terça-feira, 12 de dezembro de 2017

BIOGRAFIA MOSTRA QUE SINATRA FOI UM GRANDE LUTADOR CONTRA O RACISMO NOS EUA

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Não é uma biografia qualquer. Trata-se da história, e que história, daquele que é considerado o maior personagem do Século XX. E a obra pode estar no pódio das grandes biografias contemporâneas. Soberbo é o trabalho do jornalista americano James Kaplan nos dois alentados volumes sobre a vida do mito Frank Sinatra. Lançados no Brasil em 2013 pela Editora Companhia das Letras (www.companhiadasletras.com.br) o primeiro volume, intitulado “A Voz”, tem 747 páginas. Vai do seu nascimento em 1915 no subúrbio nova-iorquino de Hoboquem, New Jersey, até o ano de 1953 quando ele ganha o Oscar por seu desempenho no filme “A Um Passo da Eternidade”, interpretando o soldado Ângelo Maggio. O segundo volume (“Sinatra- O Chefâo”), mais denso e volumoso, aborda a última parte da existência do mito e vai até o ano de sua morte, em 1998.
São dois alentados volumes, para não dizer calhamaços. A precisão dos fatos, o teor da narrativa, o volume e a minuciosidade das pesquisas se agregam a um texto esplêndido, difícil de encontrar. Nada se compara em termos de qualidade e precisão em biografias do show business.  Essa obra coloca o jornalista James Kaplan no mesmo nível do pesquisador e historiador britânico Simon Sebag Montefiore, o maior historiador das últimas décadas.
LEMBRANDO SINATRA – Kaplan revela que Sinatra foi o ser humano mais historiado dos tempos modernos. A decisão de escrever a obra ele tomou em 2004 num jantar, em Santa Mônica, na Califórnia, quando estava à mesa num grupo que todos haviam conhecido Sinatra. Todos contavam histórias sobre Sinatra, que de repente lhe pareceu vivo. Na recordação dos convivas daquela noite “havia uma visão de Sinatra como homem e artista, sem as armadilhas e os ouropéis da celebridade”. Sinatra não estava mais vivo fazia seis anos.
A audácia e pertinência de Kaplan resultaram numa biografia inesquecível, tal qual a vida do biografado. Em suas próprias palavras: “Ali estava um gênio e um grande artista, um homem que havia mudado – moldado – o Século XX e eu lhe devia o que ele merecia”.
Não só você Kaplan. Todo o Século XX. E ao mergulhar nas páginas desse primeiro volume, o leitor descobrirá que Sinatra sempre soube o que lhe convinha, artisticamente.
JOVEM SUBVERSIVO – Na primeira parte da sua vida, foi um elemento subversivo que sempre tentou minar os Estados Unidos. Seu passado de delinquente sexual, conexão com a Máfia, fuga do Serviço Militar, seu cabelo oleoso e o sobrenome italiano foram o combustível para asfaltar a estrada. No começo, a América lhe tinha preconceito e desprezo. Apesar disso, a audácia, a intuição e o talento fizeram a grande diferença. A descrição do autor sobre o fascínio do cantor por gângsteres, simplificavam suas complexidades e seus problemas físicos. Mas descobre-se um personagem também tolerante ao longo dos seus 83 anos de vida.
Apesar da primeira parte de sua vida ter sido extremamente trágica, desde o nascimento em Hoboquem, subúrbio de New Jersey, onde a mãe era aborteira, passando por duas tentativas de suicídio, um casamento frustrado e uma desesperada paixão pela atriz Ava Gardner, o primeiro volume também é divertido. E insinuante. Onde quer que fosse, sempre foi um revoltado pela forma como os negros eram desprezados e excluídos pela sociedade americana. Dedicou-se desesperadamente à leitura para entender e expressar esse pensamento. Até que lhe aparece na vida um jornalista, George Evans, lá pelos anos 40 do Século passado. Muda-lhe os hábitos e a vida. Evans se foi cedo levado por um ataque cardíaco. Mas cunhou a melhor definição sobre o mito:
Frank nasceu para ser astro. Mas também nasceu para ser uma figura controversa, e astro e figura controversa ele vai permanecer até o dia em que morrer”. Para complementar o autor agrega a esta frase uma magistral definição: “…toda a vida de Frank parecia basear-se na acumulação e liberação de tensão. Quando a liberação vinha na forma de canto, era lindo; quando tomava a forma de fúria, era terrível. Trabalhar duro e cantar sem parar, noite a dentro, nunca fez mal a ele. Sua ambição era titânica. Sua disciplina incomparável”.
INÍCIO DA CARREIRA – Pois imagine alguém que entrava num palco às 10 horas da manhã e a cada duas horas repetia o show até as duas horas da madrugada. Assim foi seu começo e assim seria toda a sua vida. Imagine o Sinatra andando de ônibus e trem, como crooner de orquestras. O Sinatra que não aceitava a solidão e vivia cercado de amigos. O Sinatra generoso. O filho do Jornalista George Evans ficou na sua folha de pagamento até sua morte. O Sinatra que tinha sempre um número em seus programas e shows com gente de cor. E os remunerava bem. O Sinatra atormentado pela paixão num casamento rumoroso com a atriz Ava Gardner. Todas as suas facetas desfilam pelas páginas mais como uma epopeia humana que simplesmente a vida de um artista.
A leitura nos leva a uma conclusão: Frank Sinatra personificou como ninguém as mudanças sociais e raciais dos Estados Unidos no Século XX. Essa atmosfera permeia toda a sua vida e está bem retratada nos dois volumes. A narrativa de como ele vai ao fundo do poço com a carreira arruinada próximo aos 40 anos de idade para emergir com força total no ano de 1953 é um primor. Sua careca, seus olhos azuis, sua estatura baixa e sua voz marcariam o Século XX como nenhum outro.
NO FUNDO DO POÇO – Histórias saborosas, dolorosas, criativas, de amizades, de fúria e solidão tinham parcerias com ele. Ao final da primeira fase de sua vida, comecinho do ano de 1950 um comentário maldoso, uma piada de mal gosto sobre a amante do Samuel B. de Mayer, um dos quatro fundadores da Metro, levou-lhe o último emprego e trouxe-lhe a rua. Seria o fim. Todos acreditaram. O que levou seu agente Irwin Lazar a dizer: “Ele morreu. Acabou. Nem Jesus Cristo conseguiria ressuscitá-lo nesta idade”.
Sinatra estava próximo aos 40 anos de idade. Claro que ele não pensava assim. E só ele mesmo foi capaz de reergue-se.

12 de dezembro de 2017
Hildeberto Aleluia

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