segunda-feira, 8 de agosto de 2016

ARY BARROSO, FRANCISCO ALVES E TOM JOBIM CONTINUAM VIVOS NA ETERNIDADE



Tom homenageado na abertura da Olimpíada, sem Vinicius
A arte, de fato é algo eterno, criativo e parte de uma sensibilidade que poucos possuem para projetar suas obras, que através dos tempos permanecem admiradas e revividas. Foi o que aconteceu no esplendor do Maracanã no espetáculo de abertura da Olimpíada Rio-2016.
Francisco Alves morreu em 1952, Ary Barroso em 1964 e Tom Jobim em 1994. Portanto são décadas que separam sua existência na Terra  e as repetições que suas obras motivam e emocionam. Ao som de Aquarela do Brasil, na voz de Francisco Alves, o samba exaltação que Ari Barroso compôs em 1940 poderia ter sido composto hoje, tal sua atualidade emocionante e de musicalidade fantástica.
Foi importante a escolha dos organizadores da noite esplêndida em recorrer à voz do passado de Francisco Alves para interpretá-la sem o intervalo das décadas que marcaram sua criação. Foi igualmente fundamental a reapresentação da Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes para passar o sentimento de uma atmosfera carioca do passado recente e que levou a uma gravação de Frank Sinatra.
A ARTE É ETERNA – A arte, na realidade não tem tempo marcado, mas pertence a todos os tempos enquanto existir o sentimento humano e a forma de apreciá-la. É o caso de Ari Barroso, Francisco Alves e Tom Jobim, além de muitos outros que assinalaram sua passagem focalizando a poesia na vida indispensável ao sentimento humano.
Todos eles, portanto, não se podendo deixar de incluir Noel Rosa, Cartola, Orlando Silva, Silvio Caldas e tantos outros assinalaram momentos de rara beleza e os deixaram à disposição de todos nós, que amamos a arte e nos emocionamos com suas interpretações.
Falei na Aquarela do Brasil como samba exaltação, esta era a opinião dos críticos da obra musical brasileira inesquecível e inultrapassável. Mas, acredito que, além de um samba exaltação, trata-se de uma verdadeira sinfonia.
Por que, mesmo sem conhecer música, digo isso? Porque há mais de 50 anos jantando com meu amigo José Lino Grunewald no antigo Parque Recreio, então na Praça José de Alencar, estávamos numa mesa próxima àquela em que se encontravam Ary Barroso, Dorival Caymmi, Haroldo Barbosa, Chico Anísio e a atriz Nanci Wanderley, e ouvimos Ary Barroso dizer a Dorival Caymmi: “A Dora que você compôs não devia ser uma peça só. É uma beleza, você deveria aproveitá-la para transformar em uma sinfonia”.
Se Dora, Rainha do Frevo e do Maracatu, deveria ser uma peça sinfônica quanto mais a própria Aquarela do Brasil. Daí porque achei perfeito o aproveitamento da voz de Francisco Alves que proporcionou ao mesmo tempo o tom sinfônico da obra, sem prejudicar a grande batucada contida na inspiração monumental do compositor.
EM HOLLYWOOD – O sucesso da Aquarela do Brasil chegou a tal ponto que na década de 40, e lá se vão 76 anos, levou Ary Barroso a Hollywood. Foi uma consagração intencional e inesquecível, como inesquecíveis também são as interpretações de Chico Alves e Tom Jobim. Pois a arte não pertence a um só período da história, mas a todos os espaços de tempo do presente e do futuro.
Acertou a atriz Sarah Bernard quando, no início do século XX, no surgimento do cinema ao filmar a Dama das Camélias, que já a consagrara no teatro afirmou que “agora sim, ingresso na imortalidade”. Com base na bela frase do passado, afirmo agora que Ary, Francisco Alves e Tom Jobim ingressaram nessa mesma eternidade e continuam vivos nas canções que deixaram no passado para todos nós no presente e no futuro.
Para nós e para aqueles, como definiu Bertold Brecht, que vierem depois de nós.

08 de agosto de 2016
Pedro do Coutto

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