quarta-feira, 31 de agosto de 2011

PEDAGOGOS QUEREM CRIAR NOVOS SEXOS

Os pedagogos franceses, ao que tudo indica, estão querendo criar novos sexos. Leio no Nouvel Observateur que 80 deputados da Union pour um Mouvement Populaire (UMP) pediram ontem ao ministro da Educação o recolhimento de manuais escolares que explicam “a identidade sexual” dos indivíduos tanto pelo contexto sócio-cultural como por seu sexo biológico. Os deputados fazem eco às críticas expressas sobre o assunto, na primavera passada, pela direção do ensino católico.

Na carta ao ministro, eles estimam que estes manuais de SVT (Sciences et vie de la terre) do secundário fazem referência à “teoria do gênero sexual”. Segundo os deputados, nesta teoria as pessoas não são mais definidas como homens ou mulheres, mas como praticantes de certas formas de sexualidade: homossexuais, heterossexuais, bissexuais, transexuais. Para os assinantes da carta, trata-se de uma “teoria filosófica e sociológica que não é científica, que afirma que identidade sexual é uma construção cultural”.

Os signatários citam uma passagem de um manual publicado pela Hachette: “O sexo biológico nos identifica como macho ou fêmea mas não será por isso que podemos nos qualificar de masculino ou feminino. Esta identidade sexual, construída ao longo de nossa vida, em uma interação constante entre o biológico e o contexto sócio-cultural, é no entanto decisiva em nosso posicionamento em relação ao outro”.

Em uma circular do 30 de setembro do ano passado, o ministério indicava que os programas SVT do secundário deveriam comportar um capítulo intitulado “tornar-se homem ou mulher”. Se a identidade sexual e os papéis sexuais na sociedade com seus estereótipos pertencem à esfera pública, a orientação sexual faz parte da esfera privada – dizia a circular.

Os ativistas gays tupiniquins ainda não devem ter lido o Nouvel Obs de ontem, ou a insólita teoria já estaria nos currículos do Ministério da Educação. Quem deve estar tendo orgasmos em sua tumba é Simone de Beauvoir, autora da frase sem dúvida alguma mais idiota do século passado: “uma mulher não nasce mulher; torna-se mulher”. De uma penada, Simone abolia as diferenças constitutivas de macho e fêmea.

Ainda há pouco, eu escrevia sobre a última trouvaille dos suecos. Em Estocolmo, a pré-escola proíbe que crianças sejam tratadas como meninos e meninas. Em conformidade com um currículo escolar nacional que busca combater a "estereotipação" dos papéis sexuais, uma pré-escola do distrito de Södermalm, da cidade de Estocolmo, incorporou uma pedagogia sexualmente neutra que elimina completamente todas as referências ao sexo masculino e feminino. Os professores e funcionários da pré-escola Egalia evitam usar palavras como "ele" ou "ela" e em vez disso se dirigem aos mais de 30 meninos e meninas, de idades variando entre 1 e 6 anos, como "amigos".

Segundo a diretora Lotta Rajalin, a escola contratou um "pedagogo de diversidade sexual" para ajudar os professores e funcionários a remover as referências masculinas e femininas na linguagem e conduta. Além disso, não há livros infantis tradicionais como Branca de Neve, Cinderela ou os contos de fadas clássicos, disse Rajalin. Em vez disso, as prateleiras têm livros que lidam com duplas homossexuais, mães solteiras, filhos adotados e obras sobre "maneiras modernas de brincar". Pelo jeito, a relação homem/mulher virou anomalia.

Comentei na ocasião a acrobacia mental elaborada pelos pedagogos suecos. O han e o hon (ele e ela) foram trocados pelo pronome neutro hen, palavra que não existe nos dicionários. Mas tampouco é nova. Foi proposta por Hans Karlgren em 1994. Mas já havia sido aventada por Rolf Dunas, no Upsala Nya Tidning, em 1966. Nesta proposta, hen era apresentado como substituição a han e hon e mais: henom substituiria henne/honom (dele/dela). A palavra parece ter sido inspirada no finlandês hän.

Acontece que ausência de gênero é uma característica do finês e não ideologia de feministas. Não se trata de eliminar todas as referências ao sexo masculino e feminino. É que as palavras não são masculinas nem femininas. Tampouco existem artigos. Nos tempos verbais, não há futuro. O que deve exigir muita acrobacia dos políticos locais, pois não há como dizer, por exemplo, "eu farei isto ou aquilo".

Os sexos são dois, ora bolas. Opções sexuais são outros quinhentos. Um homem homossexual não deixa de pertencer ao sexo masculino, da mesma forma que uma mulher homossexual não deixa de ser mulher. As cirurgias de mudança de sexo não mudam em nada os dados da questão. É um homem que se transforma – ou tenta transformar-se – em mulher e vice-versa.

Depois que as esquerdas pretenderam abolir a noção de raça, esta nova moda se apresenta como candidata à mais colossal asneira das últimas décadas. E tão certo como deus não existe, logo logo vai ser moda em Pindorama.

Janer Cristaldo

UTOPIA DA IDADE PERFEITA

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LULA


A melhor definição:

Os camaleões têm até 60 centímetros de comprimento, com uma lingua muito grande para pegar suas presas como:insetos, mariposa,moscas etc (ou protáctil, não confundir com portátil), cauda preênsil e patas fortes.

Movimenta-se com lentidão. Para apanhar sua presa, utiliza a língua como um laço. Consegue, com grande velocidade, estender a língua quase um metro.
Sua língua, de ponta pegajosa prende o inseto e este é comido. Estuda-se esse processo com o auxílio de câmeras de alta velocidade. Ele se alimenta principalmente de insetos, entre os quais está o gafanhoto, a joaninha, o besouro, e muitos outros.

Os seus olhos podem ser movidos independentemente para qualquer direção, o que lhe confere aparência curiosa. Quando um camaleão vê uma presa, pode fixá-la com um olho e utilizar o outro para verificar se não há predadores nas redondezas. O encéfalo do camaleão recebe duas imagens separadas, que tem de associar.

À medida que se aproxima da presa, o camaleão fixa nela ambos os olhos para poder fazer pontaria. Os olhos são recobertos por uma pálpebra que deixa livre apenas uma pequena área circular no centro, que corresponde à íris e a pupila.

Sua pele tem bastante queratina, o que apresenta uma série de vantagens (em especial, a resistência). Mas essa característica faz com que o camaleão faça a "muda" de pele durante seu crescimento (a pele antiga descama, dando lugar a outra), a exemplo das cobras.

Outra característica é sua mudança de cor, um fato tanto curioso quanto interessante

A MULHER QUE FAZ XIXI EM PÉ


Influência das mães

Ainda não se deu a devida importância à influencia das mães e suas lições de higiene na história do mundo moderno.

Passamos a infância ouvindo que não havia nada mais sujo do que dinheiro. Depois de tocar uma nota que andara por mãos desconhecidas acumulando micróbios se deveria ir correndo lavar as nossas. Botar a mão na boca depois de tocar em dinheiro e antes de lavá-la era morte certa.

O resultado é que o dinheiro está em vias de extinção. Foi substituído pelo cartão de crédito, cuja principal vantagem é que, sendo de plástico e pessoal, circula menos pelo terrível mundo das bactérias e dos dedos que ninguém sabe onde andaram (grande terror das mães).

E estamos chegando ao ideal que nenhuma mãe previu, nem nos seus sonhos mais antissépticos: o dinheiro transformado em impulso eletrônico. O dinheiro que cruza o éter de computador a computador, sem jamais ser tocado pelo maior inimigo do homem, ou do filho, que é a mão dos outros.

Outra grande ameaça de contágio era corrimão de escada. Saíamos de casa com ordens expressas de não tocar em corrimão de escada. Entre rolar escada a baixo e segurar no corrimão devia-se optar pela queda. Fraturas pelo menos se viam enquanto os micróbios agiam em segredo. Resultado: inventaram a escada rolante. Outro triunfo das mães.

Mas terror mesmo, tema de histórias assustadoras com exemplos gráficos inesquecíveis do que podia acontecer, era tampa de privada.

A principio, devia-se evitar banheiros públicos. Se a necessidade de usá-los fosse inadiável, devia-se tomar precauções.

As meninas recebiam instruções minuciosas do que fazer no caso de não haver alternativa ao banheiro publico. Deviam forrar o assento da privada com papel ou, melhor ainda, equilibrar-se alguns centímetros acima da tampa, sem tocá-la, e confiar na pontaria. Sob pena de, nos casos mais graves, até ficarem grávidas.

Resultado: o travesti. O travesti foi a maneira que a Natureza encontrou de tranquilizar as mães, desenvolvendo a mulher que faz xixi de pé

Briguilino

EL TANGO

A capital em estado de graça, luminosa, corações batendo de amor e paixão. Buenos Aires em Agosto é linda, como é linda sempre. Na Corrientes uma turma de meio bêbedos apertava o passo para não perder o início do espetáculo, todos com o ingresso esquentando no bolso. De graça, o ingresso, mas aquela imensa fila às duas da tarde, só de lembrar, só bebendo mesmo. No bar, a maioria apostou nos argentinos, dois ou três no japoneses.

Quando Carlos Dulcemano Yanés sai do buteco da Sarmiento, com idêntico destino, no bar do lado uma mulher declama a letra infernal: "Mira lo que se avecina a la vuelta de la esquina, viene Carlito rumbeando. Con la luna en las pupilas y en su traje agua marina van restos de contrabando...". Carlito não pára, nem olha. Sueña en bailar un dulce tango, pecados hoy no más.

Hoje o jornal Clarín trará poucas notícias, é a elite solamente branca, a Globo deles, mas o povo jamais esquecerá este dia. Hay los periodicos de los pueblos.

Que dia. Que noite. Noche del alma.

Foi preciso uma sensacional ronda de desempate para que a dupla colombiana Natasha Agudelo Arboleda e Diego Julián Benavídez vencesse o Campeonato Mundial de Tango de Salão 2011, na final disputada ontem, segunda-feira, no Luna Park, em Buenos Aires.

Pois é: o Festival Mundial de Tango da Argentina foi ganho por um par da Colômbia. Aliás, os cinco primeiros lugares foram para a Colômbia, Venezuela, Estados Unidos, Itália e Japão, sem a presença dos 18 casais argentinos que participaram do torneio.

Para o festival compareceram 490 bailarinos de todo o planeta, além de dezenas de milhares de turistas. O número de pessoas presentes é estimado em 2 milhões na semana.

Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, o Tango é de todos, o Tango é... do mundo.

Natasha e Julián receberam cinco mil euros e uma viagem a Paris. Vão dançar aos pés da Torre Eiffel, em grande estilo, leves, sem a tensão da disputa, para delírio dos parisienses que os aguardam ansiosos.

Pela primeira vez na história do Mundial de Tango houve empate, entre o par vencedor e a dupla venezuelana formada por John Erban e Clarissa Sánchez, que terminaram na segunda posição.

Não é como uma Copa do Mundo de Fútbol. Não há roubalheira e mentira, ídolos de barro, nem humanos se socando a matar em octógnos de desespero, vulgares.

É mano a mano, gente como a gente, sem traiçoeiros jogos de luzes e arrumamentos no corpo. Ao fim: ela e eu conseguimos, a mais ninguém devemos.

"O tango não são os passos, mas sim o amor com o qual você dança. Este amor aparece nos abraços. O tango é um abraço", disse Diego Julián.

Lo qué decir? Arrabalero, milonguero! Al bailao.

O Mundial de Tango teve início há uma semana, dividido em duas categorias: Tango de Salão, ao estilo tradicional (ah, viejo milonguero), sem que os participantes saibam sequer qual o tango que será tocado para a apresentação, e Tango de Palco (Escenario), mais acrobático, um show.

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A final de Tango de Palco ocorrerá nesta terça-feira.

Ilustração: El club de mis amores, Tinta e acuarela, da artista plástica rosarigasina Patricia Vidour.

Salito

ESCENARIO



Só deu Argentina! Viva!

En show: los mejores del mundo, siempre.
Si no son dueños del corazón caliente, jamás, que es de nosotros todos, ellos son maestros del show. Reyes del tango.

Deu empate! Entre argentinos, pués si. Todas as posições.

Aguardamos o vídeo oficial.

Unanimidade aqui na palafita apenas as mulheres. Não fossem elas, aqueles bugios não serviriam para nada. Como dizia a Ângela Maria: homem só tem uma serventia. Discordamos da D. Ângela, ela deve saber o que diz, afinal andou com tantos vagabundos. Então tem razão, em parte.

Salito votou firme na paraguaya Seudy Villasanti.

Carlito, chegado meio que aos pedaços de viagem, fechou com a argentina, diz ele, Joahanna Elizabeth, ele estava ainda bêbedo, pelo nome é inglesa.

Deu Solange Acosta, de Argentina. Linda.

Solange tem o espírito portenho. Nessa área de tango portenho, show, há de ter alma da terra. É algo quase que indefinível, até se pode tentar dizer, mas é mais fácil sentir. E para sentir igual você precisa ser portenho. Ela tem isso, com fervor, com amor, ao natural.

Os argentinos Campeões do Mundo no tango-show (Escenario), são dois fantásticos bailarinos, que honram a tradição dos queridos hermanos.

Dançaram até Piazzolla.

Grande criatividade da comissão organizadora, e julgadora... Os dançantes nem dissimularam, sabiam as três há semanas.

Não precisavam.

Vivam Solange Acosta e Max Van der Voorde.

Vivam todos que acorreram a Buenos Aires, a bailar.

Ninguém perdeu.

Salito precisa aprender a perder, já ia dizer que o cara é dinamarquês. Viva, Max, chega de buliyng, você mereceu. Os jornais online, blogs, de Jacarta, de Mumbai, de Santiago, Bruxelas, Londres, Belgrado, Pequim, La Paz, Paris, Luanda, Bagdad, Riga, Berlim, Porto Alegre, de todos os recantos do mundo exaltam na capa o feito da Solange e teu. O mundo está cansado de guerras tolas, de mentiras de malvados. Vamos acabar com isso.

Queremos dançar.

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Postado por Salito

A CRISE DA ARTE




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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

MEU ESPANTO ANTE O ESPANTO DOS JORNAIS

Leio nos jornais que metade das crianças brasileiras que concluíram o 3.º ano (antiga 2.ª série) do ensino fundamental em escolas públicas e privadas não aprendeu os conteúdos esperados para esse nível de ensino. Cerca de 44% dos alunos não têm os conhecimentos necessários em leitura; 46,6%, em escrita; e 57%, em matemática.

Isso significa que, aos 8 anos, elas não entendem para que serve a pontuação ou o humor expresso em um texto; não sabem ler horas e minutos em um relógio digital ou calcular operações envolvendo intervalos de tempo; não identificam um polígono nem reconhecem centímetros como medida de comprimento.

Os resultados descritos são da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização). O exame é uma nova avaliação nacional, organizada pelo Todos Pela Educação, Instituto Paulo Montenegro/Ibope, Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). É a primeira vez que são divulgados dados do nível de alfabetização das crianças ao final do ciclo.

Oh! Estes senhores ainda vão acabar descobrindo a América. Há mais de trinta anos, eu manifestava meu espanto ante uma caixa de supermercado, que precisava de uma máquina de calcular para saber quanto era 20 + 11. Outro dia, aqui em São Paulo, fui a meu fornecedor de vinhos para devolver um abridor de garrafas que não funcionava. Havia custado 133 reais. Troquei-o por um de 101 reais. Que também acabou não funcionando, mas isto é o de menos. O que importa é que a caixa pôs no computador: 133 menos 101 igual - ó milagre! - a 32.

Se alguém acha que crianças não conhecem matemática básica, é porque nada conhece do mundo que nos cerca. Adultos não sabem matemática. Pergunte hoje a um universitário quanto dá 9 x 8. Ou 7 x 6. Dificilmente ele saberá responder. Em meus dias de universidade em Santa Catarina, anos 80, eu costumava levar minhas aluninhas aos bares. Elas ficavam pasmas ao ver como eu sabia calcular o troco.

Coisas das novas pedagogias, teorias dos conjuntos e outros babados. Em meus dias de colégio, na zona rural de Dom Pedrito, havia uma pedagogia muito eficaz. Ou decora a tabuada ou é vara de marmelo. Aprendi até mesmo a extrair a raiz quadrada e a raiz cúbica – que, confesso, até hoje não entendi muito bem para que servem - mas aprendi.

Meu professor de matemática no ginásio era um padre alemão, geninho em cálculos. Pedíamos a raiz quadrada de um número de dez algarismos. Ele fechava os olhos e começava a decompor. Em menos de um minuto, nos dava o número exato. Duvido que nestes nossos dias um professor consiga fazer isso. Suponho, aliás, que aluno algum tenha hoje noção de raiz quadrada. Imaginem da cúbica.

O ensino, tanto o colegial como o universitário, desde há muito vem se deteriorando. Em meus dias de UFSC, tive alunas de Letras, em fase final de curso, que não dominavam sequer o vernáculo. Reprovei-as todas, para espanto do colegiado, já que hoje não é pedagógico reprovar. Certa vez, uma negrinha a quem conferi um solene zero ergueu-se aos prantos:

- Racismo, professor, racismo!
- Vem cá, minha filha.
- Não vou.
- Vem, quero te mostrar uma coisa.

Ela acabou vindo. Mostrei-lhe então que havia contemplado com zero nada menos que treze brancas. Se por acaso coincidisse que ela fosse a única analfabeta da turma, eu estaria ferrado. As arianas me salvaram.

Olhando para trás, para os anos 50 e 60 – e lá já vai meio século – diria que tive uma educação de príncipe. Há alguns anos, remexendo antigos baús de minha mãe, encontrei um mural do ginásio Nossa Senhora do Patrocínio, que redigi de próprio punho. Claro que não escrevia como escrevo hoje, mas não havia um único erro de gramática. Naqueles dias, os professores não perdoavam uma vírgula. Saudades do professor Hugo Brenner de Macedo. Certa vez, descontou dois pontos na prova de um aluno, que havia escrito xeografia em vez de geografia.

Naquele ginásio de Dom Pedrito – cidadezinha perdida lá no fim do mundo, na época com 13 mil habitantes – estudei quatro anos de latim, mais quatro de francês e quatro de inglês. O espanhol, aprendi por osmose lá na Fronteira. Sem jamais tê-lo estudado, traduzi uns quinze livros do espanhol. Com o francês daqueles dias, consegui bolsa em Paris e defendi minha tese. Com o inglês do Patrocínio, fui escolhido como redator da Folha de São Paulo.

Na Universidade Federal de Santa Catarina, encontrei meninas em final de curso que grafavam “eu poço”. Professor algum as reprovava. Eu as reprovei. A crise surgiu quando reprovei a sobrinha de um deputado. Nossa! Veio o departamento todo em cima de mim, mais o grêmio de alunos e inclusive a reitoria. Havia uma conspiração toda para aprovar uma analfabeta, só porque era sobrinha de um deputado. Mais tarde, só bem mais tarde, fui saber que já haviam sido emitidos trezentos convites para sua festa de formatura. Seria a festa do ano em Florianópolis. Não foi.

Naquele dia, eu tinha vôo marcado para Paris e arrisquei perder a viagem na reunião de departamento. Perco dois mil dólares, decidi, mas esta moça eu não aprovo. Meu vôo era às duas da tarde e tive sorte. As professoras, quase todas mães, tinham de pegar seus filhos no colégio ao meio-dia, e a reunião não foi muito longe.

Enfim, divago. O fato é que o ensino, nas últimas décadas, sofreu uma brutal deterioração em todos os níveis. Espanta ler que os jornais se espantem porque crianças não saibam mais as operações básicas.

Hoje, nem adultos as sabem.
Janer Cristaldo

domingo, 28 de agosto de 2011

O DESPERTAR DE UM NOVO MUNDO

O planeta está em convulsão. E como o indivíduo e o mundo são a mesma coisa, vivemos essa convulsão junto com o planeta. Terremotos, erupção de vulcões adormecidos e tsunamis são processos que todos estamos vivendo em nossas vidas pessoais. Este deve ser um momento de profunda reflexão para entendermos que existe algo por trás desses acontecimentos e que deve ser compreendido.

A história do homem passa por vários ciclos que fazem parte de seu processo evolutivo. E hoje vivemos a finalização de um deles. O chamado mostra o caminho que nos leva à espiritualidade, e quando falo em espiritualidade não me refiro a nenhuma espécie de religião ou ritual. O caminho espiritual se dá, antes de tudo, através do primeiro impulso em direção à nossa consciência. Todos devemos reconhecer dentro de nós mesmos, neste momento, essa faísca, esse princípio espiritual.

A humanidade mudou. Todos estamos mudando rapidamente sem estarmos preparados para isso. E com isso, novas doenças sociais e psicológicas são desencadeadas sucessivamente. Crimes hediondos, o surgimento de psicopatas, sociopatas, drogas, excesso de sensualidade, medos, loucura e desespero, tudo isso faz parte desse processo. O mundo não vai acabar. Mas nossos valores mudarão de tal maneira que um novo mundo despontará.

A humanidade está atravessando o limiar entre matéria e espírito, estamos subindo um degrau a mais em nosso processo evolutivo. Esse é o principal motivo do desenrolar de tanta brutalidade e falta de sentido. Vivemos um momento de crise coletiva. O que éramos já não faz mais sentido, crescemos, mudamos, mas ainda não sabemos o que seremos. Estamos no meio, entre o que fomos e o que devemos nos tornar.

Há uma espécie de mecanismo dentro de nós que está parando de funcionar, um padrão de coordenação que está falindo. Nossos pensamentos estão se voltando para o mundo espiritual, assim como nossos sentimentos. A cada dia que passa, conseguiremos entrar em contato mais profundo com nossos sentimentos verdadeiros, os mais autênticos que brotam dentro de nós. Impulsos que vêm de outras vidas, que fazem parte de nosso processo de crescimento. Por isso estamos vivendo situações estranhas, coisas acontecem e não entendemos.

Os conflitos ainda aumentarão, essa é a sensação de “fim do mundo” que todos nós estamos vivendo. Precisamos descobrir o que é isso individualmente pois, a partir de já, nossa missão é descobrir o mundo dentro de nós.

Luz para todos!

By Eunice Ferrari.

SLOW x FAST

Há um grande movimento na Europa hoje, chamado Slow Food. A Slow Food International Association, cujo símbolo é um caracol, tem sua base na Itália (veja os sites: www.slowfood.com ou www.slowfoodbrasil.com).

O que o movimento Slow Food prega é que as pessoas devam comer e beber devagar, saboreando os alimentos, “curtindo” seu preparo, no convívio com a família, com amigos, sem pressa e com qualidade.

A idéia é a de se contrapor ao espírito do Fast Food e o que ele representa como estilo de vida. A surpresa, porém, é que esse movimento do Slow Food está servindo de base para um movimento mais amplo chamado Slow Europe como salientou a revista Business Week em uma edição européia.

A base de tudo está no questionamento da “pressa” e da “loucura” gerada pela globalização, pelo apelo à “quantidade do ter” em contraposição à qualidade de vida ou à “qualidade do ser”. Segundo a Business Week os trabalhadores franceses, embora trabalhem menos horas, (35 por semana) são mais produtivos que seus colegas americanos ou ingleses. E os alemães, que em muitas empresas instituíram uma semana de 28,8 horas de trabalho, viram sua produtividade crescer nada menos que 20%.

Essa chamada “slow atitude” está chamando a atenção até dos americanos, apologistas do “Fast” (rápido) e do “Do it Now” (faça já). Portanto, essa “atitude sem-pressa” não significa fazer menos, nem menor produtividade. Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com mais “qualidade” e “produtividade” com maior perfeição, atenção aos detalhes e com menos “stress”. Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do lazer, das pequenas comunidades, do “local”, presente e concreto em contraposição ao “global” – indefinido e anônimo.

Significa a retomada dos valores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do cotidiano, da simplicidade de viver e conviver e até da religião e da fé. Significa um ambiente de trabalho menos coercitivo, mais alegre, mais “leve” e, portanto, mais produtivo, onde seres humanos, felizes, fazem com prazer o que sabem fazer de melhor.

Nesta semana, gostaria que você pensasse um pouco sobre isso. Será que os velhos ditados “Devagar se vai ao longe”, ou ainda “A pressa é inimiga da perfeição” não merecem novamente nossa atenção nestes tempos de desenfreada loucura? Será que nossas empresas não deveriam também pensar em programas sérios de “qualidade sem-pressa” até para aumentar a produtividade e qualidade de nossos produtos e serviços sem a necessária perda da “qualidade do ser”?

No filme “Perfume de Mulher” há uma cena inesquecível, em que um personagem cego, vivido por Al Pacino, tira uma moça para dançar e ela responde:

- “Não posso! Meu noivo vai chegar em poucos minutos!”

- “Mas em um momento se vive uma vida” – responde ele, conduzindo-a num passo de tango. E esta pequena cena é o momento mais bonito do filme.

Algumas pessoas vivem correndo atrás do tempo, mas parece que só alcançam quando morrem enfartados, ou algo assim. Para outros, o tempo demora a passar, ficam ansiosos com o futuro e se esquecem de viver o presente, que é o único tempo que existe. Tempo todo mundo tem, por igual. Ninguém tem mais nem menos que 24 horas por dia. A diferença é o que cada um faz do seu tempo.

Precisamos saber aproveitar cada momento porque, como disse John Lennon:

“A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro”.

Parabéns por ter lido este texto até o final … muitos não o farão porque não podem “perder” o seu tempo neste mundo globalizado. Pense e reflita até que ponto vale a pena deixar de curtir sua família, de ficar com a pessoa amada, de ir à missa nos domingos de manhã, ir pescar no fim de semana! Espero que não seja tarde demais!!!

Texto atribuído a um brasileiro residente na Europa.

VIDA MODERNA

Um homem de negócios americano, no ancoradouro de uma aldeia da costa mexicana, observava um pequeno barco de pesca que atracava nesse momento trazendo um único pescador. No barco vários grandes atuns.

O americano deu parabéns ao pescador pela qualidade dos peixes e perguntou-lhe quanto tempo levara para pescá-los.

- “Pouco tempo” – respondeu o mexicano.

Em seguida, o americano perguntou por que ele não permanecia no mar mais tempo, o que lhe teria permitido uma pesca mais abundante.

O mexicano respondeu que tinha o bastante para atender as necessidades imediatas de sua família.

O americano voltou à carga:

- “Mas o que é que você faz com o resto de seu tempo?”

O mexicano respondeu:

- “Durmo até tarde, pesco um pouco, brinco com meus filhos, tiro a siesta com minha mulher, Maria, vou todas as noites à aldeia, bebo um pouco de vinho, toco violão com meus amigos. Levo uma vida cheia e ocupada, señor”.

O americano assumiu um ar de pouco caso e disse:

- “Eu sou formado em administração em Harvard e poderia ajudá-lo. Você deveria passar mais tempo pescando e, com o lucro, comprar um barco maior. Com a renda produzida pelo novo barco, poderia comprar vários outros. No fim, teria uma frota de barcos pesqueiros. Em vez de vender pescado a um intermediário, venderia imediatamente a uma indústria processadora e, no fim, poderia ter sua própria indústria. Poderia controlar o produto, o processamento e a distribuição. Precisaria deixar esta pequena aldeia costeira de pescadores e mudar-se para a Cidade do México, em seguida para Los Angeles e, finalmente, para Nova York, de onde dirigiria sua empresa em expansão”.

- “Mas, señor, quanto tempo isso levaria?” – pergunto o pescador.

- “Quinze ou vinte anos” – respondeu o americano.

- “E depois, señor?”

O americano riu e disse que essa seria a melhor parte:

- “Quando chegar a ocasião certa, você poderá abrir o capital de sua empresa ao público e ficar muito rico. Ganharia milhões”.

- “Milhões, señor? E depois?”

- “Depois” – explicou o americano – “você se aposentaria. Mudaria para uma pequena aldeia costeira, onde dormiria até tarde, pescaria um pouco, brincaria com os netos, tiraria a siesta com a esposa, iria à aldeia todas as noites, onde poderia beber vinho e tocar violão com amigos….”

Autoria desconhecida … mas reflete bem o que muitos de nós fazemos uma vida inteira. Bom … aí cada um é que sabe o que quer fazer com alguns milhares de dólares quando morrer: levar dentro do caixão …. ou dentro da cueca! Ou, então, deixar para que os “herdeiros” queimem sem a menor cerimônia!

sábado, 27 de agosto de 2011

IN MEMORIAM RICHMOND


Em algum momento de sua obra, Kafka fala de uma casa ideal, onde todo mundo poderia entrar a qualquer momento e sair quando bem entendesse. Ora, essas casas sempre estiveram a seu lado, em sua Praga natal. São os bares e restaurantes.

Em A Invenção do Restaurante – ensaio que recomendo aos amantes da bona-xira - Rebecca L. Spang estuda o fenômeno em suas origens, ou seja, em Paris. Considero os restaurantes um dos mais esplêndidos achados da história humana. Foi neste livro que descobri que os restaurantes evoluíram das maisons de santé até o que hoje conhecemos por restaurante.

A palavra decorre de uma paráfrase de um versículo de Mateus (11:28) "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei". Lá pelos estertores do século XVIII, um dos primeiros restaurateurs da época pôs na entrada de sua casa esta frase um tanto blasfema: "Accurite ad me omnes qui stomacho laboratis et ego vos restaurabo". Ou seja, corram a mim todos vós cujos estômagos padecem, e eu vos restabelecerei.

O nome deriva de uma sopa, chamada restaurant. Com o tempo, passou a designar as casas que as serviam. Faz bem mais de vinte anos que só viajo para visitar estas casas de Kafka. De museus, bibliotecas, parques, cansei. Cada viagem que faço ultimamente é uma peregrinação de um boteco a outro. Neles não vou apenas beber ou comer, mas ler, estudar e contemplar o mundo. Muitos restaurantes na Europa são salas de leitura e trabalho intelectual. Em Paris, foi em cafés que Sartre, Camus, Simone de Beauvoir e tantos outros construíram suas literaturas. Nesses cafés, elaborei minha tese. Terá sido lá que adquiri um vício, o de ler em bares. Me sinto melhor que lendo em casa.

O primeiro restaurante que conheci em Paris foi o Zero de Conduite. Ficava na rua Monsieur le Prince, ao lado do Parc Luxembourg. Já morreu e ressuscitou em Porto Alegre. Ano passado, fui visitar uma amiga. Ela morava na Fernandes Vieira. Certo dia, ao sairmos de sua casa, me deparei com um restaurante na mesma quadra, o Zero de Conduta. Este cara já morou em Paris, disse a ela.

Em meus dias de Filosofia, tive aulas por quatro anos com Gerd Bornheim, intelectual bastante conhecido no Rio Grande do Sul nos anos 60. Foi cassado pelos militares em 69. Em 71, em minha primeira visita a Paris, hospedei-me no Grand Hotel Saint Michel, na rue Cujas, ao lado da Sorbonne. De Grand o Saint Michel nada tinha, era apenas um une étoile muito freqüentado por brasileiros, e gerido pela folclórica Madame Salvage.

Certo dia, ao voltar de madrugada, quando fui pegar a chave, ergue-se de um catre uma calva ilustre e familiar. Era o Gerd, que trabalhava como porteiro da noite. Convidou-me para uma janta no dia seguinte. Fomos no Zero de Conduite, a duas quadras do hotel. O restaurante fazia homenagem ao filme homônimo de Jean Vigo. Foi lá que conheci esse delicioso queijo grego, o fetá. Ora, um Zero de Conduta em Porto Alegre só podia ser obra de quem vivera em Paris nos anos 70.

Foi lá também que conheci uma brava iugoslava de quem muito gostei. O restaurante tinha uma grande mesa de madeira, para umas vinte pessoas, na qual os clientes iam sentando ao lado uns dos outros. Minha tese era sobre Ernesto Sábato. Certo dia, estou em meio a um pichet de rouge, relendo Sobre Heroes y Tumbas. A minha frente, senta-se uma menina com El Tunel em punho. Ali mesmo começou nossa relação. Era uma adorável poeta peoniana, tão altiva quanto seu conterrâneo, Alexandre, o Grande. Acabei por dedicar-lhe minha tese. Naquele almoço, o deus Acaso estava agendando minhas futuras viagens a Dubrovnik, Skopje e Mljet.

Volto a Porto Alegre. Dois ou três dias depois, entrei no Zero de Conduta para uma cerveja. A bem da verdade, nem havia notado que era o Zero de Conduta. Havia uma pequena biblioteca no restaurante, onde encontrei vários livros em sueco, principalmente de culinária. Fui até o caixa. Quem fala sueco aqui?

- Jag – me respondeu o caixa.

Havia morado cinco anos em Estocolmo. Naqueles dias, eu estava publicando neste blog, em capítulos, minha tradução de Kalocaína. Falei de meu blog e passei-lhe meu cartão.

- Ah, és o Janer. Estive em teu apartamento em Paris.

Resumindo: nessas casas de Kafka tive os melhores encontros de minha vida. Neles li, estudei, conversei, aprendi, ensinei, namorei, vivi dias felizes. Quando chego em Paris, antes mesmo de abrir as malas no hotel, vou voando ao Rélais de l’Odéon. É como se voltasse para casa. Meu sonho de paraíso, já devo ter contado, é uma terrasse em Paris, numa manhã ensolarada de inverno, com uma Leffe e vários livros e jornais em punho. Vida eterna assim certamente não seria monótona.

Adoro restaurantes centenários. Se um restaurante atravessou dois ou três séculos, isto é certificado de qualidade. Em Madri, meu dileto é o Sobrino de Botín, considerado o mais antigo do mundo, fundado em 1725. Em Paris, o Procope, fundado em 1686. Há uma discussão sobre a antiguidade de ambos. O Procope pode ter sido fundado antes, mas teve interrupções em seu funcionamento. Já o Botín teria funcionado ininterruptamente de 1725 para cá.

São casas que me dão uma certa idéia de eternidade. Nós passamos, os restaurantes ficam. Eu morrerei, mas o Botín continuará por mais séculos servindo seus magníficos cochinillos y corderos lechales. Embora tenha futuro, lá me sinto um pouco como em uma estalagem da Idade Média. Mal chego a Madri, vou correndo para seus salões ancestrais.

Mas restaurantes também morrem, e já nem falo de São Paulo, onde uma casa com apenas meio século de idade pode ser considerada antiga. Tive nestes dias uma triste notícia. Fechou em Buenos Aires o Richmond, na calle Florida, fundado em 1917 e freqüentado por escritores como Jorge Luis Borges, Oliverio Girondo e Leopoldo Marechal. Foi comprado pela Nike, que deve instalar uma loja no local que foi um dos cenários boêmios da capital argentina.

Ano passado, passei belas tardes no Richmond, em suas poltronas de couro e mesas de mármore rosa, sob seus lustres solenes, acompanhado de uma também bela amiga. Me encharquei em seus tragos largos. Trago largo é um drinque tipicamente buenairense, que vem acompanhado de frutas y otras cositas más. Depois de dois ou três Setimos Regimientos, yo oía clarines.

Perdi também em Buenos Aires um outro café charmoso, El Reloj. Se bem me lembro ficava numa esquina da Suipacha e foi lá que tomei contato com a literatura de Ernesto Sábato. O que conheço de mundo aprendi em bares, não em minhas universidades.

Alguns de meus cafés diletos, contrariando o sentido da História, estão morrendo antes de mim. Mas em Buenos Aires ainda resta o La Biela, onde degustei alguns Malbecs com Sábato. Suponho que o Procope e o Botín só morrerão quando o sol engolir a Terra.

O que está previsto para daqui a cinco bilhões de anos. Até lá, muito vinho há de rolar pelas gargantas.
Janer Cristaldo

MEU FILHO, VOCÊ NÃO MERECE NADA

A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço.

Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje.
Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor.
Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido.
Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. P
orque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão.
Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado?
Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer - equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia.
É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem.
Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia.
O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

Eliane Brum (Jornalista, escritora e documentarista), Revista Época
Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem.
É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua
(Globo).

A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE: UM FATO CULTURAL

Tarzan representou durante muitos anos o símbolo da masculinidade. O grande mito do sobrevivente independente, decidido, amante da natureza... A reunião de virtudes que modelaram ideológicamente o mundo cultural do masculino. É interessante observar a representação da identidade e a sua construção. Ou seria o contrário? A representação reproduz o arquétipo a partir da identificação dos impulsos e necessidades do mundo masculino contemporâneo?

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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A VAQUINHA

Um mestre da sabedoria passeava por uma floresta com seu fiel discípulo, quando avistou ao longe um sítio de aparência pobre e resolveu fazer uma breve visita.

Durante o percurso, ele falou ao aprendiz sobre a importância das visitas e as oportunidades de aprendizado que temos, com as pessoas que mal conhecemos.

Chegando ao sítio, constatou a pobreza do lugar. Sem calçamento, casa de madeira, os moradores, um casal e três filhos, vestidos com roupas rasgadas e sujas. O mestre então, aproximou-se do senhor, aparentemente o pai daquela família, e perguntou:

- “Neste lugar não há sinais de pontos de comércio e de trabalho. Como o senhor e sua família sobrevivem aqui?”

E o senhor respondeu:

- “Meu amigo, nós temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite todos os dias. Uma parte desse produto nós vendemos ou trocamos na cidade vizinha por outros gêneros de alimentos; a outra parte nós produzimos queijo e coalhada para nosso consumo, e assim vamos sobrevivendo”.

O sábio agradeceu pela informação, contemplou o lugar por uns momentos, despediu-se e foi embora. No meio do caminho ordenou ao seu discípulo:

- “Pegue a vaquinha, leve-a ao precipício ali na frente e empurre-a, jogue-a lá para baixo!”

O jovem arregalou os olhos, espantado, e questionou o mestre sobre o fato da vaquinha ser o único meio de sobrevivência da família. Mas, como percebeu o silêncio absoluto do mestre, foi cumprir a ordem. Empurrou a vaquinha morro abaixo e a viu morrer.

Aquela cena ficou marcada na memória daquele jovem durante alguns anos, até que, um belo dia, ele resolveu largar tudo o que havia aprendido e voltar naquele mesmo lugar e contar tudo para aquela família, pedir perdão e ajudá-los. E assim o fez.

Quando se aproximava do local, avistou um sítio muito bonito, com árvores floridas, todo murado, um carro na garagem e algumas crianças brincando no jardim. Ficou triste e desesperado, imaginando que aquela humilde família tivera que vender o sítio para sobreviver.

Apertou o passo e logo foi recebido por um caseiro muito simpático, e então perguntou sobre a família que ali morava há uns quatro anos. O caseiro respondeu:

- “Continuam morando aqui”.

Espantado, ele entrou na casa e viu que era a mesma família que visitara antes com o mestre. Reconheceu o senhor, dono da vaquinha, elogiou o local e perguntou:

- “Como o senhor melhorou este sítio e está tão bem de vida?”

E o senhor, entusiasmado, respondeu:

- “Nós tínhamos uma vaquinha que nos dava todo o sustento da família, mas um dia ela caiu no precipício e morreu. Daí em diante tivemos que fazer outras coisas e desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos. Assim, alcançamos o sucesso que seus olhos vislumbram agora!

A história termina aqui, mas deixo um ponto de reflexão:

Todos nós temos uma “vaquinha” que nos dá alguma coisa básica para a nossa sobrevivência e uma convivência com a rotina!

Descubra qual é a sua!

Aproveite este restinho de ano pra empurrar a sua vaquinha morro abaixo e construir algo de novo! Sem desafios não há conquistas!!

Pense nisso!

Desconheço a autoria.

AFINIDADE

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. O mais independente.

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.

Afinidade é não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial.

Ter afinidade é muito raro. Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de expressar a um não-afim, sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavra. É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com. Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo. Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado. Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar. Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por. Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo. Mas quem sente com, avalia sem se contaminar. Compreende sem ocupar o lugar do outro. Aceita para poder questionar. Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Só entra em relação rica e saudável com o outro, quem aceita para poder questionar. Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é. E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso. Isso é afinidade!

Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita o outro como ele é. Por isso, aliás, questiona.

Questionamento de afins, eis a (in)fluência. Questionamento de não afins, eis a guerra!

A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele. Independente dele. A quilômetros de distância. Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar. Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar, por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos. Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos, veremos ou falaremos.

Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem para buscar sintomas com pessoas distantes, com amigos a quem não vemos, com amores latentes, com irmãos do não vivido?

A afinidade é singular, discreta e independente, porque não precisa do tempo para existir. Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu o vínculo da afinidade! No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação exatamente do ponto em que parou.

Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas nem pelas pessoas que as tem. Por prescindir do tempo e ser a ele superior, a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente. Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós, para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.

Sensível é a afinidade. É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido. Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau, porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.

Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir restituir o clima afetivo de antes, é alguém com quem a afinidade foi temporária. E afinidade real não é temporária. É supratemporal.

Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta, ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade. A pessoa mudou, transformou-se por outros meios. A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas, plantios de resultado diverso.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças, é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas, quantos das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou, sem lamentar o tempo da separação. Porque tempo e separação nunca existiram. Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar.

E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais, a expressão do outro sob a forma ampliada e refletida do eu individual aprimorado.

By Arthur da Távola.

DA ARTE DE PEDIR

Uma das maiores virtudes de uma fêmea é arte de pedir.

Como elas pedem gostoso.

Como elas são boas nisso.

Resistir, quem há de?

Um simples “posso pegar essa cadeira, moço?” vira um épico. É o jeito de pedir, o ritmo da interrogação, a certeza de um “sim” estampado na covinha do sorriso.

Pede que eu dou.

Pede todas as jóias da Tiffany´s, minha bonequinha de luxo!

Estou pedindo: pede!

Eu imploro, eu lhe peço todos os seus pedidos mais difíceis.

Pede a bolsa de cerejas da Louis Vuiton, pede o shopping inteiro, pede a Daslu.

Pede que compro nem que seja no camelô.

Não me pede nada simples, faz favor.

Já que vai pedir, que peça alto. Você merece.

Como é lindo uma mulher pedindo o impossível, o que não está ao alcance, o que não está dentro das nossas posses.

Podemos não ter onde cair morto, mas damos um jeito, um truque, um cheque sem fundos.

Até aqueles pedidos silenciosos, quando amarra a fitinha do Senhor do Bonfim ou de Nossa Senhora do Carmo no braço, são lindamente barulhentos.

Homem que é homem vira o gênio da lâmpada diante de uma mulher que pede o impossível.

Ah, quero o batom vermelho dos teus pedidos mais obscenos.

Quero o gloss renovado de todas as vezes que me pede para fazer um pedido, assim, quase sussurrando no ouvido: “Amor, posso te pedir uma coisa? Posso mesmo?”

Um castelo na Inglaterra?

Sim, eu dou na hora.

Sim, eu opero o milagre.

Como no pára-choque, o que você pede chorando que não faço sorrindo?!

Pede, benzinho, pede tudo.

Que eu largue a boemia,pare de beber e me regenere???

Pede, minha nega, que o amor tudo pode.

Mesmo as que têm mais poder de posse que todos nós não escapa de um belo pedido.

Com estas, as mais poderosas, tem ainda mais graça. Elas pedem só por esporte, o que não lhes comprometem a pose e muito menos a independência.

Não é questão de poder ou dinheiro.

O charme e o que importa é o pedido em si, o romantismo que há guardado no ato.

Os melhores cremes da Lancôme? Vou a Paris agora. Estou pronto.

Eu lhe peço: me pede.

Não pede mimos baratos, pede atenção, por exemplo, essa mercadoria tão cara ao mundo das moças. Pede, sou o senhor de todas as tuas demandas.

xico sá

O MUNDO É DOS CHATOS

"Será que sou um poeta chato?". Perguntou-me ontem um dos amigos que fazem a minha oficina no b_arco. Porque a poesia que ele faz é cerebral, matemática. "Filosófica", corrigiu ele, etc. e tal. E fiquei eu com a indagação. Levei a questão para casa. A buzinar no meu juízo. Será que serei idem um prosador pentelho? Lá vem ele falar de microcontos. O mala, mais uma vez, falar de negros e despossuídos. Não tem um pensamento brilhante. Uma palavra que valha a cerveja que ele toma. Ave! Aí me veio a cabeça, por exemplo, o recém-lançado livro de poemas Esquimó, do Fabrício Corsaletti. Mó legal! O cara não tem uma poesia-pedestal. Digo assim: a poética de nariz em pé. Querendo ser. Ele é o que é. Discreto e interiorano. E tem coisa mais fora da roda? Quem aguenta esse papo caipira? Dirão. Sempre tem uma hiena de plantão. Se correr o bicho pega. Cola e gruda. Quanta gente vive sugando a nossa paciência, não? O importante é a pulsação. Rarará. Perdão pela amolaçao. Esse pôste, na verdade, é para dizer que o poema Seu Nome, do livro do Corsaletti, é o que eu gostaria de ter escrito. Simples. Poesia que já nasce clássica. Sei, sei. Tem coisa mais chata? Tamanha afirmação? Aproveito o assunto para falar do livro Os Famosos e os Duendes da Morte, de Ismael Caneppele. Em minhas mãos, agora. Saído do forno. Primeiro foi lançado como filme - dirigido por Esmir Filho e grande vencedor do Festival do Rio 2009. E ufa! Finalmente o original conseguiu uma editora, a Iluminuras. Faz tempo conheço o Caneppele - assino eu a orelha da edição. Baita escritor. Na dele, escreve solto. Escreve leve. Sem pose. O segredo é este: seguir na sua. Meio que distraído. Hoje mesmo estou meio esquisito. Meu Cristo! Melhor ir embora. Antes, a saber: respondi ao amigo. "Seja chato. Mas seja o melhor chato do mundo". Rarará.
Cada macaco no seu parágrafo, pois é. Só falta você. Poeta ou prosador. E mais não digO. Aquelabraço e beijos no umbigO. Com amor. Fui. E té. marcelino freire

GELÉIA GERAL


A velhinha falou: "mocotó". Ouvi. Falou: "geleia de mocotó". Quando passei, não sei, pelo Pão de Açúcar. Lembrei, pois, da minha mãe. Eu, tão fraquinho. "Esta geleia de mocotó é só para o Marcelino". Reservava sempre uma quantia. Para o filho doente. Cenoura, maçã. Para ele crescer um homem forte. Amanhã e sempre. "Hoje tudo tão mudado". Diz uma outra velha. A mais sapeca entende de códigos. A barra que é envelhecer. Saudades do marido, quem sabe? A outra nem quer saber. "O traste me deu trabalho até na hora de morrer". O tráfego dos carrinhos. No ziguezague. Quanta coisa boa! Nas prateleiras. Recordo: meu olho passeando nos chocolates. "É caro". No sorvete. "Só quando você fizer aniversário". Uns cem anos. Quase. A impressão é que as velhinhas morrerão ali. Enfileiradas. Sentadinhas, tadinhas, no banco do supermercado. O que esperam? Em silêncio, às vezes. Branquinhas. Quem, hein, menina, as levará para casa? Produto, assim, vencido? Eu tinha de ler para a minha mãe não correr risco. "Veja, filho, o prazo". O preço alto que pagamos. Diariamente. "Menino inteligente". Geleia de mocotó nele. "Para ser gente". A velha falou algo como: "futuro". Antes que tudo apodreça, em promoção. "Aperta para ver se está maduro".
Marcelino Freire

O PODER DOS AFETOS

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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

JUSSARA ODEIA CAMA...

Uma noite gostosa de sono tem grandes chances de desembocar numa manhã risonha, daquelas com sol ameno, com orvalho na grama, ao canto do galo despertador e com cheiro de café no coador.

Tenho cá para mim que esse negócio de dormir até tarde é patologia da modernidade. A cama é lugar para rituais sacros de amor e sono; preguiça é pecado. Então que inventaram a lâmpada só para estragar a noite; e com ela, o dia. Quem dorme mal, acorda mal.

Tenho uma conhecida que é assim; Jussara acorda mal todo dia. Não fosse esta uma realidade, como explicar sua cara engrupida a cada bom dia? Como entender sua expressão azeda, mesmo quando ela não está chupando limão? Só pode ser por falta de... Sono! Poder-se-ia cair no lugar comum e dizer que é por outra falta (aquela, que fica), mas seria simplificar demais.

Não adianta vir com delicadeza ou educação, pois a bicha tá sempre em pé de guerra. “Baixe as armas”, costuma provocar, outro colega nosso, na vã tentativa de suavizar seu ímpeto 'vilânico'. “É nossa Kátia Abreu!!!”, diz ele, deixando explícita a associação àquela senadora que tem, por “virtude”, a macheza xucra.

Outra característica sua é a ‘expansividade’. O termo é ambíguo, bem sei, e pode ter muitos significados; alguns bons, outros, nem tanto...
Jussara tem necessidade de expandir tudo: sua voz, seus pontos de vista, seus doutos conhecimentos jurídicos e, principalmente, seu infinito particular.

Dependurada em redes sociais, tem a mania de comentar todo e qualquer assunto que, porventura, esteja discutindo com sabe-se lá quem. Tem enorme naturalidade em virar-se para o lado e mandar ver: - “Gente, eu não posso com a fulana!... Olha só o que ela está me dizendo aqui!...”. Nem se preocupa em notar que as pessoas à sua volta têm, por hábito, trabalhar durante o horário de trabalho. Ela não.

Fala, fala, fala, fala e fala. Fala mais que a mãe do Gualda. Bufa. Respira alto. Bate a gaveta com força desproporcional. Atende ao telefone ora com empáfia, ora com raiva, fazendo sempre questão de desligá-lo de maneira bruta, como se raiva tivesse. A vida, para ela, só parece existir na demonstração, na superficialidade, na aparência e, principalmente, na carência que ela exorta: “Olhem para mim, por favor!”...

Tem mania de dar bronca nos mais fracos. É natural escutá-la gritando com o filho e com a empregada, por telefone, e também com o rapaz que lava o carro, que vem até aqui entregar as chaves só para ser destratado em frente a todos. Ela se sente muito importante assim, demonstrando toda sua solteirice e seu pulso forte. Sente-se o protótipo da mulher do séc. XXI.

Talvez por isso, só ande de carro novo, pinte os cabelos de loiro-malibu, esmalte as unhas com cor berrante e só saia de casa com, no mínimo, 790 gramas em penduricalhos doirados. Jussara ama o dourado. É a prova de que ela venceu na vida. Quando visita a terra natal, banha-se em ouro para mostrar que venceu. Só não vê quem não quer.

Tornar-se seu amigo é muito fácil; basta acatar suas idéias, sugestões, ponderações e achismos filosóficos. Em prol da boa convivência, foi este o caminho que andei percorrendo durante muito tempo. Apenas que me era muito caro o enorme desperdício de tempo que daí resultava. Tive de aprender a conversar sem tirar os olhos da tela, porque se olhar para a cara dela... Vixe, é difícil de sair.

Ela te olha, te engole, te fala, te espreme contra o muro; faz de tudo para que você seja seu cúmplice – e todos sabem: a cumplicidade só se dá pelo olhar.

Para ela, o trabalho só existe quando ela está trabalhando. É daquelas que franzem a testa se alguém tosse quando ela está lendo alguma coisa ‘importante’. Coitada da moça da copa, que vem solicitamente perguntar se ela quer café. Jussara adora café, mas quando está trabalhando, incomoda-se assustadoramente com a pergunta. Nesses momentos, ela se dá ao trabalho de espalmar a mão, estendê-la no ar e dizer “Peraí...” - deixando a ‘criada’ ali, parada, esperando por uma simples confirmação. Quando vem o café, reclama que está frio ou velho: - “Quando eu trabalhava no Supremo, com o ministro tal, tomava café na sala dele!”... -, diz, esperando por um “ohhhh” de inveja que só existe na cabeça dela.

Para meu desespero, notei que ela se sentia muito mais à vontade comigo quando estávamos a sós. Era como se ela esperasse pela minha chegada para poder colocar em dia suas fofocas e indignações cotidianas: - “Olha isso aqui! O banco quer me cobrar juros de uma dívida de 5 anos atrás; que absurdo! Lembro bem que paguei tudinho! Olha aqui, tenho até o comprovante... Olha!”.

Por vezes, tentei demonstrar que seus problemas pessoais não me despertavam assim, ‘taaaanto interesse’, mas ela não entendia minha psicologia. Pensei em ser bem direto, mas assim, correria o risco de criar um clima hostil que não me agradaria. Quando eu já pensava seriamente na possibilidade de me mudar para outra dimensão, algo novo surgiu no horizonte...

Cheguei ao trabalho com a cara-de-feliz que me é peculiar. Não havia tido noite de sexo, nem acordara com os passarinhos gorjeando minhas palmeiras, mas tinha dormido bem a noite inteira.

Jussara estava lá, à minha espera. Entrei, simpático: “Hello, crazy people!”. Ela, como de costume, mal consentiu.

Liguei o computador e fiz gracinha para a senhora da copa, que me trazia a jarra d’água. (Ela me acha lindo, a copeira.)

De repente, desperta o monstro! – “Gente, olha só o que o Tostão está fazendo! Que canalhice!!!”, disse ela, iniciando uma difamadora conversa a respeito do ex-craque da Seleção Brasileira e do Cruzeiro.

O tom da voz estava alto demais para aquele horário. Além do quê, o que ela dizia não fazia jus à realidade dos fatos. E disso eu sabia, visto que acompanho tudo o que o mineirinho tem escrito, além de haver lido, recentemente, sua autobiografia. Em bom Juridiquês, desmontei toda a fofoca que ela destilava. A moça não gostou e perguntou se eu estava com algum problema, voltando-se para mim com desequilibrada agressividade. Respondi que ela estava falando sobre o que desconhecia, e isso não cabia bem a tão sapiente criatura. Então ela reclamou do meu tom de voz, no que eu perguntei se ela não dispunha de um espelho com reflexos audiofônicos em sua residência para escutar o ridículo de sua afirmação. Jussara então se calou. E assim passou o resto da manhã, e também do dia, e da semana. Está de mal. A guerra dela é minha Paz!

Espero não haver tempo para tréguas em nosso horizonte.

Maltrapa

MIMETISMO CORRUPTO


Pois,
Nosso povo é como camaleão, mas o camaleão tem apenas o mimetismo da cor, nossos compatriotas da índole.

O mimetismo da índole, elege corruptos, e dignifica o "rouba mas faz".
Maluf, Collor, sarney, são exemplos bizarros de reeleitos.

Há os babacas que sustentam programas de televisão tipos "reality shows" como BBB, A FAZENDA, com simplórios SMSs, ou telefonemas, de custo irrisório, 0,90 centavos, onde as geradoras do programas faturam entre 3 e 10 milhões de reais por semana, já retirados os impostos e os custos das operadoras. No decurso de 12 a 14 semanas são 100 milhões de reais.

A cada 4 meses poderíamos premiar 100 mil pobres brasileiros com 1000 reais, ou distribuir 50 mil cestas básicas por semana.

O povo disfarça sua índole corrupta, votando e debatendo esse tipo de roubo oficializado.

Nosso pobre gasta 80 reais de impostos numa cesta básica, e paga um imposto renda, nas loterias oficiais e clandestinas em busca da sorte,num país em que o jogo é proibido.

Enquanto em Hollywood, filmes e seriados são feitos com patrocínio privado, incluindo-se aqui grandes peças da Broadway, nosso povo esquece que impostos que deveriam financiar saúde e educação são desviados para, filmes de péssima qualidade e shows teatrais ou musicais, tudo patrocinado com dinheiro público. O governo paga o show e os marajás empresários ficam com o lucro.

Os petistas , pulhas culturais chama a mídia de PIG, e não é que eles tem razões incontestáveis.

O patrocínio de jornais e novelas em horário nobre é da CEF, do Banco do Brasil, da Petrobrás, dos Correios, chega-se ao cúmulo de horários de propaganda de partidos políticos, claro que evidentemente gratuitos, e pagos com recursos do erário publico.

O PIG não é GOLPISTA é GOVERNISTA, politiqueiro, sórdido e corrupto.

O reality show da vida é quem vai ser atendido na fila do SUS, e quem vai ser mandado de volta ao pó da terra.

Quem será o próximo a morrer na saidinha de banco, nos campus universitários, ou atropelados por cafajestes nas calçadas da vida.

Os nossos políticos também fazem outro tipo de reality show, apartado do povo, que transformam seus votos em SMSs corruptos.

Adoram pilantras, amam artistas que são ralés humanas no mundo das drogas, idolatram analfabetos funcionais tiriricamente os elegem.

Novamente relembro fatos do mês de agosto que marcaram nossa história.
Getúlio suicidou envergonhado pela corrupção.
Jânio renunciou ou morria.

Bebidas, telefones e cigarros arrecadam 300 milhões de reais em impostos por dia, alguém já imaginou para onde vai tanto dinheiro?

bom dia
VSROCCHA

O POLITICAMENTE CORRETO E OS IDIOTAS


Utilizar a linguagem como arma psicológica de dominação não é uma idéia nova. Goebbels substituiu algumas palavras e eliminou outras que incomodavam o projeto nazista. Antes, na União Soviética, quando Hitler ainda sonhava ser artista, Lênin transformou o significado de algumas palavras e proibiu outras tantas. Gramsci – que aprendeu com Marx - também ensinou a destruir a linguagem como forma de implantação de “uma nova ordem” social e cultural. E Maquiavel ensinou que o Príncipe deve, mais do que utilizar as palavras de maneira conveniente, convencer seu povo a usá-las conforme a sua conveniência.
O que estes crápulas sabiam é que quando a linguagem declina, a capacidade de compreensão da realidade diminui na mesma intensidade. Quem não compreende os fatos não pode avaliar, não pode comparar, não pode reagir. Mas pode – e será! – manipulado.
Essa onda do politicamente correto não é espontânea, não é “moderna” e não é bacana. É uma idéia satânica criada nos anos 70 e aperfeiçoada nas décadas seguintes por influentes acadêmicos de universidades americanas ligadas aos grupos globalistas. Seu objetivo é destruir a capacidade cognitiva impondo regras morais contrárias às regras que regem a linguagem e a comunicação das pessoas. Esta técnica psicológica já estava nos estudos de Pavlov e foi aperfeiçoada em diversos experimentos controlados por programas governamentais como o MK Ultra ou por organismos privados como o Tavistock Institute desde os anos 40 e pelo menos até a década de 1960. Os russos e chineses também estudaram bastante esse assunto e suas ditaduras usaram muitas destas técnicas.
Comprovada sua velhice e a má-fé que a originou, passemos então à sua estupidez. Como funciona a destruição da linguagem pelo “politicamente correto”? Em que consiste, de fato, esse troço?
Consiste, na esmagadora maioria das vezes, em substituir uma palavra por uma expressão “não-significante”, vazia, ou por uma palavra que possui outro significado. Afro-descendente não é negro. A Charlize Theron é afro-descendente e é mais loira que a Xuxa. Só aí já dá para perceber como é falha essa substituição.
O politicamente correto toma a figura de linguagem como fato. O eufemismo como descrição objetiva. Seus defensores acreditam na idéia de que excluir uma palavra pode eliminar um problema, uma estupidez tão absurda que só uma burrice coletiva sem precedentes pode explicar.
Esse patrulhamento na linguagem se enraizou na nossa cultura, na imprensa e até na literatura. Gerou uma nova forma de censura, muito pior, subliminar, rasteira, que só fortalece a hipocrisia, a falsidade, o puxa-saquismo.
Seguir essa onda idiota, que se replica como vírus, demonstra insegurança, necessidade de aprovação e incapacidade intelectual. Além de confundir o intelecto e limitar a imaginação e o raciocínio, o maldito "politicamente correto" ainda traz um problema maior, de ordem moral: obriga a mentir!
Você está vendo um gordo; sabe que é um gordo; gordo, no dicionário, quer dizer exatamente aquilo que você está vendo, mas para não desagradar os patrulheiros da estupidez, você mente: “horizontalmente avantajado”.
Um exemplo mais sério: quando as palavras que indicam objetos “não-sensíveis” são esquecidas ou substituídas, os conceitos que elas representam vão para o poço do esquecimento já na próxima geração. Conceitos como saudade, misericórdia, compaixão podem desaparecer da vida cotidiana das pessoas por séculos, para depois serem restauradas após uma convulsão causada pela repressão de instintos naturais. E isto é apenas um dos males dessa doença que infesta toda sociedade ocidental.
Eu vejo a burrice contemporânea, que já é histórica, como conseqüência da destruição da linguagem, um resultado que prova a eficácia de um plano diabólico.

NELSON RODRIGUES: GÊNIO OU LOUCO?

Oto Lara Resende entrevista Nelson Rodrigues

"Durante muitos anos, Nelson Rodrigues carregou a fama de 'tarado'. Em seus anos finais, a de 'reacionário'. Ninguém foi mais perseguido: a direita, a esquerda, a censura, os críticos, os católicos (de todas as tinturas) e, muitas vezes, as platéias - todos, em alguma época, viram nele o anjo do mal, um câncer a ser extirpado da sociedade brasileira. E, olhe, quase conseguiram.
Mas ao mesmo tempo que queriam "caçá-lo como uma ratazana prenhe", havia também muitos para quem parecia impossível admirar Nelson Rodrigues o suficiente. Mesmo os seus piores inimigos nunca lhe negaram o talento - e não foram poucos os que o chamaram de gênio. Há quem arrisque até explicações espíritas para certos lampejos de Nelson.
Para alguns, era um santo; para outros, um canalha; para todos, sempre, uma surpresa ambulante. Mas, como se verá, ninguém o conheceu direito." (Ruy Castro, in O Anjo Pornográfico).

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O VERBO FOR

Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas.
Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário — evidentemente o condizente com a nossa condição provecta —, tudo sairia fora de controle, mais do que já está.
O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).

O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora.

Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com citações decoradas, preferivelmente. Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, dos quais até hoje sei o comecinho.

Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje.

A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.

— Traduza aí quousque tandem, Catilina, patientia nostra — dizia ele ao entanguido vestibulando.

— "Catilina, quanta paciência tens?" — retrucava o infeliz.

Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a platéia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.

— Ai, minha barriga! — exclamava ele. — Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária. Senhor meu Pai!

Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou a enfiar, sem sentir, as unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas dores de barriga seguidas, na sua prova oral. Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.

O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo "dar um show". Eu dei show de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:

— Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!

— As margens plácidas — respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.

— Por que não é indeterminado, "ouviram, etc."?

— Porque o "as" de "as margens plácidas" não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. "Nem teme quem te adora a própria morte": sujeito: "quem te adora." Se pusermos na ordem direta...

— Chega! — berrou ele. — Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!

Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo.

Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mim. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas.
A prova oral era bestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante.
Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra "for" tanto podia ser do verbo "ser" quanto do verbo "ir". Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.

— Esse "for" aí, que verbo é esse?

Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.

— Verbo for.

— Verbo o quê?

— Verbo for.

— Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.

— Eu fonho, tu fões, ele fõe - recitou ele, impávido. — Nós fomos, vós fondes, eles fõem.

Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas.

Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
João Ubaldo Ribeiro

Esta crônica foi publicada no jornal "O Globo" (e em outros jornais) na edição de domingo, 13 de setembro de 1998 e integra o livro "O Conselheiro Come", Ed Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2000, pág. 20.