quinta-feira, 16 de julho de 2015

RIA, NÃO SORRIA...



O humor é uma espécie de bóia no mar revolto das nossas aflições cotidianas. É assim que conseguimos escapar do desespero: quando descobrimos que rir das pequenas "tragédias" do nosso dia a dia, é mais ou menos como sair pela porta dos fundos, quando a coisa fica preta e corremos o risco de levar porrada.
Poucos entendem a força do humor, pela multidão que vejo contorcendo-se aflita diante das nossas pequenas misérias. Não sabem rir. Pior: os que o fazem sem cautela, tornam-se odiados, porque se recusam a participar dos sofrimentos comuns que edificam a vida. 
Alguns, os loucos temerários que se divertem e fazem 'piada' com o cotidiano, socorrem, sem que saibam, os padecentes da vida.
É vezo antigo e faz parte da sabedoria popular (e vamos respeitá-la, pois resumem séculos de experiências amargas, e outras doces...) que a paciência ("o tempo cura todos os males") e o riso ("rir é o melhor remédio", ou o moderno "sorria, você está sendo filmado") são os artífices da felicidade (eita palavrinha corroída!).
O riso, ou o sorriso - e há uma diferença enorme entre eles, visto que rir é quase uma rebelião. Rimos alto, às 'bandeiras despregadas', parente próximo da gargalhada, do rabelesianismo, do descabelamento... Sorrir já é um modo esguelho, uma obliquidade,  disfarce de superioridade,  fingimento educado, quase uma ficção... Sorrir é pura ironia.
O humor nos faz rir, nos descola do real, pois patina na possilidade de acontecer, torce e distorce a realidade a seu bel prazer. Não sorrimos na dimensão do humor. Não cabe o sorriso no escracho. O sorriso é elitista, enfadonho, meio que paira na superfície da hipocrisia. Ninguém sorri num boteco. Também não rimos nos salões bem postos. 
O riso não casa bem com o champanhe. Seu namoro é com a pinga, com a cerveja, com o torresmo. O sorriso é sofisticado (falso).
Vou citar exemplos de humor, quase defensivo, quase irõnico, mas com tendência ao deboche, porque o deboche é a grande força do humor.
Quando Ronnie Barker diz: "Se eu fosse rico como Rockefeller, seria mais rico do que Rockefeller, por que faria um bico limpando janelas".
Ele está debochando de alguma coisa, de alguma "virtude" (já que ser rico nos confere a maior de todas as 'virtudes', no nosso mundo tão precário), de algum sentimento. Ou estaria apenas criticando a avareza, a riqueza, debochando da efemeridade, da precariedade das nossas ânsias de poder, tão rapidamente passageiras? Ou seria apenas o humor fincado na autocomiseração? 
Como é complexo destrinçar o humor! Suas faces derrapam em múltiplas esquinas.
Mas o que importa é que nos provoca o riso, e nos leva após, a divagar sobre um mundaréu de sentimentos... Esse é o humor que brinca com a vida, que nos salva do estreito cotidiano, que nos diz algo que realmente merece o riso.
Cito mais uma tirada, de Drew Carey,  muito próxima das nossas insastifações (estamos quase sempre, ou sempre, insatisfeitos, e não pensem os mais ingênuos e ambiciosos que a fortuna, o dinheiro, aliviaria a nossa condição torturada pela eternidade):
"Oh, você detesta o seu emprego? Por que não disse antes? Há um grupo de apoio para isso. Chama-se "todo mundo" e reúne-se no bar..."
Uma sacada e tanto de humor! 
Mais uma para encerrar essa arengação. Agora do Dennis Miller:
"Uma boa regra geral é que, se você chegou aos 35 anos e continua usando crachá com o seu nome, cometeu um sério erro vocacional".

16 de julho de 2015
m.americo

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