terça-feira, 26 de janeiro de 2016

DÚVIDAS SOBRE O FEMINISMO

Sasha Grey: sujeito ou objeto?
SUJEITO OU OBJETO??

Sei que “não posso” tratar do tema, pois sou homem, mas ainda assim me atrevo a adotar uma licença poética e de gênero (explico no último tópico). Também sei que não há “o feminismo”, mas sim vários “feminismos”, com todo tipo de corrente, tendência e coisa do gênero (ops) – algo natural em todo grupo ideológico, político ou até religioso mais amplo, tais como direita, esquerda, ateus, veganos ou torcedores do palmeiras.
Mas sigamos.
Decisão expressa vs Cantada/assédio
Começo pela questão levantada neste texto (é da Aline, uma feminista de esquerda – e brilhante -, então não digam que se trata de golpe ou pegadinha reaça, por favor): se é NECESSÁRIO o ACEITE EXPRESSO da mulher, o que se dá evidentemente por meio de manifestação inequívoca e verbal, como diabos o homem pode sugerir sexo ou algo do tipo se, ao mesmo tempo, fazer isso é considerado ASSÉDIO ou até AGRESSÃO?
Ou bem não se pode propor coisa alguma, ficando desse modo impossível haver o pedido a ensejar concordância ou discordância expressas, ou então seria permitida ao menos uma primeira tentativa (para que a mulher, afinal, possa recusar-se também expressamente e deixar claro que o NÃO é NÃO).
Porém, exigir contrato OBJETIVO E INEQUÍVOCO, com manifestação clara das partes, e ao mesmo tempo condenar aproximações desse tipo, aí a conta não fecha. Como seria o pedido claro e expresso? Fica a dúvida, aguardando-se a gentileza de alguma explicação.
Critérios para escolha de parceiros
Uma mulher decide com quem sai, transa ou namora, sempre de acordo com seus próprios critérios. Cabe a ela, portanto, estabelecer os porquês de um “sim” ou “não”, seja para curtir uma noitada ou passar parte da vida ao lado de outra pessoa. Ok.
E é também perfeitamente legítimo e correto que uma mulher não queira namorar um sujeito de vida pregressa que lhe desagrade (seja por que motivo for), incluída aí a hipótese de não querer namoro com homens “galinhas”, desses que saem com todas ou “atiram para todo lado”. Concorde-se ou não com os motivos, não há como discordar de que SOMENTE A PRÓPRIA MULHER decide suas razões de voto ou veto de parceiros.
Corretíssimo tudo isso, sem dúvida, mas…
Por que é reprovável e em alguns casos inaceitável – por parte especialmente das feministas – quando é um homem que utiliza seus próprios critérios para desejar ou não uma relação, sejam eles quais forem (incluída aí a hipótese de não querer quem “atire para todo lado” ou seja “galinha”)? Mais uma continha que não fecha, né?
Ou os critérios de escolha são personalíssimos, sem que qualquer outro possa meter o bedelho, ou então ficariam estabelecidos critérios fixos (para homens e mulheres). Como essa segunda opção é um tanto ridícula, parece razoável que cada um cuide mesmo de si e escolha quem quiser da forma que quiser (valendo para homens e mulheres).
Portanto: se uma mulher não quer um cara notoriamente safado, ela não está “errada”, sobretudo e especialmente porque ELA DECIDE COM QUEM SAIR OU NAMORAR. Ponto. E o mesmo vale para o cara. Liberdade plena de decisão funciona assim, ora. Não faz sentido um caso ser tratado como “escolha livre” e o outro como “machismo atávico”.
Prostituição
De um lado, há o grupo que condena a prostituição por configurar uma espécie de escravidão, segundo a qual a mulher é obrigada a seguir esse caminho para conseguir manter-se viva. Com maiores ou menores variações, há uma corrente assim. Não seria, portanto, uma “escolha”, mas sim necessidade.
E há outro grupo que considera a prostituição uma escolha autônoma da mulher que, afinal, dispõe sobre seu corpo e pode usá-lo como bem entender, até mesmo para finalidades não moralistas, considerando-se além de tudo correto que ganhe dinheiro com aquilo que lhe pertence (o corpo).
Não sei quem levará o caneco nessa discussão, tendo a me inclinar mais à ideia da segunda turma, mas parece o tipo do impasse que necessariamente o acerto de um lado transforma a outra tese em equivocada (seja qual for a correta).
Ah, sim: vale também para os casos em que mulheres posam em revistas de nudez, participam de filmes pornográficos ou algo do tipo. Afinal, prevalece a liberdade sobre o corpo ou há uma opressão permanente nisso tudo?
Aguardemos um acordo.
Corpo vs Outra Vida
Sou a favor da legalização do aborto até a formação do córtex cerebral. Esse é o critério, obviamente personalíssimo, a assegurar minha opinião sobre o tema. Cada qual estabelece o seu, seja por convicções racionais, religiosas ou ambas.
Mas, para o feminismo (sim, sei das correntes etc.), a parte inequívoca é que a mulher é dona de seu corpo. Creio que disso ninguém discorda. Mas parece FRÁGIL o argumento de que o feto, especialmente após algumas semanas, seja meramente uma “parte do corpo” da mulher, não?
Minha dúvida, portanto, é a seguinte: com oito meses de gravidez, alguém ainda acha que seja “parte” do corpo da mulher e não uma vida autônoma (cujos direitos existenciais, portanto, seriam garantidos pela lei)? Desse modo, a partir de que momento o feto transcenderia ao estágio de “vida” (segundo as correntes feministas)? Só quando nasce? Faltando um dia? Um mês?
E mais: por que o aborto é considerado uma escolha livre da mulher, que dispõe de seu próprio corpo, mas optar por cesárea em vez de parto normal (ou o tal humanizado) é algo a merecer reprimendas de muitas que defendem a referida liberdade? Por que um caso é tratado como “decisão autônoma” e outro é “imposição de uma indústria”? A conta não fecha de novo…
Por fim, homens e feminismo
Recentemente, descobri a palavra “feministo”. Trata-se de como algumas feministas denominam os homens que se dizem defensores da causa. Não caberia a eles, portanto, tratar do tema – tanto menos tentar algum tipo de protagonismo, mesmo por meio de textos ou pareceres FAVORÁVEIS à bandeira.
É um ponto, ok.
Mas por que, ao mesmo tempo, muitas feministas brancas (e até de olhos claros) escrevem, militam e protestam contra o racismo sofrido pelos negros? Pela lógica do “feministo”, não deveriam apenas os próprios negros tratar dessa causa e protagonizar tal luta? Vale também para índios e demais grupos.
Pois é… Ou então, por outra, de repente as pessoas podem sim falar do que quiserem, especialmente quando há empatia acerca da demanda do outro, percebida e “sentida” por quem está do outro lado. Ou não?
Se uma mulher – feminista ou não – branca milita contra o racismo sofrido pelos negros, por que um homem seria tecnicamente “proibido” de militar contra o machismo? Se for ver, não faz muito sentido. Ou todos podem, ou ninguém pode (só a vítima ou quem a este grupo pertença). Melhor que muitos lutem, não?
Enfim, são minhas dúvidas, reiterando as desculpas por tratar desse tema sendo homem cis, hétero e branco e, pecado maior!, não esquerdista.
Agradeço pela atenção e, sem ironia, adoraria obter algumas respostas esclarecedoras.
26 de janeiro de 2016
implicante