser curada pela ação do próprio organismo.

"A natureza resolve sozinha 90% dos problemas de saúde", diz o médico Daniel Sigulem, professor da Universidade Federal de São Paulo. "Em geral, pede-se aos médicos apenas que não atrapalhem".
Essa conclusão, seguramente você não encontrará em bulas de remédios...
[Este artigo baseou-se em informações da matéria Viciados em remédios, Jomar Morais.]
Luz e consciência.

M. AMERICO