quinta-feira, 17 de setembro de 2015

RACIONAIS, FRIOS E DIGITAIS, ESTAMOS FALINDO AFETIVAMENTE


Nestes loucos tempos, de invasão de descamisados na rica Europa, de guerra santa destruindo países e sociedades, da China virando bolha, peço um tempo para falar de algo que todos sentem, mas não sabem lidar: a falência das emoções e sentimentos.
E por que falar sobre esse tema? Talvez inspirado na absoluta indiferença que vínhamos apresentando, em meio a massacres, mortes, atentados, até que uma criança de três anos afogada solitária no mar das tragédias humanas teve sua imagem partilhada pelo mundo afora, levando a uma epidemia de solidariedade, compaixão, empatia. Aleluia!
Ainda somos humanos, resta a esperança de que em algum lugar dos nossos arquivos cerebrais podemos encontrar sentimentos positivos, ter comunhão de almas, entender que nosso planeta é uma comunidade interligada e composta por semelhantes, pessoas como nós, que sofrem com suas tristezas, angústias, medos, inseguranças, ciúmes, assim como se emocionam com as conquistas, se alegram com os bons momentos. 
Não importa, idade, sexo, raça, religiosidade, somos todos povoados pelos mesmos elementos universais que formam o corpo, cérebro, mente e alma.
FRIOS E DIGITAIS
Desgraçadamente, vamos acelerando nossos pensamentos, nos tornando racionais, frios, digitais. A lógica, o raciocínio, a mecanização de nossas vidas, hipnotizados pelas telas, viciados em eletrônicos, vai dia a dia atrofiando nossa afetividade.

Cadê o colo para o filho pré-adolescente, o tempo ao ar livre para curtir com os filhos? O beijo apaixonado entre marido e mulher? Onde está a paciência no trânsito, a colaboração e paz no ambiente de trabalho? As reuniões de domingo entre família sem o uso de smartphones, iPads e coisas que o valham? E o diálogo franco, os casos engraçados rolando nos almoços familiares?
Se o nosso cotidiano é o “saco” de ter que ir a aula ou ao trabalho, como pretender ter um ambiente positivo, leve, prazeroso, em que passamos grande parte do nosso tempo? Ao contrário, tudo é estressante, pesado, cheio de tribos se digladiando.

Ao final do dia, voltar para casa e se deparar com a mudez, mau humor, indiferença entre membros da família. Por isso, não é de se estranhar que depressão, pânicos, fobias, ansiedade generalizada (aquela que dá diversos sintomas físicos com exames normais) entre outras desordens mentais que hoje são epidêmicas, nada mais sejam que a falência do sistema límbico, o setor no cérebro que administra nossas emoções e estresse.
SOFRENDO POR ANTECIPAÇÃO
De tanto pensar acelerado, de tanto nos preocuparmos sem necessidade, sofrermos por antecipação, falimos nossa capacidade de sentir, de ter uma afetividade positiva. Temos o mundo na palma da mão, no celular que nos aplica um modo de vida cheio de modas e artifícios. 
No entanto, nunca vi tanta gente carente de amor, carinho, atenção. Falta tempo pro cafuné, para deitar no colo, chorar no ombro amigo. 

O saldo é um clima de fim de festa, sensação de estranheza, como se estivéssemos próximo de uma catástrofe mundial (alguns sinais são claros, povoam os noticiários diariamente).
Dito tudo isso, deixo a dica enquanto é tempo: por que não pensar em investir no aprendizado sobre o comportamento e relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho, nas escolas, nas famílias? Somos o que há de mais nobre e divino. 
E, no entanto, viramos números e estatísticas, cada vez mais catastróficas.

17 de setembro de 2015
Eduardo Aquino
O Tempo

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