quinta-feira, 1 de outubro de 2015

NOVIDADES QUE INCOMODAM


radio 1A sociedade evolui, é fato. Novidades surgem todos os dias. Certas invenções têm vida longa – o rádio é uma delas. Começou a ser explorado comercialmente faz um século e está aí até hoje. O estilo das emissões se modificou e se adaptou ao gosto de cada época, mas, no fundo, o princípio é sempre o mesmo.
Cinquenta anos atrás, quando a televisão começou a se popularizar, muitos acreditaram no fim do rádio. Não foi o que aconteceu. Os dois passaram a compartilhar horário: rádio de dia, no carro, no banheiro, no café da manhã; e tevê à noite, na hora da poltrona.
KodakOutras novidades foram agressivas a ponto de destronar ramos inteiros da indústria ou até costumes arraigados. A foto digital está entre elas. Quem tem mais de 35, 40 anos há de se lembrar do tempo em que a gente comprava o filme (caro!), tirava os retratos, enrolava a bobina, levava até a loja de revelação, encomendava as cópias e, se tudo desse certo, três dias depois podia ir buscar as fotos. O processo se manteve firme e forte durante um século – de 1890 a 1990.
De repente… difundiu-se a foto digital. Kodak, o conglomerado que dominava o setor, desmilinguiu, capotou e foi à falência. Toda a cadeia de processamento tradicional de fotografia, perturbada, acabou desaparecendo. Que fazer? É a vida. Ninguém segura o progresso.
Internet ainda está engatinhando. Assim mesmo, novidades têm aparecido a cada dia, benéficas para uns, catastróficas para outros. Os aplicativos de comparação de preços de hotel e de passagens aéreas estão acabando com as agências de viagem. Operações bancárias se fazem mais e mais via internet, resultando em fechamento de agências físicas. Correspondência comercial e privada, antes encaminhada pelos Correios, deslocou-se para a internet, causando rebuliço na estatal.
UberEstes últimos tempos, tem-se falado muito na aplicação Uber, que põe em contacto motoristas não profissionais com eventuais clientes. À vista da ameaça frontal, a corporação dos taxistas entrou em pânico. Cada país – para não dizer cada cidade – vem reagindo às carreiras, na base do susto e do improviso.
Na França, por exemplo, a aplicação foi proibida. Está simplesmente fora da lei, decisão já homologada pelo Conseil Constitutionnel, equiparável a nosso STF. Sabe o distinto leitor quanto custa uma licença para operar táxi no município de Paris? Sai por ‘módicos’ 200 mil euros – algo próximo de 900 mil reais! Um patrimônio. Compreende-se que os profissionais tenham se rebelado contra a concorrência desbalanceada. O sujeito paga essa fortuna para poder praticar a profissão; de repente, aparece um gaiato para surrupiar-lhe a clientela? Foi um deus nos acuda. A Justiça, impelida a dar a palavra final, proibiu os não profissionais.
E agora, como é que fica? Bola de cristal, não tenho. Assim mesmo, é previsível que, dentro em breve, essa novidade venha a ser digerida como já foram tantas outras.
Taxi 2Os mil dólares que eu tinha investido, nos anos 80, para comprar uma linha telefônica fixa viraram pó nos anos 90, quando a telefonia se expandiu e telefone deixou de ter valor comercial. Trinta anos atrás, mil dólares eram uma fortuna. A quem, como eu, perdeu dinheiro, sobrou a solução de ir reclamar com o bispo. Acho que ninguém foi.
Assim será com o Uber e com outras novidades que estorvam alguma categoria. As novidades vão acabar entrando no dia a dia de todos nós, não há como escapar. Um sábio ditado nordestino ensina que «é no tranco da carroça que as abóboras se ajeitam». E a carroça segue.
01 de outubro de 2015
José Horta Manzano

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