domingo, 23 de julho de 2017

QUAL É O PLURAL CORRETO DE GOL? GOIS, GOLOS, GOLES OU GOLS?


Ilustração sem autoria (arquivo Google)
Veja no magnífico Dicionário Houaiss o vocábulo gol, que  entrou para a nossa língua portuguesa em 1904. Mestre Antonio Houaiss esclarece quanto ao plural: “Gols é um barbarismo consagrado pelo uso”. Já outro mestre, Aurélio Buarque de Holanda, em seu também excelente Dicionário, ensina que “barbarismo é erro de pronúncia, grafia, forma gramatical ou significação”. Interessante que todo mundo lê, fala, escreve, comenta os “gols da partida” e ninguém fica escandalizado.
Ainda sobre o plural de gol, o Dicionário Aurélio afirma as duas formas certas: “Gois e golos. É incoerente o plural gols, para uma palavra aportuguesada. Contudo, parece-nos difícil que se venha a fugir desse barbarismo, tão arraigado está”.
E OS GOLES? – Para colocar mais lenha nessa fogueira do barbarismo, os professores gaúchos Édison de Oliveira e Maria Elyse Bernd, em “Escreva Certo”, L&PM Pocket, 2002, explicam:
O vocábulo inglês goal, há muito tempo, foi aportuguesado para gol (ou golo). Mas… e o plural? Goles, gois, golos ou gols?
Todas essas formas, exceto a última, são coerentes com os processos de formação do plural, segundo nossa gramática. Goles ajusta-se à norma pela qual substantivos terminado em L podem formar o plural com o acréscimo de es. Exemplos: Cônsul, cônsules; mal, males; gol, goles.
Gois enquadra-se no princípio de acordo com o qual os substantivos terminados em L também podem formar o plural em ois. Exemplos: farol, faróis; álcool, álcoois; gol, gois.
Golos, supondo-se para o singular na forma golo, é também perfeitamente aceitável. Exemplos: rolo, rolos; bolo, bolos; golo, golos.
 A única forma incoerente em relação à nossa tradição gramatical é, infelizmente, aquela que o uso consagrou: gols. Em Português é tão absurdo dizer gols como dizer farols e álcools. Entretanto, esse fato está tão arraigado em nossa língua, que será muito difícil superá-lo. (páginas 83 e 84)”.
Como dizia o grande poeta Manuel Bandeira (1886-1968): “a língua certa do povo, a língua errada do povo”. E, pensando nisso, escrevi os versos abaixo:
CARTA AOS GRAMÁTICOS
Queridos gramáticos:
Como os senhores bem sabem
Não há jeito que dê jeito
Da gente falar direito.
É tanta regrinha
Impossível gravar
Ninguém mesmo usa
Na hora de falar.
Os senhores também sabem
Que o falar muito varia
De pessoa, de lugar
Da noite para o dia.
Por que essa fixidez?
Normas tão duras !
Não é uma beleza
O falar das ruas?
Seja lá o que for
Fenômeno ou evolução
É falar e ouvir
Criar a oração
Então, essa tal de
Louçania da linguagem
No fundo, no fundo
Me cheira a bobagem
Pois como disse
Manuel Bandeira:
“A língua errada do povo,
A língua certa do povo”.
Não me levem a mal, mas
Não sejamos radicaes
Nem tantas, nem tão poucas
Convenções gramaticaes
Gramática e cachaça
É tudo uma coisa só
Queridos senhores
De nós, tenham dó.
Não adianta fardão
Sem ser, erudito,
É o povo quem decide.
É só, tenho dito.
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P.S
. – Segundo o “Dicionário Aurélio Século XXI”, gramática e cachaça são sinônimos. Você sabia? (A.R.)

23 de julho de 2017
Antonio Rocha

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