terça-feira, 27 de outubro de 2015

SABEDORIA EM GOTAS

«Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto, depende de que lado da porta do banheiro você está.»  (Apparicio Fernando de Brinkerhoff Torelli, “Barão de Itararé” (1895-1971), humorista gaúcho.)

RETRATO SEM RETOQUE


Chegou cansado da viagem pelo metrô e ônibus entupidos. A televisão estava ligada e a mulher estava na cozinha preparando algum de comer.


- Oi! Que temos de bom?
- A surpresa de todo dia... Vai tomar seu banho...
- E os meninos?
- Foram acompanhar a tia Estela.

Sentou-se um pouco no sofá e viu de relance a imagem do corpo do policial queimado, crianças do morro armadas com fuzis AK, mira telescópica, - sabia porque tinha passado pelo serviço militar - o container no porto cheio de droga o fez lembrar das cenas dos bandidos fugindo de um morro "pacificado" para o morro vizinho, onde o império da droga foi dividido entre duas facções. Um território com leis próprias. As leis do crime organizado pelos narcotraficantes.

Levantou-se para tomar o banho pensando que as notícias chegavam pela metade como se alguém levantasse um véu para esconder os beneficiários e mandantes daquela guerra desgraçada. que atacava de surpresa e matava em qualquer lugar. Estava muito mudado o Brasil. A gente comum como ele só queria trabalhar, viver, educar os meninos, dar bom exemplo no bairro, ir à igreja de vez em quando pra não se viciar, que até os padres e pastores estavam com um papo muito furado.

Acabou a higiene e no quarto, abriu o notebook sobre a mesinha pra caçar as notícias que a televisão não dava. "Washington - Os Estados Unidos apreenderam 191 toneladas de cocaína no ano fiscal de 2015, um aumento de 20 por cento em relação a 2014, o que reflete a crescente colaboração regional no combate às drogas, informou na quinta-feira o chefe do Comando Sul, general John Kelly."

O tal general era o manda chuva do Comando Sul dos EUA. Um quatro estrelas responsável pelo combate às drogas na América Latina, atuando em coordenação com a DEA. Lembrou que só em Nova Iorque gastaram 400 milhões de dólares no combate ao tráfico. E ficou pensando que no Brasil os militares nem ligavam para as mais de 50 mil mortes da nossa guerra, que a polícia nem sabia mais o que fazer. O general americano dizia contribuir para a total segurança da zona, com treinamentos, exercícios de prontidão e capacitação, citando a tríplice fronteira do Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia...

Falando no Congresso, disse: "... Em face da disseminação corrosiva de redes criminosas e outras ameaças, temos de trabalhar ainda mais para assegurar que o Hemisfério Ocidental seja é um farol de liberdade, democracia e paz... " E o Brasil? Por que os militares não agem  conscientes desta urgência fazendo algo aparentado? Será que o Exército, a Marinha, a Aeronáutica não sentem responsabilidade pelos milhares de vidas, nem pela destruição moral e econômica do país onde o crime organizado deita e rola?

Nos Estados Unidos os militares assumem a responsabilidade no combate às drogas, exercendo seu dever e se comprometem com a segurança nacional e das Américas. Porque o nosso exército não segue o exemplo? Ocuparam uns morros no Rio, tiveram baixas e saíram, pichados pelas ongs de "direitos dos manos". Por que não garantem a segurança dos cidadãos numa guerra que nos perturba e agride, em casa, nas escolas, no comércio, nos locais de trabalho, nas ruas, com violência crescente?

Bastava um comando regional agir, entrar na guerra, que o crime organizado iria perder suas áreas. Uma ofensiva contra os terroristas tapando as fronteiras e marchando do sul para o norte e centro oeste. Pacificar o Brasil. Mostrar aos políticos que os brasileiros estão morrendo enquanto eles obedecem a cartilha dos comunistas. Mostrar que ainda existe dignidade e sentimento de identidade pátria. Mostrar que os militares têm um dever e que historicamente poderão ser responsabilizados criminalmente por leis previstas nos códigos militares e na  Constituição.


- Deixa este computador e vamos jantar, disse a mulher abraçando-o por trás e apoiando o queixo em seus cabelos úmidos. Lembrou da infância livre e solta brincando na praça. O filho mais velho estava pensando em fazer serviço militar, num exército bem diferente, que dispensava os soldados por faltar alimento nos quartéis... 

27 de outubro de 2015
in viver de novo